- MENSAGEM DO SANTO PADRE FRANCISCO PARA A CELEBRAÇÃO DO DIA MUNDIAL DA
PAZ: 1º DE JANEIRO DE 2019
«A BOA POLÍTICA ESTÁ AO SERVIÇO DA PAZ»
[continuação]
3. Caridade e virtudes humanas
para uma política ao serviço dos direitos humanos e da paz
O Papa Bento XVI recordava que
«todo o cristão é chamado a esta caridade, conforme a sua vocação e segundo as
possibilidades que tem de incidência na pólis. (…) Quando o empenho pelo bem
comum é animado pela caridade, tem uma valência superior à do empenho
simplesmente secular e político. (…) A acção do homem sobre a terra, quando é
inspirada e sustentada pela caridade, contribui para a edificação daquela
cidade universal de Deus que é a meta para onde caminha a história da família
humana». Trata-se de um programa no qual se podem reconhecer todos os
políticos, de qualquer afiliação cultural ou religiosa, que desejam trabalhar
juntos para o bem da família humana, praticando as virtudes humanas que
subjazem a uma boa acção política: a justiça, a equidade, o respeito mútuo, a
sinceridade, a honestidade, a fidelidade.
A propósito, vale a pena recordar
as «bem-aventuranças do político», propostas por uma testemunha fiel do
Evangelho, o Cardeal vietnamita Francisco Xavier Nguyen Van Thuan, falecido em
2002:
Bem-aventurado o político que tem
uma alta noção e uma profunda consciência do seu papel.
Bem-aventurado o político de cuja
pessoa irradia a credibilidade.
Bem-aventurado o político que
trabalha para o bem comum e não para os próprios interesses.
Bem-aventurado o político que
permanece fielmente coerente.
Bem-aventurado o político que
realiza a unidade.
Bem-aventurado o político que
está comprometido na realização duma mudança radical.
Bem-aventurado o político que
sabe escutar.
Bem-aventurado o político que não
tem medo.
Cada renovação nos cargos electivos,
cada período eleitoral, cada etapa da vida pública constitui uma oportunidade
para voltar à fonte e às referências que inspiram a justiça e o direito. Duma
coisa temos a certeza: a boa política está ao serviço da paz; respeita e
promove os direitos humanos fundamentais, que são igualmente deveres
recíprocos, para que se teça um vínculo de confiança e gratidão entre as gerações
do presente e as futuras.
4. Os vícios da política
A par das virtudes, não faltam,
infelizmente, os vícios, mesmo na política, devidos quer à inépcia pessoal,
quer às distorções no meio ambiente e nas instituições. Para todos, está claro
que os vícios da vida política tiram credibilidade aos sistemas dentro dos
quais ela se realiza, bem como à autoridade, às decisões e à acção das pessoas
que se lhe dedicam. Estes vícios, que enfraquecem o ideal duma vida democrática
autêntica, são a vergonha da vida pública e colocam em perigo a paz social: a
corrupção – nas suas múltiplas formas de apropriação indevida dos bens públicos
ou de instrumentalização das pessoas –, a negação do direito, a falta de
respeito pelas regras comunitárias, o enriquecimento ilícito, a justificação do
poder pela força ou com o pretexto arbitrário da «razão de Estado», a tendência
a perpetuar-se no poder, a xenofobia e o racismo, a recusa a cuidar da Terra, a
exploração ilimitada dos recursos naturais em razão do lucro imediato, o
desprezo daqueles que foram forçados ao exílio. [continua…]