PALAVRA COM SENTIDO

PALAVRA COM SENTIDO “… O Senhor Jesus foi elevado ao Céu e sentou-Se à direita de Deus …" (cf. Marcos 16, 19) “… Hoje, celebra-se a solenidade da Ascensão do Senhor. Esta festa inclui dois elementos. Por um lado, orienta o nosso olhar para o céu, onde Jesus glorificado está sentado à direita de Deus. Por outro, recorda-nos o início da missão da Igreja: porquê? Porque Jesus ressuscitado e elevado ao céu envia os seus discípulos a difundir o Evangelho por todo o mundo. Portanto, a Ascensão exorta-nos a elevar o olhar para o céu, para o dirigir logo a seguir para a terra, cumprindo as tarefas que o Senhor ressuscitado nos confia. Eis o que nos convida a fazer a página evangélica hodierna, na qual o evento da Ascensão vem imediatamente depois da missão que Jesus confia aos discípulos. Trata-se de uma missão incomensurável — ou seja, literalmente sem confins — que supera as forças humanas. Com efeito, Jesus diz: «Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a todas as criaturas» Parece deveras demasiado audaz a missão que Jesus confia a um pequeno grupo de homens simples e sem grandes capacidades intelectuais! Contudo, esta restrita companhia, irrelevante diante das grandes potências do mundo, é enviada para levar a mensagem de amor e de misericórdia de Jesus a todos os recantos da terra. Mas, este projeto de Deus só pode ser realizado com a força que o próprio Deus concede aos Apóstolos. Neste sentido, Jesus garante-lhes que a sua missão será apoiada pelo Espírito Santo. Diz: «descerá sobre vós o Espírito Santo e vos dará força; e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria e até aos confins do mundo» (Act 1, 8). Por conseguinte, foi possível realizar esta missão, e os Apóstolos deram início a esta obra, que depois foi continuada pelos seus sucessores. A missão confiada por Jesus aos Apóstolos prosseguiu através dos séculos, e prossegue ainda hoje: ela exige a colaboração de todos nós. Com efeito, cada um de nós, em virtude do Baptismo que recebeu, está habilitado, por sua vez, a anunciar o Evangelho. É precisamente o baptismo que habilita e também nos impele a ser missionários: os que anunciam o Evangelho. A Ascensão do Senhor ao céu, ao mesmo tempo que inaugura uma nova forma de presença de Jesus no meio de nós, pede-nos para ter olhos e coração para O encontrar; para O servir; e para O testemunhar aos outros. Trata-se de ser homens e mulheres da Ascensão, ou seja, buscadores de Cristo pelas sendas do nosso tempo, levando a Sua palavra de salvação até aos confins da terra. Neste itinerário, encontramos o próprio Jesus nos irmãos, sobretudo nos mais pobres; nos que sofrem, na própria carne, a dura e mortificadora experiência de antigas e novas pobrezas. Assim, como inicialmente Cristo Ressuscitado enviou os seus apóstolos com a força do Espírito Santo, também, hoje, Ele nos envia, com a mesma força para dar sinais concretos e visíveis de esperança. Porque Jesus, que nos dá a esperança, foi elevado ao céu, abriu as portas do céu e a esperança que nós para lá iremos. A Virgem Maria que, como Mãe do Senhor morto e ressuscitado, animou a fé da primeira comunidade dos discípulos, nos ajude também a manter «elevados os nossos corações», como a Liturgia nos exorta a fazer. E, ao mesmo tempo, nos ajude a ter “os pés no chão”, e a semear com coragem o Evangelho nas situações concretas da vida e da história…” (Papa Francisco, 13 de Maio de 2018)

segunda-feira, 22 de abril de 2019

PALAVRA DO PAPA FRANCISCO



- na Audiência-Geral, na Praça de São Pedro, Roma, no dia 17 de Abril de 2019

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Nestas últimas semanas andamos a reflectir sobre a oração do “Pai-Nosso”. Hoje, nas vésperas do Tríduo Pascal, vamos deter-nos em algumas palavras com as quais Jesus, durante a sua Paixão, rezou ao Pai.
A primeira invocação acontece depois da Última Ceia, quando o Senhor, «levantando os olhos ao Céu exclamou: “Pai, chegou a hora! Manifesta a glória do teu Filho, de modo que o Filho manifeste a tua glória… E, agora, Tu, ó Pai, manifesta a minha glória junto de ti, aquela Glória que eu tinha junto de ti, antes de o mundo existir” (cf. João 17, 1.5). Jesus pede a glória, um pedido que parece paradoxal, já que a Paixão está às portas. De que glória se trata? A glória, na Bíblia, indica o revelar-se de Deus; é o sinal distintivo da sua presença salvadora entre os homens. Ora, Jesus é aquele que manifesta, de modo definitivo, a presença e a salvação de Deus. E fá-lo na Páscoa: levantado na Cruz, é glorificado (João 12, 23-33). Ali, Deus revela, finalmente, a sua glória: rompe o último véu e surpreende-nos ainda mais. De facto, descobrimos que a glória de Deus é toda Amor: amor puro, louco e impensável, muito além de qualquer limite e medida.
Irmãos e irmãs, façamos nossa a oração de Jesus: peçamos ao Pai que tire o véu dos nossos olhos para que, nestes dias, olhando para o Crucificado, possamos perceber melhor que Deus é Amor. Quantas vezes, imaginamo-l’O patrão e não Pai; quantas vezes, pensamo-l’O juiz severo, muito mais do que Salvador misericordioso! Mas, Deus, na Páscoa, encurta as distâncias e mostra-se na humildade de um amor que pede o nosso amor. Por isso, damos-Lhe glória quando vivemos tudo o que fazemos com amor; quando fazemos cada coisa de coração, como sendo feita a Ele (cf. Col 3, 17). A verdadeira glória é a do amor, porque é a única que dá vida ao mundo. Sim, esta glória é o contrário da glória mundana, que vem quando se é admirado, louvado, aclamado: quando estou no centro das atenções. A glória de Deus, pelo contrário, é paradoxal: nada de aplausos, nada de audiências. No centro não está o “eu”, mas o “outro”: na Páscoa, de facto, vemos que o Pai glorifica o Filho ao mesmo tempo que o Filho glorifica o Pai. Nenhum se glorifica a si mesmo. Podemos perguntar-nos: “Qual é a glória pela qual vivo? A minha ou a de Deus? Desejo, apenas, receber dos outros ou também dou aos outros?”
Depois da Última Ceia, Jesus entra no jardim do Getsémani; também aqui, reza ao Pai. No momento em que os discípulos não conseguem estar acordados e Judas está a chegar com os soldados, Jesus começa a sentir ‘medo e angústia’. Sente toda a angústia daquilo que o espera: traição, desprezo, sofrimento, queda. Está ‘triste’ e ali - no abismo, naquela desolação - dirige ao Pai a palavra mais terna e doce: “Abba”, Papá! (cf. Mc. 14, 33-36). Na provação, Jesus ensina-nos a abraçar o Pai porque, na oração ao Pai, está a força para seguir em frente nas dores. No cansaço, a oração é alívio, confiança, conforto. Abandonado por todos, na desolação interior, Jesus não está só; está com o Pai. Nós, pelo contrário, nos nossos ‘Getsémani’ escolhemos, muitas vezes, permanecer sozinhos, ao invés de dizer “Pai” e confiarmo-nos a Ele, como Jesus; confiarmo-nos à sua vontade, que é o nosso verdadeiro bem. Mas, quando nas provações permanecemos fechados em nós mesmos, cavamos um túnel dentro de nós, um doloroso percurso introvertido, que tem uma única direcção: sempre mais fundo em nós mesmos. O maior problema não é a dor, mas como a enfrentamos. A solidão não oferece caminhos de saída; a oração sim, porque é relação, é confiança. Jesus confia tudo e todo se confia ao Pai, entregando-lhe tudo o que sente, apoiando-se n’Ele, na luta. Quando entrarmos nos nossos ‘Getsémani’ – cada um de nós tem o seu Getsémani, já o teve ou tê-lo-á – recordemos isto: quando entramos, quando entrarmos no nosso Getsémani, lembremo-nos de rezar assim: “Pai”.
Por fim, Jesus dirige ao Pai uma terceira oração por nós: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (cf. Lc. 23, 34). Jesus reza por quem foi malvado com Ele, pelos seus assassinos. O evangelho específica que esta oração aconteceu no momento da crucifixão. Era, provavelmente, o momento da dor mais aguda, quando os pregos entraram nos seus pulsos e nos seus pés. Aqui, no auge da dor, o amor atinge o seu ponto mais alto: chega o perdão, ou seja, o dom, elevado à enésima potência, que desfaz o círculo do mal.
Caros irmãos e irmãs, ao rezarmos, nestes dias, o Pai-Nosso peçamos uma destas graças: a de viver os nossos dias para a Glória de Deus, ou seja, viver com amor; a de saber confiar-nos ao Pai, nos momentos difíceis; a de chamar ‘Papá’ ao Pai; e a de encontrar, no encontro com o Pai, o perdão e a coragem de perdoar. Estas duas coisas andam juntas. O Pai perdoa-nos, mas dá-nos a coragem para poder perdoar. (cf. Santa Sé)