BEATA ANA
HELENA CHRZANOWSKA
Ana Helena Chrzanowska
nasceu no dia 7 de Outubro de 1902, em Varsóvia, Polónia. O seu pai, Inácio
Chrzanowski, professava a fé católica; era professor universitário, leccionando
literatura polaca, e era oriundo de uma família de ricos proprietários de
terras. A sua mãe, Wanda Szlenker, era filha de industriais de origem protestante.
Uma irmã da sua mãe, Sofia Szlenker, tinha fundado um hospital pediátrico, em
Varsóvia, e foi directora da Escola de Enfermagem de Varsóvia.
Ana foi baptizada na
igreja paroquial de Santo Adalberto, em Wazownia, a residência de verão dos
seus avós maternos. Antes dela, os seus pais tiveram outro filho, Bohdan.
Em 1910, a família
mudou-se para Cracóvia porque o seu pai tinha obtido a cadeira de História da
Literatura, na Universidade Jaguelónica. Ana começou a estudar numa pequena
escola particular, gerida por Stanisława Okołowiczowa, na Rua Pańska. De 1917 a
1920, frequentou o colégio das Irmãs Ursulinas, onde se formou com a
classificação máxima.
Assim que terminou os
seus estudos, Ana matriculou-se num curso da Cruz Vermelha para tratar das
vítimas da guerra entre a Polónia e a Rússia. Ali conheceu Stella Tylska, uma
enfermeira americana. Procurando contribuir para o esforço de guerra, Ana
recolhia roupas e alimentos entre os habitantes de Cracóvia. O seu trabalho de
enfermagem tornou-se mais empenhativo quando foi nomeada para uma unidade de
cirurgia.
Em Dezembro de 1920, matriculou-se
na Faculdade de Filosofia da Universidade Jaguelónica. No entanto, deixou a
universidade assim que soube que, em Varsóvia, tinha sido criada uma nova escola
de enfermagem, liderada pela americana Helen Bridge. Concluiu o curso em Junho
de 1924: imediatamente depois, obteve bolsas de estudos que a levaram para a
França e a Bélgica.
De 1926 a 1929 foi professora
no Instituto Universitário de Enfermagem, em Cracóvia. De 1929 a 1939, tendo
regressado a Varsóvia, colaborou com a revista mensal "Pielȩgniarka
Polska" ("A Enfermeira Polaca"), a primeira revista profissional
de enfermeiros, na Polónia: traduzia artigos de jornais estrangeiros, mas
também escrevia artigos de sua autoria, ou em colaboração com outros autores.
De 1931 a 1933 foi
vice-directora da Escola de Enfermagem de Varsóvia. Em 1935, colaborou na
preparação da lei que passou a regular a actividade das enfermeiras, na Polónia.
Três anos mais tarde, juntamente com Teresa Kulczyńska, escreveu o manual
«Zabiegi Pielȩgniarskie» («Técnicas de Enfermagem»), que foi reeditado várias
vezes.
Para além desta
atividade, continuou a dedicar-se à escrita literária. Sob o pseudónimo de
Agnieszka Osiecka, publicou, em 1934, o romance "Niebieski Klucz"
("A Chave do Paraíso"), e, em 1938, publicou outro romance,
"Krzyż na piasku" ("Uma cruz na areia"). Ainda em 1938,
publicou alguns dos seus poemas, na revista literária "Myśl Narodowa"
(“Pensamento Nacional”)
O deflagrar da Segunda
Guerra Mundial provocou, em Ana, numerosos sofrimentos. No dia 2 de Outubro de
1939, durante a Batalha de Varsóvia, a sua tia, Sofia, morreu. Em 6 de Novembro,
o seu pai foi preso, durante a “Sonderaktion Krakau” (acção militar especial em
Cracóvia), com a qual o exército alemão pretendia exterminar os intelectuais
polacos. Juntamente com outros professores da Universidade Jaguelónica e de outras
universidades, o professor Inácio Chrzanowski foi deportado para o campo de
concentração de Sachsenhausen, onde morreu pouco tempo depois, em Janeiro de
1940. Na primavera de 1940, o seu irmão Bohdan, feito prisioneiro de guerra pelas
tropas soviéticas, foi morto, nos bosques de Katyń.
Contudo, apesar destas
provações, Ana não perdeu a esperança e não se fechou em si mesma.
No início da guerra,
tinha já voltado para Cracóvia e ofereceu-se como voluntária para dedicar todas
as suas habilidades à assistência dos refugiados, prisioneiros e pessoas sem-abrigo.
Assumiu especial cuidado
no acolhimento de crianças órfãs, mesmo as crianças judias: procurou encontrar
as famílias de acolhimento e refúgios seguros. Para levantar a moral dos mais
jovens, organizou acampamentos de verão fora de Cracóvia e promoveu bancos
alimentares para crianças que morriam de fome. O seu trabalho foi incansável,
com o risco da sua própria vida e da sua saúde.
Para Ana, o tempo da
guerra foi necessário para descobrir a presença de Deus na sua vida:
intensificou a oração pessoal e redescobriu o significado da Eucaristia. Assim,
a sua actividade filantrópica tornou-se, ainda mais, penetrada por uma genuína
caridade cristã.
Terminado o conflito,
voltou ao trabalho na Escola de Enfermagem de Cracóvia, como chefe do
departamento de enfermagem da comunidade. Em 1946, foi enviada para os Estados
Unidos: graças a uma bolsa de estudos concedida pela UNRRA (Administração das
Nações Unidas para Assistência e Reabilitação), dedicou-se a aprofundar a
enfermagem, em apoio domiciliário.
Através do Ministério da
Saúde, de 1947 a 1949, deu palestras sobre a enfermagem comunitária, no âmbito da
formação permanente de enfermeiros qualificados. Ao mesmo tempo, até 1950, ensinou
técnicas de enfermagem comunitária, em Varsóvia.
Nas suas lições, sempre sublinhou
a importância da formação dos jovens enfermeiros para o exercício da enfermagem
num autêntico espírito de serviço aos doentes. Convidava-os a tratar os
pacientes com dignidade e advertia-os para estarem atentos não só à sua saúde
física, mas também às suas necessidades espirituais.
Entre os escritos de Ana,
foi encontrado um esquema para o exame de consciência, destinado aos
enfermeiros. Dividido em cinco seções, apresenta uma série de questões que vão
desde o relacionamento com os colegas e com os médicos, até ao relacionamento
com os capelães dos hospitais; desde a maneira de considerar uma vida nascente
em risco, até ao modo de tratar os descartados da sociedade. Tudo isto sem descurar
a oração, a frequência dos Sacramentos e a união com Deus mesmo no local de
trabalho.
O Artigo 2 da Secção I
constitui o programa de vida que Ana sempre procurou viver: «O meu trabalho não
é só a minha profissão, mas também a minha vocação. Compreenderei esta vocação
se compreender e assimilar as palavras de Cristo: "Não vim para ser
servido, mas para servir".
A partir de 1951, Ana
começou a frequentar a Abadia Beneditina de Tyniec, nos arredores da cidade de
Cracóvia. Neste mesmo ano, foi nomeada vice-directora da Escola de Enfermagem
de Cracóvia. Quatro anos depois, iniciou uma série de conferências sobre
questões religiosas e começou a orientar retiros espirituais para enfermeiras.
Em 1957, depois de vinte
anos de trabalho, fundou a Associação das Enfermeiras Polacas.
Participou, activamente,
na associação enquanto directora da secção História da Enfermagem, em Cracóvia.
No mesmo ano, tornou-se Oblata beneditina da abadia de Tyniec.
Também em 1957, Ana foi
demitida da Escola de Enfermagem. Foi-lhe oferecido o cargo de directora da
Escola de Enfermagem Psiquiátrica, de Kobierzyn mas, um ano depois, a Escola
foi fechada. Por isso, teve de aposentar-se mais cedo, com a reforma de um
professor.
Incapaz de ficar parada,
procurou uma nova maneira de usar os seus conhecimentos colocando-os ao serviço
dos doentes. A sua experiência levou-a, com a ajuda da espiritualidade
beneditina, a ver, em cada um dos doentes, a face do Jesus sofredor. Além
disso, estava convencida de que muitas pessoas, em Cracóvia, estavam sozinhas,
abandonadas, idosas, incapacitadas ou afectadas por doenças crónicas. O sistema
de saúde do regime socialista parecia-lhe ineficaz para todos estes doentes.
Então, decidiu organizar
um sistema de assistência domiciliária, feita por profissional, apoiando-se nas
estruturas da Igreja. Foi falar com o padre Karol Wojtyła, vice-pároco da
Paróquia de São Floriano, para pedir os seus conselhos e sugestões.
O futuro arcebispo de
Cracóvia, mais tarde Cardeal, Papa - com o nome de João Paulo II - e Santo,
encaminhou-a para que falasse com o padre Fernando Machay, arcipreste da
Basílica da Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria, na cidade velha, que lhe
deu aprovação para que este serviço fosse implantado na sua paróquia. Com o
apoio das autoridades eclesiásticas, Ana organizou o serviço de enfermagem
paroquial, não só na cidade de Cracóvia, mas em toda a diocese.
Os voluntários pertenciam a todas as classes sociais e estados de vida: enfermeiras, freiras, padres, seminaristas, médicos, professores e estudantes. Com a sua ajuda, Ana organizou férias e retiros para os doentes, para ajudá-los a redescobrir as alegrias da vida e lhes dar a força para levar a sua cruz, todos os dias.
Os voluntários pertenciam a todas as classes sociais e estados de vida: enfermeiras, freiras, padres, seminaristas, médicos, professores e estudantes. Com a sua ajuda, Ana organizou férias e retiros para os doentes, para ajudá-los a redescobrir as alegrias da vida e lhes dar a força para levar a sua cruz, todos os dias.
Ana ia à missa todos os
dias, porque acreditava que até as pessoas acamadas precisavam de receber essa
graça. Incentivou os sacerdotes a celebrarem a Missa nas casas dos doentes.
Isto tornou-se uma coisa habitual, assim como a visita periódica dos párocos. Continuou
a formar voluntários, com as suas palestras, nas quais explicava os princípios
do cuidar, também do ponto de vista espiritual.
O trabalho de Ana foi reconhecido publicamente, tendo
recebido várias condecorações e títulos de honra. Em
1957, recebeu um prémio, dado pelo governo polaco, pelo seu trabalho no Serviço
de Saúde. Em 21 de Dezembro de 1965, recebeu a cruz "Pro Ecclesia et
Pontifice", atribuída pelo Papa Paulo VI, graças à mediação do monsenhor
Wojtyła. Em 17 de Dezembro de 1971, recebeu do governo a Cruz dos Oficiais da
Ordem da Polónia Renascida. [ou Ordem da Polónia Restituta: é uma das mais altas condecorações da Polónia. A
Ordem pode ser outorgada por grandes realizações no campo da educação, desporto,
ciência, cultura, arte, economia, defesa nacional, serviço social, serviço
civil ou por estabelecer e consolidar boas realizações com países estrangeiros.
Foi criada pelo Parlamento polaco em 4 de Fevereiro de 1921, e pode
ser outorgada tanto a civis, militares ou estrangeiros.]
Em 1963, foi-lhe
diagnosticado um cancro. Três anos depois, foi submetida a tratamento cirúrgico
e radiológico no Departamento de Ginecologia do Hospital Universitário de
Cracóvia.
Ana faleceu, em Cracóvia,
no dia 29 de Abril de 1973, Segundo Domingo da Páscoa. O cardeal Wojtyła presidiu ao seu funeral. Na homilia,
o Cardeal de Cracóvia disse: "Ana, nós te agradecemos porque estiveste
entre nós com tua imensa simplicidade, com esta paz interior e com este calor interior,
uma encarnação das bem-aventuranças de Cristo do Sermão da Montanha, especialmente
daquela que diz: "Bem-aventurados os misericordiosos"».
Os seus restos mortais
foram enterrados no cemitério de Rakowiecki.
Ana Helena Chrzanowska foi beatificada, no dia
28 de Abril de 2018, pelo Papa Francisco. A celebração realizou-se no Santuário
da Divina Misericórdia, em Cracóvia-Lagiewniki e foi presidida pelo Cardeal Ângelo
Amato, em nome do Papa.
A memória litúrgica da
Beata Ana Helena Chrzanowska faz-se no dia 29 de Abril.