BEATO EDMUNDO INÁCIO RICE
Edmundo Inácio Rice nasceu em
Watercourt, Callan, na Irlanda, no dia 1 de Junho de 1762, no seio de uma
família de agricultores. Era o quarto dos sete filhos de Roberto Rice e
Margarida Tierney, que já tinha outras duas filhas, do seu primeiro marido, que
havia, entretanto, falecido.
Devido às 'Leis Penais', em
vigor na Irlanda - leis restritivas contra os católicos da Irlanda, cujos
padres eram perseguidos e não podiam dirigir escolas - Edmundo foi educado,
primeiro, na sua piedosa e estimada família; e, depois, numa daquelas escolas
rurais clandestinas, organizadas pelos irlandeses da época, muito ligados à fé
católica e cujos professores se deslocavam, constantemente, de um lugar para
outro.
Edmundo Rice, mais tarde,
conseguiu frequentar uma escola clássica, na cidade de Kilkenny. Como os
católicos estavam proibidos de aceder às carreiras militar, estatal ou
judicial, o jovem, de dezassete anos, não teve outra escolha senão trabalhar
como aprendiz do tio paterno, importante mercador e comerciante, em Waterford, porto
fluvial do sudeste da Irlanda.
Colaborando, activamente, com
seu tio, tornou-se um comerciante de sucesso. Em 1787, aos 25 anos, casou-se
com Maria Elliot, mas o destino não lhe foi favorável. Depois de apenas dois
anos de casamento, a sua esposa morreu no parto, dando à luz uma menina
deficiente.
Viúvo aos 27 anos, Edmundo, com
espírito de fé, cuidou amorosamente da pequena Maria, durante toda a sua vida;
intensificou a sua união com Deus, na meditação das Escrituras, na frequência
assídua dos Sacramentos e da Missa, dedicando-se às obras de caridade e
ajudando os pobres com as suas próprias riquezas.
Aquele período, foi de grande
turbulência para sociedade irlandesa: em sessenta anos, duplicou a população;
em 1776, deu-se a rebelião das colónias americanas; os católicos da Irlanda,
cheios de coragem, começaram a exigir direitos iguais aos dos protestantes.
Tudo isto, e sobretudo a falta de educação dos jovens negligenciados, convenceu
Edmundo Rice a trabalhar neste campo, essencial para a sociedade do futuro.
Edmundo conheceu a Irmã 'Nano'
Nagle (já beatificada), que, em 1778, fundou a Congregação das 'Irmãs da
Apresentação', dedicadas à educação e cuidado das raparigas. Edmundo ajudou-a a
abrir uma casa em Waterford.
Seguindo o seu exemplo, a
partir de 1793, Edmundo preparou-se para a realização do seu projecto, obtendo
os fundos necessários à execução da obra; pediu autorização, ao Papa Pio VI,
para abrir um novo Instituto. Com o incentivo do Papa e do Bispo de Hussey,
fundou uma escola temporária, num estábulo abandonado, depois de ter vendido a sua
empresa e depois de ter encontrado quem cuidasse, adequadamente, da sua filha.
Edmundo passou a morar no andar
superior, da escola. As crianças afluíram à escola, em tal número, que os seus
colaboradores remunerados assustaram-se e abandonaram-no. Então Edmundo teve de
fazer todo o trabalho sozinho. Algum tempo depois, atraídos pelo seu exemplo,
outros jovens e professores vieram compartilhar o seu esforço evangélico e
social.
Nasceu, assim, uma comunidade
religiosa cujo objectivo principal, através da educação cristã, era levar os
pobres à consciência da sua dignidade e da sua filiação divina.
Em 1806, foi inaugurada, em
Waterford, a primeira casa religiosa dos “Irmãos da Apresentação”, assim
chamados porque seguiam uma regra de vida, semelhante à das 'Irmãs da Apresentação'.
Em 1808, o Bispo de Waterford admitiu Edmundo, e os seus Irmãos, aos votos
religiosos, na Capela das Irmãs, de acordo com as Regras da Ordem da
Apresentação, aprovadas pela Santa Sé, em 3 de Setembro de 1791.
O novo Instituto foi o primeiro
a ser estabelecido na Irlanda. Edmundo adoptou o nome ‘Inácio’ (Irmão Inácio) e,
sem ajuda externa, construiu um Mosteiro, chamado ‘Monte Sião’, em Waterford,
para onde se mudou com a pequena comunidade, erigindo-o como Casa-Mãe, da Congregação.
O número de irmãos aumentou
consideravelmente e outras Casas foram abertas, tanto na província de Waterford
como em toda a Irlanda. Em 1820, já eram dez e todas seguiam a Regra das Irmãs
da Apresentação, embora todas autónomas e sujeitas à jurisdição dos bispos
locais. Alguns membros destas comunidades foram enviados ao Mosteiro de ‘Monte
Sião’ para receberem formação espiritual e religiosa do próprio fundador.
Entretanto, o Irmão Inácio Rice,
em 1817, conheceu os ‘Irmãos das Escolas Cristãs’, congregação fundada por São João
Baptista de la Salle e pediu à Santa Sé que aprovasse uma Regra semelhante para
o seu Instituto: a carta de aprovação foi concedida pelo Papa Pio VII, em 5 de
Setembro de 1820.
Em Janeiro de
Porém, nem todos aderiram a
esta mudança. Alguns, liderados pelo Irmão Miguel Agostinho Riordan,
permaneceram com o nome inicial e sob a jurisdição diocesana; e, assim,
continuaram até 1889, quando os Irmãos da Apresentação também receberam a
aprovação pontifícia.
Nos anos seguintes, o Irmão Edmundo
Inácio Rice pôde ver a difusão da sua Congregação: na Irlanda, na Inglaterra, em
Gibraltar e na Austrália.
Em 1838, renunciou ao cargo de
Superior-Geral, devido à idade e a várias doenças que o fragilizaram.
Edmundo Inácio Rice faleceu,
com fama de santidade, no dia 29 de Agosto de 1844, no Mosteiro de Monte Sião,
em Waterford.
Os Irmãos das duas Congregações
estão hoje presentes nos cinco continentes, nas regiões missionárias da Igreja
e entre os marginalizados das grandes cidades.
Centenas de graças foram recebidas
por intercessão do Irmão Edmundo Inácio Rice, que foi beatificado, no dia 6 de
Outubro de 1996, pelo Papa João Paulo II.
Em 22 de Março de 2002, na celebração do bicentenário da fundação dos
“Irmãos Cristãos”, no XXIX Capítulo-Geral da Congregação, o Papa João Paulo II
disse: “… A história da graça que estais a celebrar, durante este
Capítulo Geral, teve início num período de grandes sublevações sociais na
Europa e de profunda miséria na Irlanda, terra natal de Edmundo Rice. Durante
os anos da juventude do vosso Fundador, o Continente foi abalado pelas
tempestades das revoluções, que testificaram a queda de uma ordem antiga e o
nascimento de outra nova, que surgiu com grande dificuldade das guerras
sanguinolentas que agitaram enormemente a Europa no alvorecer do século XIX.
Na própria Irlanda, aqueles
foram anos de pobreza e de perseguição religiosa, quando as grandes tradições
da vida católica irlandesa se encontravam de facto em perigo. Contudo, tais
tradições floresceram de maneiras novas e notáveis, quando Deus suscitou
pessoas como Edmundo Rice a assumir a tarefa da educação dos jovens, de outra
forma condenados à pobreza material, intelectual, moral e espiritual que
haveria de os sacrificar não só a eles mesmos mas também a sociedade em geral.
Respondendo ao chamamento de Deus, o vosso Fundador não só obedeceu aos
profundos impulsos do Espírito Santo, que nos ensina todas as coisas (cf.
Jo 14, 26), mas também promoveu o caminho da Igreja católica,
que sempre pôs a educação no próprio âmago da sua missão, que consiste em
anunciar o Evangelho. Além disso, Edmundo Rice demonstrou-se fiel às
antigas tradições das grandes escolas monásticas da Irlanda, que formaram um
profundo vínculo entre a santidade e o ensino, entre a humanidade e a educação,
para a glória da Europa e de todo o mundo cristão em geral.
Ao mesmo tempo, a crise que
Edmundo Rice enfrentou não era apenas a nível social ou nacional; tratava-se de
uma grave crise pessoal, que fez brotar na sua vida a graça que haveria de
levar à fundação da vossa Congregação. Quando a sua jovem esposa faleceu, em
1789, primeiro ele pensou em retirar-se para a vida contemplativa. Mas não era
este o seu destino. Pelo contrário, Edmundo sabia que Deus o estava a chamar
para uma vida activa, enraizada na contemplação. A sua vocação consistia em
assumir "uma nova "criatividade" na caridade" (Novo
millennio ineunte, 50), que constituiu uma verdadeira revolução numa
época revolucionária, uma revolução que nasceu não da violência, mas da escuta
serena e paciente de Deus.
A sua memória litúrgica é
celebrada no dia 29 de Agosto.