BEATO FRANCISCO MOTTOLA
Francisco Mottola nasceu
em Tropea, hoje na província de Vibo Valentia, na diocese de Mileto-Nicotera-Tropea,
em 3 de Janeiro de 1901. Foi o filho mais velho de António Mottola e Concettina
Bragò. Que tiveram vários filhos, mas só três sobreviveram. Francisco foi baptizado
dois dias após o nascimento, com os nomes de Francisco Caetano Humberto. Francisco
era muito animado, curioso e até inquieto. Também foi dotado de notável
generosidade e sensibilidade para com todos.
O ambiente
familiar teve grande influência na sua formação humana e espiritual, na qual
foram aproveitadas todas as oportunidades para dar graças a Deus. Eram
frequentes as visitas dos sacerdotes à casa dos Mottola, assim como as pausas
para oração diante do Santíssimo Sacramento e da imagem de Santa Maria da Roménia,
venerada na catedral de Tropea.
Os seus pais
preocuparam-se com a sua formação integral e, por isso, fizeram-no frequentar,
desde cedo, o ensino básico, o ensino médio e o secundário no Seminário
Episcopal de Tropea, do qual foi o primeiro seminarista, em 1911. Francisco saiu-se
muito bem nos estudos, como atestam os resultados e testemunhos dos seus
companheiros.
Em 21 de Junho
de 1912, a sua mãe, que também o educou na fé, faleceu após uma grave crise
depressiva pós parto: havia dado à luz, recentemente, a sua última filha,
Titina. Foi a primeira e grande experiência de dor para Francisco, que, a
partir de então, tornou-se ainda mais sensível ao mistério do sofrimento
humano. Em 11 de Novembro de 1914, recebeu o Sacramento da Confirmação.
Em Outubro de 1917, foi para o Seminário
Regional «Pio X» de Catanzaro, para frequentar os estudos filosóficos e
teológicos. Depois de uma experiência de graça, vivida em 1918, sentiu o
impulso de se entregar completamente ao Senhor, “em perfeita oblação”, para ser
“um cartuxo de rua”.
Juntamente com
alguns colegas, criou o «Circolo di Cultura Calabrese», (Círculo de Cultura da
Calábria) um grupo de fraternidade, estudo e apostolado: queria, com eles,
manter a mente e o coração abertos e despertos. Devido a problemas de saúde,
porém, teve de passar quase todo o último ano do Seminário, em casa, em Tropea.
Ordenado subdiácono, em Catanzaro, em 10 de Maio de 1923, recebeu o diaconado,
em Tropea, em 25 de Dezembro e, no dia 5 de Abril de 1924, a ordenação
sacerdotal.
Participou,
então, na candidatura para a atribuição do cargo de pároco, em Parghelia, e
venceu, mas, ao fim de um mês, teve de desistir por motivos de saúde. Teve,
depois, outras tarefas: na Acção Católica diocesana e, durante vários anos, no
ensino da Teologia.
Fiel às resoluções emitidas antes da ordenação
sacerdotal, procurou manter o equilíbrio entre a actividade e a contemplação,
certo de que não teria que se deixar arruinar por um activismo desenfreado, em
detrimento da vida do espírito.
De 1929 a 1942,
foi reitor do Seminário de Tropea e professor de disciplinas literárias. Em
1931, foi, também, nomeado Cónego Penitenciário da Catedral. Dotado de
delicadeza, discrição e firmeza, acompanhou espiritualmente numerosos fiéis.
Muitas vezes, permanecia no confessionário mesmo depois do meio-dia,
encontrando descanso apenas em Jesus. Dedicou muito tempo à escuta dos seus
irmãos sacerdotes, encorajando-os e rezando pela sua santificação, como já
fazia com os muito jovens seminaristas; seguia-os a todos, pessoalmente ou por
carta.
A sua paixão cultural levou-o, também, a
promover diversas iniciativas, como o clube «Francisco Acri» e a revista «Parva
favilla» (Pequena brasa), da qual foi director. Pela simplicidade, mas também
pela profundidade, com que falava e expunha a Palavra de Deus, era também
frequentemente convidado para realizar conferências e pregar retiros em
diversas paróquias e para a Acção Católica.
Em 1935,
começou a organizar um pequeno grupo, formado por jovens leigos que vinham visitá-lo,
semanalmente: comunicou-lhes um ideal de acção caritativa e de oração
contemplativa, vivida na vida quotidiana. Pouco antes, em 1931, surgiu também
um grupo de sacerdotes que partilhavam o que o Padre Francisco chamava “a Ideia”.
Desde o início
do seu ministério, teve muitos colaboradores leigos que o ajudaram na assistência
aos pobres, no Seminário e na Acção Católica. Deles, liderados por Irma Scrugli
(está em andamento a causa da sua beatificação), surgiram os ‘Oblatos do
Sagrado Coração’: sacerdotes oblatos; religiosas oblatas e os Oblatos
seculares. Estes, permanecendo no mundo, deveriam responder às necessidades e à
solidão de muitos, especialmente daqueles que viviam nos campos.
Outro fruto da atenção do Padre Francisco
Mottola para com os rejeitados pela sociedade, os "nuju du mundu",
segundo uma expressão dialetal que ele usou, foram as Casas de Caridade: não
deveriam ser simplesmente estruturas de acolhimento e de assistência às
crianças, aos pobres, aos idosos e aos deficientes, mas locais onde se
proporcionasse formação adequada a todos. Não instituições, mas famílias…
A primeira
Casa de Caridade foi inaugurada em 8 de Dezembro de 1936, com três velhinhas e
duas meninas. Outras casas se seguiram: em Tropea, Vibo Valentia, Parghelia,
Roma. Descrevendo esta obra, o Padre Mottola declarou: «Sonhei com a Casa de
Caridade pelo menos tão grande quanto a nossa terra, acolhendo toda a dor, não
para eliminá-la, porque seria um sacrilégio, mas para divinizá-la e adorá-la de
forma divinizada».
Nos primeiros
meses de 1941, com apenas 41 anos, o Padre Francisco começou a sentir-se
estranhamente cansado. Em Junho de 1942, ao chegar à estação de Reggio
Calabria, desmaiou. Foi atingido por uma paralisia, que até lhe tirou o uso da
fala. A
doença parecia interromper a sua actividade sacerdotal, mas ele procurou
aceitar o sacrifício e a cruz com amor e esperança. Durante os vinte e sete
anos seguintes, nunca reclamou, segundo testemunhou sua irmã Titina, e
continuou a inspirar esperança, embora quase não conseguisse mover-se.
Ainda
conseguiu celebrar a missa, cimentando, assim, a sua relação com Deus. Mais do
que nunca, naquele momento, viveu em espírito de oblação, entregando-se mesmo
no sofrimento. Em todo o caso, não se deteve na sua própria condição, mas
permaneceu atento ao mundo que o rodeava: acompanhou também, com grande
interesse, os trabalhos do Concílio Vaticano II.
O Padre Francisco fez com que a Família dos
Oblatos do Sagrado Coração fosse aprovada como Instituto Secular de direito
diocesano, em 25 de Dezembro de 1968, pelo bispo de Tropea, Dom Vincenzo De
Chiara. Os Oblatos do Sagrado Coração receberam o reconhecimento pontifício, em
1975.
O Padre
Francisco Mottola faleceu, na casa paterna, em Tropea, na madrugada de 29 de
Junho de 1969. Os seus restos mortais, inicialmente colocados no cemitério de
Tropea, repousam, agora, na nave direita da Concatedral de Santa Maria da Roménia,
em Tropea, aos pés do Crucifixo.
O Padre Francisco Mottola foi beatificado no 10
de Outubro de 2021, na Concatedral de Tropea, em celebração presidida pelo
Cardeal Marcello Semeraro, Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos,
como enviado do Santo Padre Francisco.
A memória
litúrgica do Beato Francisco Mottola é celebrada no dia 30 de Junho.