- na Audiência-Geral, na Praça de São
Pedro, Roma, no dia 19 de Dezembro
Queridos
irmãos e irmãs, bom dia!
Daqui
a seis dias será Natal. As árvores, as decorações e as luzes, por toda a parte,
recordam que também este ano haverá festa. A máquina publicitária convida a
trocar presentes, sempre novos para fazer surpresas. Mas, eu pergunto-me: é
esta a festa que agrada a Deus? Qual o Natal que Ele quer, que presentes, que
surpresas?
Olhemos
para o primeiro Natal da história para descobrir os gostos de Deus. O primeiro
Natal da história foi cheio de surpresas. Começa com Maria, que era esposa
prometida de José: chega o anjo e muda-lhe a vida. Sendo virgem, será mãe.
Continua com José, chamado a ser pai de um filho sem o ter gerado. Um filho que
chega no momento menos indicado, isso é, quando Maria e José eram esposos
prometidos e, segundo a Lei, não podiam coabitar. Perante o escândalo, o bom
senso do tempo convidada José a repudiar Maria e salvar o seu bom nome; mas
ele, apesar de ter esse direito, surpreende: para não prejudicar Maria, pensa repudiá-la,
mesmo perdendo a sua reputação. Depois, uma outra surpresa: Deus, em sonhos,
altera-lhe os seus planos e pede-lhe para receber Maria em sua casa. Nascido
Jesus, quando tinha os seus projectos para a família, ainda em sonhos, é-lhe
dito para se levantar e ir para o Egipto. Em resumo: o Natal leva a inesperadas
mudanças de vida. E, se queremos viver o Natal, devemos abrir o coração e estar
dispostos às surpresas, isso é, a uma inesperada mudança de vida.
Mas,
é na noite de Natal que chega a maior surpresa: o Altíssimo é um pequeno menino.
A Palavra divina é um ‘infante’ que, literalmente significa “incapaz de falar”.
E a palavra divina torna-se “incapaz de falar”. A acolher o Salvador não estão as
autoridades do tempo, do lugar ou os embaixadores. Não!... São os humildes
pastores que, surpreendidos pelos anjos enquanto trabalhavam de noite, acorrem
sem demora. Quem esperaria isto? Natal é celebrar a originalidade de Deus, ou
melhor, é celebrar um Deus surpreendente, que derruba as nossas lógicas e as
nossas expectativas.
Fazer
Natal, então, é acolher, na terra, as surpresas do Céu. Não se pode viver
“terra-a-terra”, quando o Céu trouxe as suas novidades ao mundo. O Natal
inaugura uma época nova, onde a vida não se programa, mas se doa; onde não se
vive mais para si mesmo, com base nos próprios gostos, mas para Deus; e com
Deus, porque a partir do Natal, Deus é ‘Deus connosco’, que vive connosco, que
caminha connosco. Viver o Natal é deixar-se abanar pela sua surpreendente
novidade. O Natal de Jesus não oferece o calor reconfortante da lareira, mas o
arrepio divino que sacode a história. Natal é a desforra da humildade sobre a
arrogância, da simplicidade sobre a abundância, do silêncio sobre a balbúrdia,
da oração sobre “o meu tempo”, de Deus sobre o meu eu.
Fazer
Natal é fazer como Jesus - que veio para nós, necessitados - e ir ao encontro
de quem precisa de nós. É fazer como Maria: fiar-se, dóceis a Deus, mesmo sem compreender
o que Ele fará. Fazer Natal é fazer como José: levantar-se para realizar o que
Deus quer, mesmo se não está de acordo com os nossos planos. São José é
surpreendente: no Evangelho, nunca fala; não há uma única palavra de José, no
Evangelho; e o Senhor fala-lhe no silêncio; fala-lhe, precisamente, no sono. O Natal
é preferir a voz silenciosa de Deus, aos rumores do consumismo. Se soubermos
estar em silêncio diante do presépio, o Natal será, também para nós, uma
surpresa, não uma coisa já vista. Estar em silêncio diante do presépio: este é
o convite, para o Natal. Tira um pouco de tempo; vai diante do presépio e fica
em silêncio. E ouvirás, verás a surpresa.
Infelizmente,
porém, pode errar-se a festa, e preferir as coisas usuais da terra às novidades
do céu. Se o Natal for somente uma bela festa tradicional - onde, no centro,
estamos nós e não Ele - será uma ocasião perdida. Por favor, não mundanizemos o
Natal! Não coloquemos de lado o Festejado, como quando “veio para os seus e os
seus não o acolheram” (Jo 1, 11). Desde o primeiro Evangelho do Advento, o
Senhor chamou a nossa atenção, pedindo para não nos sobrecarregarmos com
“dissipações” e “preocupações da vida” (Lc 21, 34). Nestes dias, corre-se muito,
talvez como nunca durante o ano. Mas, assim, faz-se o oposto daquilo que Jesus
quer. Atiramos as culpas para as muitas coisas que enchem os dias, no mundo que
corre veloz. Porém, Jesus não culpou o mundo, mas pediu para não nos deixarmos
arrastar; para estarmos vigilantes na oração, em todo o momento. (cfr v. 36).
Bem!...
Será Natal se, como José, dermos espaço ao silêncio; se, como Maria, dissermos
“eis-me aqui” a Deus; se, como Jesus, estivermos próximos dos que estão sozinhos;
se, como os pastores, sairmos das nossas cercas para estar com Jesus. Será
Natal se encontrarmos a luz na pobre gruta de Belém. Não será Natal se
procurarmos o clarão cintilante do mundo; se nos enchermos de presentes,
almoços e jantares, mas não ajudarmos pelo menos um pobre, que se assemelha a
Deus porque, no Natal, Deus veio pobre.
Queridos
irmãos e irmãs, desejo-vos um bom Natal; um Natal rico das surpresas de Jesus!
Podem parecer surpresas incómodas, mas são os gostos de Deus. Se as abraçarmos,
faremos a nós mesmos uma esplêndida surpresa. Cada um de nós tem escondida no
coração a capacidade de se surpreender. Deixemo-nos surpreender por Jesus neste
Natal. (cf. Santa Sé)