SANTA ANA SCHAEFFER
Ana
era a terceira dos oito filhos do carpinteiro bávaro Miguel Schaeffer e Teresa
Forster, uma família de poucos recursos: todos viviam dos modestos rendimentos
do pai. Ana frequentou o ensino básico nas escolas de Mindelstetten e começou a
alimentar um sonho: tornar-se freira e ir, como missionária, para terras
distantes. Mas, naquela época, era preciso ter um dote para ser acolhida numa
congregação religiosa. Para poder adquirir os bens necessários, Ana procurou
trabalho, em Regensburg. Uma família rica contratou-a para o serviço da sua
casa. Este foi o primeiro passo para tornar o seu sonho realidade.
Mas, também, foi o seu último passo, embora Ana ainda o não soubesse. De facto, um ano depois, o seu pai morreu. Ana teve de voltar para Mindelstetten para ajudar a família órfã, com cinco irmãos e irmãs mais novos que ela. Ainda trabalhou em casa e prestava alguns serviços em casa de famílias locais. Passou, assim, alguns anos, pensando que os pequenos estavam a crescer e, talvez em breve, não tivessem necessidade dela. Então, talvez ela conseguisse realizar o seu sonho de partir para uma missão distante...
Mas, no dia 14 de Fevereiro de 1901, aos dezanove anos, aconteceu um acidente que a tornou inválida para sempre: na lavandaria de uma casa, na floresta de Stammham, perto de Ingolstadt, onde ela trabalhava, uma chaminé estava prestes a escorregar e a cair; Ana subiu uma escada para a colocar no lugar, mas caiu numa banheira de água quente, com soda cáustica, e sofreu queimaduras muito graves e dolorosas nas pernas, até os joelhos. Foi tratada no Hospital Kosching e, depois, no Centro Médico Universitário, em Erlangen. Mas, nada se podia fazer contra as feridas causadas pela acção corrosiva do detergente. Ana voltou para a sua casa, em Mindelstetten, depois de vários meses de hospitalização e ficou incapacitada para sempre, enquanto os seus familiares ficavam mais pobres do que antes.
As desgraças vêm uma após outra: a família estava em ruínas e ela estava prisioneira das suas dores, tornadas insuportáveis pela certeza de que não têm remédio; de que nunca terão fim. Tudo isso aos 21 anos: uma situação insuportável, mesmo para ela, sempre tão cheia de fé. E, na verdade, ela não aceitava a sua situação: revoltou-se contra este sofrimento sem esperança, partilhando esta revolta com a sua família, os seus amigos e o Padre Karl Rieder, seu pároco.
A abertura do seu coração à serenidade não aconteceu através de iluminações repentinas. Foi um longo esforço, que levou Ana a convencer-se: não está condenada; não foi um castigo de Deus; a sua situação é uma tarefa que lhe foi confiada pelo Senhor a quem ela se consagrou: ser “missionária” assim, a partir do seu leito; a partir das suas feridas.
Finalmente, Ana descobriu a virtude e a missão da aceitação: não como uma imposição, mas como um acto da sua vontade: Ana ofereceu os seus sofrimentos ao Senhor. E ela tinha muitos a oferecer: os do infortúnio, na lavandaria e depois outros: paralisia total das pernas; endurecimento da medula espinhal; cancro intestinal... Apesar de tão magoada, ela falava dos seus "sonhos", ao Senhor e a São Francisco de Assis.
A partir de 1910, desenvolveu estigmas que tentava esconder e teve visões ocasionais que a deixavam em êxtase.
Muita gente começou a visitá-la em busca de ajuda e de apoio: Ana aconselha, anima e conforta os que a procuram. E reza!... Ela revelou-se magnificamente necessária, indispensável, aos saudáveis e seguros: naquela cama, estava sempre “de plantão”, para falar e até para escrever cartas. Não deixa “últimas palavras” ou qualquer recomendação, antes de morrer. Em Setembro de 1925, uma queda da cama tirou-lhe a voz. Da sua boca, como um sussurro, saiu uma palavra de fé e de amor: “Jesus, eu vivo em ti”.
Ana faleceu no dia 5 de Outubro de 1925. Depois da sua morte continuou a ser uma presença forte no mundo bávaro. Sepultada, inicialmente, no cemitério da aldeia, o seu corpo foi, posteriormente, transladado para a Igreja Paroquial de Mindelstetten.
Ana Schaeffer foi beatificada pelo Papa João Paulo II, em 17 de Março de 1999. Na Homilia disse o Papa: “…dirigimos o olhar para a Beata Ana Schäffer. Lemos, imediatamente, a sua vida como um comentário vivo daquilo que escreveu São Paulo: «A esperança não nos deixa confundidos porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações, pelo Espírito Santo que nos foi concedido» (Rm 5, 5).
Quanto mais a sua vida se tornava um caminho de sofrimento, tanto mais forte ela se tornava, consciente de que a doença e a debilidade podiam ser as linhas com as quais Deus escrevia o Seu evangelho. Chamava ao seu quarto de doente o «laboratório do sofrimento», a fim de se tornar sempre mais conforme à cruz de Cristo. Ela falava de três chaves celestes, que Deus lhe deu. «A maior, que é de ferro bruto e muito mais pesada que as outras, é o meu sofrimento. A segunda, é a agulha e a terceira, a caneta. Com estas três chaves quero trabalhar fielmente todos os dias, para conseguir abrir a porta do céu».
Entre dores atrozes, Ana Schäffer tornou-se consciente de quanto cada um dos cristãos é responsável pela santidade do seu próximo, e, por isso, ela tem necessidade da caneta. O seu leito de doença torna-se lugar dum amplo apostolado através da correspondência. As poucas forças que lhe restam, dedica-as aos bordados a fim de proporcionar alegria aos outros. Seja quando escreve seja quando borda, o seu motivo preferido é o coração de Jesus, símbolo do amor de Deus. Representa as chamas, que saem do coração de Jesus, não como línguas de fogo, mas como espigas de trigo. A referência à Eucaristia, que Ana Schäffer recebe quotidianamente do seu pároco, é única e inconfundível. O coração de Jesus, assim representado, será, por isso, o atributo da nova Beata…”
Foi canonizada pelo Papa Bento XVI, no dia 21 de Outubro de 2012. Palavras do Papa: “…A jovem Ana Schäffer, de Mindelstetten, quis entrar em uma congregação missionária. Nascida numa família humilde, ela conseguiu, trabalhando como doméstica, acumular o dote necessário para poder entrar no convento. Neste emprego, sofreu um grave acidente com queimaduras incuráveis nos seus pés, que a prenderam em um leito pelo resto da vida. Foi assim que o seu quarto de enferma se transformou numa cela conventual, e o seu sofrimento, em serviço missionário. Inicialmente, revoltou-se contra o seu destino, mas em seguida, compreendeu que a sua situação era uma chamada amorosa do Crucificado para que O seguisse. Fortalecida pela comunhão diária, tornou-se uma intercessora incansável através da oração e um espelho do amor de Deus para as numerosas pessoas que procuravam conselho. Que o seu apostolado de oração e de sofrimento, de oferta e de expiação seja para os crentes da sua terra um exemplo luminoso e que a sua intercessão fortaleça a actuação abençoada dos centros cristãos de curas paliativas para doentes terminais.
A sua memória litúrgica é celebrada no dia 5 de Outubro.
Mas, também, foi o seu último passo, embora Ana ainda o não soubesse. De facto, um ano depois, o seu pai morreu. Ana teve de voltar para Mindelstetten para ajudar a família órfã, com cinco irmãos e irmãs mais novos que ela. Ainda trabalhou em casa e prestava alguns serviços em casa de famílias locais. Passou, assim, alguns anos, pensando que os pequenos estavam a crescer e, talvez em breve, não tivessem necessidade dela. Então, talvez ela conseguisse realizar o seu sonho de partir para uma missão distante...
Mas, no dia 14 de Fevereiro de 1901, aos dezanove anos, aconteceu um acidente que a tornou inválida para sempre: na lavandaria de uma casa, na floresta de Stammham, perto de Ingolstadt, onde ela trabalhava, uma chaminé estava prestes a escorregar e a cair; Ana subiu uma escada para a colocar no lugar, mas caiu numa banheira de água quente, com soda cáustica, e sofreu queimaduras muito graves e dolorosas nas pernas, até os joelhos. Foi tratada no Hospital Kosching e, depois, no Centro Médico Universitário, em Erlangen. Mas, nada se podia fazer contra as feridas causadas pela acção corrosiva do detergente. Ana voltou para a sua casa, em Mindelstetten, depois de vários meses de hospitalização e ficou incapacitada para sempre, enquanto os seus familiares ficavam mais pobres do que antes.
As desgraças vêm uma após outra: a família estava em ruínas e ela estava prisioneira das suas dores, tornadas insuportáveis pela certeza de que não têm remédio; de que nunca terão fim. Tudo isso aos 21 anos: uma situação insuportável, mesmo para ela, sempre tão cheia de fé. E, na verdade, ela não aceitava a sua situação: revoltou-se contra este sofrimento sem esperança, partilhando esta revolta com a sua família, os seus amigos e o Padre Karl Rieder, seu pároco.
A abertura do seu coração à serenidade não aconteceu através de iluminações repentinas. Foi um longo esforço, que levou Ana a convencer-se: não está condenada; não foi um castigo de Deus; a sua situação é uma tarefa que lhe foi confiada pelo Senhor a quem ela se consagrou: ser “missionária” assim, a partir do seu leito; a partir das suas feridas.
Finalmente, Ana descobriu a virtude e a missão da aceitação: não como uma imposição, mas como um acto da sua vontade: Ana ofereceu os seus sofrimentos ao Senhor. E ela tinha muitos a oferecer: os do infortúnio, na lavandaria e depois outros: paralisia total das pernas; endurecimento da medula espinhal; cancro intestinal... Apesar de tão magoada, ela falava dos seus "sonhos", ao Senhor e a São Francisco de Assis.
A partir de 1910, desenvolveu estigmas que tentava esconder e teve visões ocasionais que a deixavam em êxtase.
Muita gente começou a visitá-la em busca de ajuda e de apoio: Ana aconselha, anima e conforta os que a procuram. E reza!... Ela revelou-se magnificamente necessária, indispensável, aos saudáveis e seguros: naquela cama, estava sempre “de plantão”, para falar e até para escrever cartas. Não deixa “últimas palavras” ou qualquer recomendação, antes de morrer. Em Setembro de 1925, uma queda da cama tirou-lhe a voz. Da sua boca, como um sussurro, saiu uma palavra de fé e de amor: “Jesus, eu vivo em ti”.
Ana faleceu no dia 5 de Outubro de 1925. Depois da sua morte continuou a ser uma presença forte no mundo bávaro. Sepultada, inicialmente, no cemitério da aldeia, o seu corpo foi, posteriormente, transladado para a Igreja Paroquial de Mindelstetten.
Ana Schaeffer foi beatificada pelo Papa João Paulo II, em 17 de Março de 1999. Na Homilia disse o Papa: “…dirigimos o olhar para a Beata Ana Schäffer. Lemos, imediatamente, a sua vida como um comentário vivo daquilo que escreveu São Paulo: «A esperança não nos deixa confundidos porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações, pelo Espírito Santo que nos foi concedido» (Rm 5, 5).
Quanto mais a sua vida se tornava um caminho de sofrimento, tanto mais forte ela se tornava, consciente de que a doença e a debilidade podiam ser as linhas com as quais Deus escrevia o Seu evangelho. Chamava ao seu quarto de doente o «laboratório do sofrimento», a fim de se tornar sempre mais conforme à cruz de Cristo. Ela falava de três chaves celestes, que Deus lhe deu. «A maior, que é de ferro bruto e muito mais pesada que as outras, é o meu sofrimento. A segunda, é a agulha e a terceira, a caneta. Com estas três chaves quero trabalhar fielmente todos os dias, para conseguir abrir a porta do céu».
Entre dores atrozes, Ana Schäffer tornou-se consciente de quanto cada um dos cristãos é responsável pela santidade do seu próximo, e, por isso, ela tem necessidade da caneta. O seu leito de doença torna-se lugar dum amplo apostolado através da correspondência. As poucas forças que lhe restam, dedica-as aos bordados a fim de proporcionar alegria aos outros. Seja quando escreve seja quando borda, o seu motivo preferido é o coração de Jesus, símbolo do amor de Deus. Representa as chamas, que saem do coração de Jesus, não como línguas de fogo, mas como espigas de trigo. A referência à Eucaristia, que Ana Schäffer recebe quotidianamente do seu pároco, é única e inconfundível. O coração de Jesus, assim representado, será, por isso, o atributo da nova Beata…”
Foi canonizada pelo Papa Bento XVI, no dia 21 de Outubro de 2012. Palavras do Papa: “…A jovem Ana Schäffer, de Mindelstetten, quis entrar em uma congregação missionária. Nascida numa família humilde, ela conseguiu, trabalhando como doméstica, acumular o dote necessário para poder entrar no convento. Neste emprego, sofreu um grave acidente com queimaduras incuráveis nos seus pés, que a prenderam em um leito pelo resto da vida. Foi assim que o seu quarto de enferma se transformou numa cela conventual, e o seu sofrimento, em serviço missionário. Inicialmente, revoltou-se contra o seu destino, mas em seguida, compreendeu que a sua situação era uma chamada amorosa do Crucificado para que O seguisse. Fortalecida pela comunhão diária, tornou-se uma intercessora incansável através da oração e um espelho do amor de Deus para as numerosas pessoas que procuravam conselho. Que o seu apostolado de oração e de sofrimento, de oferta e de expiação seja para os crentes da sua terra um exemplo luminoso e que a sua intercessão fortaleça a actuação abençoada dos centros cristãos de curas paliativas para doentes terminais.
A sua memória litúrgica é celebrada no dia 5 de Outubro.