SANTA JOANA
DA CRUZ
Joana Delanou nasceu em
Saumur, nas margens do Rio Loire, França, no dia 18 de Junho de 1666. Foi a
última dos doze filhos de Pedro Delanoue e de Francisca Hureau. Os seus pais
tinham uma pequena loja de artigos religiosos e de recordações, perto do Santuário
de Nossa Senhora de Ardilliers. O pai faleceu quando Joana tinha apenas seis
anos de idade e, apesar da sua pouca idade, ela foi capaz de ajudar a sua mãe
no trabalho, para poder sustentar toda a sua família. Tinha qualidades
notáveis: habilidosa, activa, incansável, a ponto de manter o armazém aberto
até aos domingos e feriados.
Joana era conhecida como tendo muito jeito para os negócios.
Poderíamos, por isso, pensar que o seu sonho fosse
expandir o seu negócio e torná-lo mais próspero. Porém, aos vinte e sete anos,
no dia de Pentecostes, ela recebeu um convite inesperado de uma velha e fiel
peregrina do Santuário de Nossa Senhora de Ardilliers: Francisca Souchet
desafiou-a a dedicar-se aos pobres, tão numerosos naquela região. Joana começou
a experimentar uma grande familiaridade mística com a Virgem Maria, seguindo o
exemplo do jovem Luís Grignion de Montfort (São Luís de Montfort) que a
iluminou e encorajou nesse caminho de espiritualidade.
No início do séc. XVII, Saumur,
a sua cidade natal, foi marcada por grandes dificuldades materiais e sociais - ainda
mais graves para as mulheres – por causa das más colheitas e dos invernos muito
rigorosos. Aquela que era conhecida como uma comerciante prudente e
interessada, de repente tornou-se "muito generosa em caridade",
quando o Espírito Santo, extinguindo "o fogo da sua avareza", a fez
compreender que a sua fé ardente também exigia "o fogo da caridade".
Embora as suas
responsabilidades no trabalho aumentassem devido à morte da sua mãe, Joana
começou a cuidar dos pobres, em resposta ao apelo que ela sentia vindo de Deus:
visitava aqueles que viviam como animais, nos estábulos cavados na colina,
levando-lhes alimentos e vestuário; lavando as suas roupas e, se necessário,
dando-lhes as suas; colocando especial cuidado no modo de aquecer aqueles
abrigos precários.
Ajudava, generosamente,
os pedintes e, também, começou a recebê-los na sua própria casa. Em 1700,
acolheu, na sua casa, uma criança, e, de seguida abriu-a aos doentes, idosos e
indigentes. Depois, vendo que eram sempre mais e mais a bater à sua porta,
preparou três casas que lhe foram emprestadas e chamou-as de
"Providência", para receber crianças órfãs, jovens abandonadas,
mulheres pobres, velhos, destituídos de todos os tipos, atingidos pela fome e
pelo frio.
Ela nunca fez acepção de
pessoas, catalogando-as entre pobres merecedores e não merecedores: ajudava-os
a todos. Começou, na sua obra, a ensinar as crianças e as meninas,
preparando-as para uma profissão.
Joana Delanoue experimentou,
na sua própria pele, as humilhações dos pobres: fez-se pedinte; muitas vezes, comia
pior que eles; fazia jejuns contínuos; passava as noites em vigília e com muito
desconforto. Prestava mais atenção aos seus pobres do que aos seus clientes,
até dedicar-se a eles de modo pleno. Os pobres começaram a vir ter com ela, sem
esperar que ocorresse o contrário.
Em 1704, algumas jovens
disponibilizaram-se para ajudar Joana, com o desejo de a incentivar a fundar
uma Congregação religiosa. Assim, nasceu, inesperadamente, a Congregação de
Santa Ana da Providência, cujas Constituições foram aprovadas em 1709. Então, as
‘suas irmãs’ começaram a partilhar a mesma casa dos pobres; comiam como eles; tratavam-nos
nos casos de doença. Começaram a vestir um hábito cinza, humilde. Os seus pobres
eram tratados com ternura, compreensão e carinho; às vezes, proporcionavam-lhes
almoços festivos. Joana exigia que as ‘suas irmãs’ os saudassem com respeito,
servindo-os, sempre, em primeiro lugar.
Os burgueses da sua
região - e até os padres - criticavam as suas austeridades
"excessivas" e as suas instituições de caridade
"desordenadas". Mas nada conseguiu detê-la, nem mesmo o colapso do seu
primeiro abrigo: "Eu quero viver e morrer com os meus queridos irmãos: os
pobres", dizia ela.
A tenacidade de Joana
Delanoue e a sua grande dedicação levaram à fundação do primeiro hospício de
Saumur, em 1715. A sua caridade varreu as fronteiras da cidade e da diocese,
muito rapidamente. De facto, Joana já contava com mais de quarenta auxiliares -
todos sob as suas ordens - determinadas a seguir o seu exemplo de auto-negação,
oração e mortificação.
Com a sua morte, em 17 de
Agosto de 1736, a fundadora das Irmãs de Santa Ana da Providência deixou uma
dúzia de comunidades, albergues e até mesmo pequenas escolas. O anúncio da sua
morte ressoou em Saumur: "La Sainte est morte", que significa "A
Santa morreu”.
Todos puderam admirar o seu
zelo, a sua acção nas numerosas visitas recebidas ou feitas; mas, somente o seu
íntimo conhecia a sua mortificação e a sua vida de oração e união com Deus, a
única verdadeira fonte de origem da caridade.
As Irmãs de Joana
Delanoue, como são chamadas hoje, contam com cerca de 400 religiosas em França,
em Madagáscar e na Sumatra.
Joana Delanoue foi
beatificada em 5 de Novembro de 1947, pelo Papa Pio XII, e canonizada, em 31 de
Outubro de 1982 pelo papa João Paulo II, que afirmou: "Hoje, celebramos o
que o Espírito de Deus alcançou em Joana Delanoue, que viveu há cerca de três
séculos. O meu antecessor, Pio XII, já a havia declarado "Beata", com
base na natureza heróica das suas virtudes. Ao inscrevê-la, hoje, no número dos
"Santos", com a certeza e autoridade que caracterizam o rito de
canonização, apresentamo-la como exemplo não apenas para a sua diocese, mas
para toda a Igreja, convidando todos os cristãos a honrá-la como santa e a
recorrer à sua intercessão. Ao proclamarmos a santidade de Joana Delanoue, é
importante tentar entender o segredo espiritual da sua devoção inigualável. O seu
temperamento não parece tê-la empurrado para os pobres devido ao
sentimentalismo ou piedade. Mas, o Espírito Santo fez com que ela visse Cristo
nestes pobres; Cristo Menino nos seus filhos - ela tinha uma especial devoção
por Ele -, Cristo Amigo dos pobres; o próprio Cristo humilhado e crucificado. E,
com Cristo, ela queria mostrar a ternura do Pai para com os pobres. A este
Deus, ela recorreu, com ousadia, quando criança, esperando tudo a partir da sua
Providência, um nome que designará as suas casas e a sua fundação, desde a
origem: a Congregação de Santa Ana da Providência. A sua devoção constante a
Maria era inseparável da Santíssima Trindade. O mistério eucarístico também
estava no centro da sua vida. Tudo isso estava muito longe do jansenismo
vigente. O seu amor à Igreja impediu que ela avançasse com novas iniciativas sem
consultar os seus confessores e o Bispo da diocese. Agora, não temos tempo suficiente
para falar da sua teologia saudável, da sua rica espiritualidade, herdada do
melhor da escola francesa. Joana Delanoue aprendeu não apenas o heroísmo das virtudes
evangélicas, as do Sermão da Montanha, mas também uma profunda contemplação das
pessoas divinas, com sinais místicos da mais alta união com Deus, pelo caminho
unitivo e ardendo do amor para Jesus, o seu esposo. É aí que a loucura da sua
caridade, a ousadia das suas iniciativas tomam a sua inspiração e a sua realização
".
A memória litúrgica de
Santa Joana da Cruz celebra-se no dia 17 de Agosto.