BEATO JOSÉ
GERARD
José Gérard nasceu no dia 12 de Março de 1831, em
Bouxières-aux-Chênes, perto de Nancy, França. Foi o primeiro dos cinco filhos
de João Gérard e Úrsula Stoffler, camponeses. A pobreza da família ensinou-o a
viver, com coragem, as dificuldades da terra e da vida. A sua família,
profundamente religiosa, moldou-o com uma sólida educação cristã.
Quando criança, frequentou a escola básica da sua
região, mais tarde dirigida pelas Irmãs da Doutrina Cristã. Era assíduo nas actividades
da paróquia, onde o pároco, o Padre Cayens - um ex-missionário na Argélia – o
preparou para fazer a Primeira Comunhão, falando-lhe, muitas vezes, das suas
experiências missionárias, no norte de África.
José Gérard fez a sua Primeira Comunhão, no dia 2 de
Fevereiro de 1842, aos 11 anos, de acordo com os costumes da época, e este foi
o início de um caminho espiritual que envolveu toda a sua vida.
O seu pároco, profundo conhecedor das almas, sentiu em
José uma predisposição natural para a vocação sacerdotal e começou a
ensinar-lhe as primeiras noções de latim e outros temas escolásticos. Depois,
graças à ajuda de um benfeitor generoso, entrou no Seminário Menor de
Pont-à-Mousson, onde estudou durante cinco anos.
Em 1847, José conheceu os Padres da Congregação dos
Oblatos de Maria Imaculada que, numa visita ao Seminário Menor, partilharam,
com os jovens estudantes, as suas experiências missionárias entre os índios
americanos e do Canadá. O seu testemunho missionário ficou gravado no coração
de José.
Em Outubro de 1849, mudou-se para o Seminário Maior de
Nancy, onde continuou os seus estudos de Filosofia e de Teologia, com zelo e
seriedade. Mas, o seu coração amadurecia a possibilidade da vida missionária.
Em Abril de 1851, aos 20 anos, o jovem Gérard deixou o
Seminário diocesano para se tornar Oblato de Maria Imaculada.
No dia 9 de Maio de 1851, depois de se despedir da sua
família e da sua terra natal, José Gérard entrou no Noviciado dos Oblatos de
Maria Imaculada, em Notre-Dame de l'Osier, perto de Grenoble. A sua modéstia, a
sua piedade extraordinária, a sua mortificação voluntária, a sua bondade e
alegria associadas ao seu espírito de oração intensa, atraíram a atenção dos
seus professores e companheiros, particularmente do mestre de noviços, que
dizia dele: "É impressionante como a graça conduz este jovem; basta vê-lo
na igreja para sentir que está orientado para Deus".
No final do tempo de noviciado, fez a sua profissão religiosa,
no dia 10 de Maio de 1852. Em seguida, foi enviado para Seminário Maior de
Marselha para completar os estudos de Teologia.
Mas, a jovem Congregação precisava, urgentemente, de
enviar missionários para as missões do sul da África, que tinham sido confiadas
pela Igreja ao Instituto dos Oblatos. Assim, em 3 de Abril de 1853, José foi
destinado, como diácono, para a missão de Natal, na África do Sul. Partiu em Maio
de 1853, juntamente com o Padre Barret e o Irmão Bernard, deixando a França aos
22 anos, sem nunca mais lá voltar.
A viagem foi uma verdadeira aventura: o navio, deixou
o Mediterrâneo, passando pelo Estreito de Gibraltar; em vez de contornar a
costa África, impulsionado pelos ventos contrários, foi arrastado para o outro
lado do Atlântico e aportou no Rio de Janeiro, Brasil; daqui, embarcando num outro
navio, os três missionários foram levados para as Ilhas Maurício, onde o jovem
Gérard teve oportunidade de se encontrar com o Padre James Desidério Laval (agora
beatificado), missionário muito activo na ilha e cujo exemplo e zelo
influenciarão, grandemente, sua futura actividade missionária de José Gérard.
Depois de vários meses de permanência em Maurício, os
missionários embarcaram novamente e, no dia 21 de Janeiro de 1854, desembarcaram
em Port Natal, no Oceano Índico.
Desde a chegada, o primeiro Vigário Apostólico, Mons.
Francisco Allard, da Congregação dos Oblatos de Maria Imaculada, pôde apreciar
as qualidades do diácono Gérard e, depois de um retiro de preparação, foi
ordenado sacerdote, no 19 de Fevereiro de 1954, em Pietermaritzburg, a capital
do reino Kwazulu-Natal.
Depois de alguns preparativos para aprender inglês e
zulu, o Padre Gérard e o Padre Barrett foram enviados, em Fevereiro de 1855
para fundar a missão São Miguel, a cerca de 50 km ao sul da capital, entre as
tribos Zulu. Mas, o trabalho missionário não teve sucesso.
Então, sete anos mais tarde, no 4 de Setembro de 1860,
D. Eugénio de Mazenod [ nobre francês, Bispo de Marselha, beatificado no dia 19
de Outubro de 1975, pelo Papa Paulo VI, e canonizado no dia 3 de Dezembro de
1995, pelo Papa João Paulo II ] fundador da Congregação dos Missionários
Oblatos de Maria Imaculada, ordenou que deixassem essas tribos Zulu e
penetrassem no continente africano. Embora descontente e desapontado, Mons.
Allard obedeceu e retirou os missionários.
Tendo ouvido falar do Rei Moshoeshoe e do seu povo,
Mons. Allard decidiu ir visitá-lo nas montanhas, no território dos Basotho, levando
consigo o Padre Gerard. Encontraram-se no dia 17 de Fevereiro de 1862. Mons.
Allard pediu ao Rei permissão para fundar uma missão, no seu território. O Rei
Moshoeshoe concedeu a sua autorização e, ele mesmo, escolheu o lugar onde seria
construída a missão. A primeira missão católica, neste reino, foi chamada de
"Aldeia da Mãe de Jesus", um nome que depois foi mudado para
"Roma", porque os protestantes locais referiam-se aos missionários e
fiéis católicos com a expressão "em Roma".
Toda a obra missionária do Padre José Gérard, entre o
povo Basotho, baseava-se essencialmente no amor por eles, antes mesmo da
evangelização. Com paciência, amando os doentes e os idosos, conquistou a sua estima
e confiança.
Quando os ‘boeres’ [são os descendentes dos colonos
calvinistas dos Países Baixos, da Alemanha e da Dinamarca, bem como dos huguenotes
franceses, que se estabeleceram, nos séculos XVII e XVIII, na África do Sul,
cuja colonização disputaram com os britânicos. Desenvolveram uma língua
própria, o africânder, derivada do holandês, com mistura de línguas indígenas
nativas da África] invadiram o reino da tribo Basotho, colocando o rei
Moshoeshoe em dificuldades, o Padre Gerard, sem prestar atenção ao perigo,
resgatou os feridos dos confrontos, cruzando as linhas inimigas sem danos.
Depois de anos de dedicação completa ao Basotho, o Padre
Gérard foi considerado um verdadeiro Basotho.
Aqui, o Padre Gérard construiu, em primeiro lugar, uma
capela; ensinava o catecismo, com o seu método simples, mas adequado ao
espírito daqueles que o ouviam. Mais tarde, para trabalhar na missão, vieram de
França, as Irmãs da Sagrada Família.
Depois de 22 anos de missão na tribo Basotho, o Padre
Gérard deixou a missão de "Roma", para ir fundar uma outra missão, no
norte do país. No dia 15 de Agosto de 1876, pôde inaugurá-la, denominando-a
"Santa Mónica".
Aqui, o Padre José passou vinte anos de duro trabalho
missionário que, infelizmente, durante muitos anos, não deu frutos, provocando
um grande desânimo no Padre Gérard, que pensou não ser mais capaz de tocar os
corações dos pagãos; mas, no final, as conversões aconteceram, em grande número
e o Padre Gérard experimentou imensa alegria, que atenuou a sua dor interior.
Em 1897, voltou à sua primeira missão, a 'Roma', e
continuou a percorrer as aldeias da região, levando a todos a mensagem de
Jesus. O Padre Gérard foi um verdadeiro pioneiro do apostolado católico, no sul
da África, que se tornou a sua segunda casa e onde ele passou três quartos da
sua vida.
Em 1902, o Padre José Gérard celebrou o jubileu de
ouro da sua profissão religiosa.
Nos últimos anos da sua vida, enfraqueceu a sua visão;
a artrite curvou-lhe o corpo, dificultando a sua actividade missionária. Mas,
não perdeu a coragem nem a determinação.
Dois meses antes de morrer, o Padre Gérard teve a
alegria de baptizar e de dar a primeira comunhão ao rei Griffith Lerotholi,
sucessor do rei Moshoeshoe, fundador da nação. Um mês antes da sua morte, o
padre Gerard, de 83 anos, ainda andava, pelas montanhas, a visitar as aldeias e
os seus cristãos.
O Padre José Gérard faleceu no dia 29 de Maio de 1914,
em “Roma”, no Lesoto (actual nome das tribos Basotho, assumido após a
independência, em 1966.
Foi beatificado pelo Papa João Paulo II, no dia 15 de
Setembro de 1988, numa celebração realizada no Hipódromo de Maseru, no âmbito
da sua Viagem Apostólica ao Lesoto.
Na Homilia, o Papa afirmou: “… O padre Gérard ouviu,
de Deus, um chamamento de fé. Como no caso de Abraão, o Senhor disse ao jovem
francês chamado José: "Sai da tua terra; da tua terra e da casa de teu
pai, e vai para a terra que eu te mostrarei" (Gn 12,1). E, ele foi
imediatamente, como o Senhor lhe havia dito. Ele seguiu o chamamento de Deus e
depositou toda a sua confiança na promessa que ouvira, vinda do alto.
A terra que Deus mostrou ao Beato José foi a África e,
mais precisamente, a terra da África do Sul, e depois, anos mais tarde, a terra
do povo Basotho. Ele veio para este país, este reino do Lesoto, porque foi
chamado e enviado para proclamar o Reino de Deus.
Desde tenra idade, José Gérard estava convencido de
que Deus o chamava para ser missionário. O seu coração transbordava de gratidão
pelo dom da fé cristã e ansiava por compartilhar com outros este precioso dom,
esta pérola preciosa, a infinita riqueza do conhecimento de Jesus Cristo. E foi
esse zelo constante pela evangelização que marcou cada momento da sua longa
vida…
Onde quer que o beato Gérard fosse, ele viveu a sua
vocação missionária com excepcional fervor apostólico. O seu amor a Deus, que
sempre ardia no seu coração, manifestou-se em amor concreto pelos outros. Ele é
lembrado, acima de tudo, pela sua preocupação particular com os doentes e os
sofredores. Através das visitas frequentes e da sua amabilidade, parecia trazer,
sempre, nova coragem e esperança. Para aqueles que estavam perto da morte, ele
encontrou as palavras certas para prepará-los para encontrar Deus face-a-face,
em paz.
O segredo da sua santidade e a chave para a sua
alegria e fervor veio do simples facto de que ele sempre viveu na presença de
Deus; toda a sua vida estava centrada no amor à Santíssima Trindade. As pessoas
queriam estar perto do padre Gérard porque ele sempre parecia próximo de Deus,
cheio de espírito de oração, alimentado diariamente pela Liturgia das Horas e
por frequentes visitas ao Santíssimo Sacramento. Tinha uma fervorosa devoção à
Mãe de Deus e aos santos. Durante as suas longas e difíceis caminhadas para
chegar às missões mais distantes ou às casas dos doentes, ele conversava
continuamente com o seu amado Senhor. É, sem dúvida, esta sensação muito viva
de estar sempre em comunhão com Deus, que explica a sua fidelidade aos votos
religiosos de castidade, pobreza e obediência e aos seus deveres como
sacerdote.
Deus abençoou o padre Gérard com uma longa vida de
serviço apostólico. Concedeu-lhe a graça de viver mais de meio século de
evangelização, no Lesoto. O Padre Gérard está, certamente, muito feliz ao
contemplar, do céu, a vitalidade da Igreja neste país, que era para ele tão
querido: os seus bispos são nativos deste lugar; há um número crescente de
vocações ao sacerdócio e à vida religiosa; os leigos activos são mais de
600.000 pessoas, incluindo 140.000 que actualmente estudam em escolas
católicas. Mas, com o seu espírito missionário, ele continua a encorajar-nos,
hoje, a levar por diante, com renovado entusiasmo, a tarefa complexa de proclamar
o Evangelho de Cristo.”
A memória litúrgica do Beato José Gérard celebra-se no
dia 29 de Maio.