BEATO LUCAS PASSI
Desde a sua
juventude, o Padre Lucas Passi teve aspirações apostólico-missionárias; por
isso, consagrou-se ao serviço do Senhor e foi uma autêntica testemunha da
caridade evangélica, especialmente na formação humano-social e moral dos
jovens.
O primeiro de
onze filhos, Lucas nasceu em Bérgamo, no dia 22 de Janeiro de 1789, filho de
Henrique e de Catarina Corner, uma nobre família veneziana, que o educaram nas
virtudes cristãs; o seu pai orientou os seus estudos escolares e preparou-o
para o sacramento da Confissão e para fazer a Primeira Comunhão.
No final do
século XVIII, quando Bérgamo entrou, abruptamente, em contacto com as ideias
revolucionárias francesas, o conde Henrique, para proteger os seus filhos,
mudou-se com a família para a sua casa de campo, em Calcinate. Aqui, ficava
também o palácio do seu tio, Monsenhor Marco Célio Passi, que em 1798, o
transformou em residência permanente dos seminaristas de Bérgamo, quando o Seminário
foi extinto, pelas autoridades. O seu tio, vigário-geral da diocese, foi um
exemplo brilhante para os seus sobrinhos: três deles seguiram-no na vida sacerdotal:
Lucas, Marco Célio e José.
Lucas e Marco,
quase da mesma idade, distinguiram-se, no Seminário, pela sua piedade, devoção
a Nossa Senhora, empenho no estudo, observância das regras, exercício da correcção
fraterna entre os companheiros e fervorosa vida espiritual.
Ainda diácono,
Lucas iniciou uma intensa actividade apostólica, na sua paróquia de Calcinate,
onde lhe foi confiado o cargo de responsável pela “Confraria do Santíssimo Sacramento".
Na prolongada adoração e contemplação da Eucaristia e do mistério de Cristo
Redentor do homem, “a urgência de testemunhar e de evangelizar” inflamaram-se
nele; por isso, com a alma e o coração de um pastor ardente de caridade
sacerdotal, propôs-se dedicar-se ao ministério da pregação. E, tendo dado
provas particulares daquela paixão e arte de pregar - que o tornariam um dos
grandes missionários apostólicos da sua época - os seus superiores consideraram-no
apto para proferir alguns sermões, mesmo fora da Diocese de Bérgamo, já nos
anos 1811-1812.
No dia 13 de Março
de 1813, foi ordenado sacerdote.
Em 16 de Maio
de 1815, emitiu os votos de "discípulo" no "Colégio
Apostólico" de Bérgamo, que reunia a nata dos sacerdotes diocesanos. Os
doze membros da associação obrigaram-se a viver segundo o espírito dos
Apóstolos, fazendo voto de obediência, pobreza de espírito e compromisso pela
salvação dos irmãos, “por puro amor e glória de Deus”.
O jovem Padre Lucas
sentiu, fortemente, este dever, o que o levou a pregar em muitas cidades e
vilas da Península Itálica: em 1836, foi-lhe atribuído o título de “Missionário
Apostólico”, pelo Papa Gregório XVI.
No seu
ministério sacerdotal, o Padre Lucas revelou-se, também, um impulsionador dos
apóstolos leigos; um brilhante animador e coordenador do desejo natural dos
jovens para a formação de grupos que os aproximasse e da fé e os educasse na
prática dos bons costumes.
Em Calcinate,
reformulou o compromisso da Confraria do Santíssimo Sacramento, confiando a cada
uma das associadas, algumas meninas, vizinhas das suas casa, para que cuidassem
delas com amor, instruindo-as na fé, apoiando-as nas virtudes ou corrigindo-as,
se necessário, dos seus defeitos e fazendo-as tornar-se pequenas Apóstolas,
entre os seus pares. Assim, em 1815, nasceu a Pia Obra de Santa Doroteia para a
educação cristã das meninas: uma obra verdadeiramente inovadora e única no seu
género a nível pastoral, capaz de envolver numerosos fiéis de uma paróquia ou
diocese, sensíveis ao dever de cada cristão de “cuidar” das jovens, para as
formar na honestidade da vida. Com as mesmas intenções, fundou a Pia Obra de
São Rafael para a educação dos rapazes.
O Padre Lucas,
auxiliado pelo seu irmão, Padre Marco, fundava as duas associações, de acordo
com cada pároco, no final das “Missões Quaresmais”, e onde quer que fosse para fazer
as pregações. Acima de tudo, a Obra de Santa Doroteia teve uma ampla difusão e
muitos Bispos, Sacerdotes e leigos zelosos, maravilhados com os frutos de bem
que produzia, apoiaram-na com admirável empenho.
O Padre Lucas
procurou criar uma maravilhosa rede de amizade entre os jovens, seguindo o
exemplo do seu Padroeiro Mártir, num intercâmbio mútuo de ajuda e promoção que,
muitas vezes, trouxe notáveis benefícios espirituais também para as suas
famílias.
À Obra de
Santa Doroteia pertenceram (e pertencem) jovens que cuidam das meninas “com o
santíssimo propósito de incutir nos seus corações o santo temor de Deus e
treiná-las nos bons costumes”, trabalhando portanto, num clima de amizade
sincera; corrigir caritativamente os seus defeitos; dar-lhes advertências
adequadas e conselhos sábios; fazer com que frequentem os sacramentos; cumpram
os seus deveres e sejam dóceis para com os seus superiores (cf. L. PASSI, Pia
Opera di S. Dorotea direto para formar os trajes das meninas, IV edição Lucca
1854, p. 17).
Em 1838, o
Padre Lucas Passi fundou o Instituto das Irmãs de Santa Doroteia, em Veneza,
com o objectivo principal de ser a “alma” e sustento da Pia Obra de Santa
Doroteia. A cofundadora e primeira superiora do Instituto foi a Madre Raquel
Guardini.
O Padre Lucas
também promoveu obras sociais de grande utilidade pública. De modo particular,
dedicou parte do seu tempo a formar um grupo de jovens pobres, especialmente de
agricultores. Para isso, publicou, em 1836, o Projecto Moral e Económico, e, em
1838, fundou a Ordem Terceira de Santa Doroteia, em Calcinate, conhecidas como
"Freiras Camponesas", para formar meninas abandonadas no trabalho
feminino e agrícola, compatível com a sua idade.
Com zelo
incansável, o Padre Lucas incutiu, nos membros da Obra e nas Irmãs, o seu
desejo ardente de comunicar aos seus irmãos “o fogo do amor de Deus” que dele
transbordava. Gostava de repetir: “Quem não queima não acende” e estava firme
na convicção de que “é preciso dar até a vida pela salvação de uma alma”.
Incansável até ao fim, faleceu em Veneza, no dia 18 de Abril de 1866.
O seu carisma
continua vivo, na missão realizada pelas Irmãs de Santa Doroteia - em Itália,
na América Latina (Bolívia, Colômbia, Brasil), na África (Burundi, República
Democrática do Congo, Camarões, Madagáscar) e na Albânia - e na alma e na
actividade dos numerosos Cooperadores da Obra de Santa Doroteia espalhados pelo
mundo, que se encarregam da formação cristã das jovens gerações, acompanhando o
seu crescimento com um amor entrelaçado de misericórdia e de esperança.
O Padre Lucas
Passi foi beatificado, no dia 13 de Abril de 2013, pelo Papa Francisco.
A sua memória
litúrgica é celebrada no dia 18 de Abril.