BEATOS MANUEL GÓMEZ GONZÁLEZ (sacerdote) e ADÍLIO
DARONCH
Estamos mais habituados a ver
sacerdotes e acólitos, juntos à volta do altar, do que a vê-los subir juntos à
glória dos altares. Desde o dia 21 de Outubro de 2007, porém, isso já não acontece,
porque, com a beatificação do Padre Manuel Gómez González e do jovem Adílio
Daronch, a Igreja demonstrou que o pároco e o acólito, se forem capazes de
viver o sacramento que celebram juntos, podem realmente tornar-se santos
juntos.
Manuel Gómez González nasceu no
dia 29 de Maio de 1877, em São José de Ribarteme, perto de Pontevedra, na
diocese de Tuy, Espanha. Ele era o filho mais velho de José Gómez Rodríguez e
Josefa González Durán. Foi baptizado no mesmo dia do seu nascimento, na
paróquia da sua cidade. Recebeu a Confirmação no dia 20 de Setembro de 1878.
Depois de frequentar a escola
primária, na sua cidade natal, entrou no Seminário Menor de São Pelágio, em
Tuy. Depois dos estudos no Seminário Maior, recebeu, em 24 de Maio de 1902, a
ordenação presbiteral e começou a exercer o ministério sacerdotal, na sua
diocese. A partir de 1904 foi acolhido, a seu pedido, na diocese de Braga, Portugal,
tornando-se pároco de Valdevez e depois, em 1911, de Monção.
Com a instauração da República,
começaram a surgir graves problemas políticos e religiosos em Portugal. Então,
o Padre Manuel foi autorizado a partir para o Brasil, em 1913.
Após uma passagem breve pelo
Rio de Janeiro, foi acolhido pelo Bispo D. Miguel de Lima Valverde, na diocese
de Santa Maria (Rio Grande do Sul).
Por pouco tempo, foi nomeado
pároco de Soledade. Em 7 de Dezembro de 1915, foi-lhe confiada a imensa
paróquia de Nonoai, quase uma pequena diocese: aqui, desenvolveu um trabalho
pastoral tão intenso que, em oito anos, mudou a face da paróquia, cuidando
também dos índios e, às vezes, também tendo que cuidar da vizinha freguesia de
Palmeiras de Missões, como administrador. O Padre Manuel dedica-se, de alma e
coração, a catequizar, a celebrar e a pregar (tanto que a igreja voltou a
encher-se), mas, ao mesmo tempo, declara guerra ao analfabetismo e, por isso,
abriu uma escola gratuita, na paróquia, frequentada pelos filhos dos pobres,
que eram a grande maioria dos seus paroquianos.
Dado que o seu povo precisa de
trabalho e de pão e que ambos são escassos, ele tornou-se, também, empresário,
graças ao espírito de iniciativa que levou consigo da Europa. Montou um forno
para cozer tijolos, com o qual constrói casas para os sem-abrigo; reparou a
residência paroquial e restaurou a igreja: há muitos trabalhadores que, assim,
podem garantir o pão às suas famílias, enquanto outros são encorajados e
ajudados a cultivar arroz e batatas. Um padre inteligente que sabe fazer com
que as pessoas o amem e que é capaz de “perder tempo” com todos para se
aproximar de alguém, a qualquer custo.
Entre as famílias mais próximas
do Padre Manuel está a do farmacêutico Daronch, filho de uma italiana que
emigrou para o Brasil com o marido, no final do século XIX: é um homem bom, pai
de 8 filhos e católico fervoroso, que, juntamente com a sua esposa, distribuíam
remédios, gratuitamente, pelos mais pobres, e que faleceu, em 1923. Os seus
ensinamentos e, sobretudo, o seu exemplo foram um grande testemunho de fé para
a sua família. Por isso, não é estranho que o seu terceiro filho, Adílio, com 15
anos quando o seu pai morreu, mostre qualidades extraordinárias: é muito
sensível, atencioso, atento às necessidades dos outros. Reza com piedade e
torna-se, também, no acólito mais assíduo e fiel do Padre Manuel: juntamente
com ele percorre, centímetro a centímetro, a paróquia e acompanha-o nas
frequentes viagens pastorais entre os índios da floresta.
Em 1924, o bispo de Santa
Maria, D. Ático Eusébio da Rocha, pediu ao Padre Manuel que fosse visitar um
grupo de colonos brasileiros, de origem alemã, acampados na floresta do Alto Uruguai,
hoje chamada de Três Passos. Quis o destino que o homem que deveria
acompanhá-lo e ser o seu guia adoecesse, repentinamente. Então, o jovem Adílio
decidiu acompanhá-lo.
Depois de celebrar a Semana
Santa, na freguesia de Nonoai, o Padre Manuel partiu, apesar de saber que
aquela região estava a ser abalada por movimentos revolucionários: estes tinham
uma tarefa a cumprir: eliminar aquele padre que é demasiado empreendedor e
demasiado corajoso. E andam no seu encalço.
Inicialmente parou em Palmeria,
onde administrou os sacramentos e exortou os revolucionários locais ao respeito
mútuo, pelo menos em nome da fé cristã comum. No entanto, os mais extremistas
não apreciaram a intervenção do sacerdote, nem o facto de ter dado sepultura
cristã, por piedade, às vítimas dos bandos locais.
A viagem continuou até Braga,
seguindo depois para a colónia militar da zona, onde, no dia 20 de Maio de 1924,
o Padre Manuel celebrou, pela última vez, a Eucaristia. Os fiéis indígenas
alertaram-no para o perigo que enfrentaria ao entrar na floresta, mas ele não
os ouviu.
Juntamente com Adílio, chegou a um armazém geral, onde pediu informações de
como chegar ao acampamento de Três Passos. Encontraram alguns soldados que,
gentilmente, se ofereceram para acompanhá-los, mas, na verdade, tratava-se de
uma armadilha, previamente, organizada.
O padre e o jovem Adílio foram
levados para uma área remota da floresta: encontraram os líderes militares que
estavam à sua espera. Ao chegarem a uma colina, foram amarrados a duas árvores
e fuzilados. Era 21 de maio de 1924. As feras da floresta respeitaram, quase
milagrosamente, os corpos dos dois mártires. Quatro dias depois, os colonos de
Três Passos conseguiram encontrá-los dar-lhes sepultura. A partir de 1964, os
seus restos mortais, hoje considerados verdadeiras relíquias, foram
transferidos para a igreja paroquial de Nonoai.
No morro do Feijão Miúdo, foi
erguido um monumento em memória deste massacre.
Os cristãos locais nunca esqueceram o testemunho heróico do pároco e do jovem
acólito que morreram por amor ao Evangelho. Numerosos devotos começaram a
reunir-se junto dos seus túmulos, invocando a ajuda do Senhor, por sua
intercessão.
No dia 16 de Dezembro de 2006,
recebendo em audiência o Cardeal José Saraiva Martins, Prefeito da Congregação
para as Causas dos Santos, o Papa Bento XVI autorizou a promulgação do decreto
com o qual era reconhecido o seu martírio, motivado pelo de ódio à fé cristã.
Foram beatificados no dia 21 de Outubro de 2007, no Parque Municipal de
Exposições de Frederico Westphalen, em cerimónia presidida pelo Cardeal Saraiva
Martins, como enviado do Santo Padre.
A memória litúrgica do Padre
Manuel Gómez González e de Adílio Daronch é celebrada no dia 21 de Maio.