SANTA MARIA MICAELA DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO
Maria Micaela
Desmaisières y López de Dicastillo nasceu em Madrid, Espanha, no dia 1 de
Janeiro de 1809, numa família da nobreza espanhola. O seu pai, Miguel Desmaissières
y Flores, tinha antepassados militares, originários da Flandres, no norte da
Bélgica. A sua mãe, Bernarda López de Dicastillo y Olmeda, Condessa de la Vega
del Pozo e Marquesa de los Llanos de Alguazas, descendia de uma família de
Navarra.
Foi batizada três dias após o nascimento, na paróquia de São José, em Madrid. Devido à situação política, a sua mãe - dama de companhia da rainha Maria Luísa de Parma, esposa do rei Carlos IV - deixou o seu posto para seguir o seu marido, brigadeiro do exército espanhol.
Micaela recebeu uma educação digna da sua posição, frequentando o Colégio das Irmãs Ursulinas, de Pau, na França. No entanto, alguns acontecimentos dolorosos ocorreram na sua família. Em 1822, o seu pai morreu devido aos ferimentos sofridos durante a Guerra da Independência. Três anos depois, o seu irmão Luis, também soldado de carreira, perdeu a vida numa queda de cavalo. Na mesma época, uma das suas irmãs, Engrácia, sofreu um grande trauma que a deixou com a sua saúde mental seriamente comprometida.
Após todos esses acontecimentos, a sua mãe retirou as filhas restantes do internato e completou a sua educação em casa, ensinando-lhes tudo o que precisavam de saber para se tornarem boas donas de casa.
Micaela revelou um grande talento artístico: pintava quadros religiosos e miniaturas e tocava harpa. Ela aprendeu, também, a montar, tornando-se uma amazona experiente.
Nos verões, passava férias, com a família, em Guadalajara, onde a sua mãe havia herdado uma casa de campo.
Durante a epidemia de cólera, que atingiu a cidade, em 1834, Micaela foi a primeira a levar socorro às vítimas, dando um exemplo de nobreza de espírito e de caridade cristã.
A partir de 26 de Fevereiro de 1838, foi-lhe concedido o título vitalício de Viscondessa de Jorbalán, concedido pela sua mãe.
Apesar de ser profundamente devota da Eucaristia, como a sua mãe lhe havia incutido, Micaela não sentia necessidade de uma maior exigência e compromisso no seu viver religioso. Nunca lhe passara pela cabeça consagrar-se, de maneira especial, a Deus. Como jovem do seu tempo, o mais natural era seguir pelo caminho do casamento: era considerada um excelente partido e já tivera alguns namorados. Tudo mudou quando Francisco Javier Fernández de Henestrosa y Santisteban, filho do Marquês de Villadarias, a pediu em casamento.
O relacionamento durou três anos, durante os quais os dois jovens fizeram a experiência de um verdadeiro amor. No entanto, na véspera do casamento, o Marquês rompeu o noivado: estava financeiramente arruinado por causa do seu apoio à causa carlista (ele apoiava Dom Carlos de Espanha, que se considerava o herdeiro legítimo do trono). Nestas circunstâncias, o Marquês de Villadarias, pai de Francisco, decidiu procurar uma noiva, mais rica, para o seu filho, que pudesse trazer um dote bem maior. Pela primeira vez, Micaela, profundamente humilhada, foi exposta à coscuvilhice da nobreza madrilena.
Em 1841, morreu a sua mãe. Dois anos depois, outra das suas irmãs, Manuela, também morreu, depois de ter sido forçada a seguir o seu marido, que havia sido exilado por razões políticas e foi tão cruel com ela que havia exigido para si a herança, que, na realidade, pertencia a Micaela.
Antes de morrer, a Condessa confiou Micaela aos cuidados do seu director espiritual, o jesuíta Padre Eduardo José Rodriguez de Carasa. Ele ajudou Micaela, dividida entre os seus deveres religiosos e as exigências da sua classe social, a escapar de uma vida dupla.
De acordo com as suas instruções, Maria Micaela levantava-se de madrugada para rezar, assistir à missa e passar o resto do dia a praticar obras de caridade, para que à noite pudesse comparecer a jantares, apresentações teatrais e a bailes. Ela tentava sorrir, mesmo durante as reuniões sociais, apesar de alguns problemas físicos: sofria, constantemente, de dores de estômago.
Em 1844, o Padre Carasa apresentou-a a Maria Inácia Rico de Grande, uma mulher em quem confiava, que, no dia 6 de Fevereiro, a levou, pela primeira vez, ao Hospital de São João de Deus, em Madrid, que abrigava várias mulheres, prostitutas e outras, que sofriam de doenças venéreas. Em particular, Micaela aproximou-se de uma jovem, filha de um banqueiro, que havia sido enganada por uma falsa marquesa, despojada de todos os seus bens, que acabou num bordel e contraiu a sífilis. Micaela conseguiu convencê-la a retornar à sua família.
Até então, ela desconhecia a situação daquelas mulheres, assim como desconhecia o destino ao qual corriam o risco de retornar após a libertação. A partir daquele episódio, Micaela concebeu a ideia de fundar algo para ajudar aquelas mulheres, vítimas da pobreza e da ignorância.
Por isso, fundou, em Madrid, em 21 de Abril de 1845, a Casa de Maria Santíssima das Abandonadas, que foi confiada a uma comissão de sete nobres voluntárias. A sua tarefa era educar as mulheres de rua, liberadas do hospital, ensinar-lhes os fundamentos da fé cristã e prepará-las para um trabalho digno.
Dois anos depois de empreender essa iniciativa, Micaela recebeu uma carta do seu irmão Diego, embaixador espanhol em Paris. Na carta, ele convidava-a para se juntar a ele porque a sua esposa, a Condessa de Sevillano, tinha dificuldade em adaptar-se ao novo ambiente.
Assim, confiando o trabalho à sua amiga, a Marquesa de Malpica, Micaela partiu para a França. Mais tarde, lembrou-se daquele período como um "ano perdido": ela adorava as últimas modas e sempre queria ser o centro das atenções. A sua religiosidade era pouco mais do que formal, com novenas e orações praticadas com indiferença.
Em Abril de 1847, porém, ela participou num retiro de espiritualidade. No dia 23 de Maio, festa de Pentecostes, ela recebeu uma "luz interior", para usar as suas próprias palavras: "Compreendi que Deus era tão grande, tão poderoso, tão bom, tão amoroso, tão misericordioso, que decidi não servir a mais ninguém a não ser o Senhor que reúne tudo isso para preencher meu coração."
A certeza da presença real de Cristo gerou nela confiança e abandono n’Ele, que lhe proveria tudo o que a sua alma e o seu trabalho necessitavam. Deus dotou-a de graças especiais, enquanto os seus esforços ascéticos se dirigiam principalmente à bondade, à humildade e à obediência.
Micaela continuou o seu compromisso, estendendo, juntamente com o Padre François de la Bouillerie, o culto eucarístico a Paris; fez o mesmo em Bruxelas, onde seguiu o seu irmão e a sua esposa. Tentou entrar nas Filhas da Caridade, em Paris; depois, nas Visitandinas. Devido à oposição do seu irmão e dos seus confessores, teve que desistir, continuando a sua vida de longa oração e penitência.
Ao voltar a Madrid, encontrou o Lar em condições precárias. Então retomou a sua administração. Depois de tentar confiar a sua gestão a professores leigos e, em seguida, a algumas Irmãs da Sagrada Família de Bordéus, decidiu, tendo compreendido a vontade de Deus, permanecer ao lado das suas filhas, a partir de 12 de Outubro de 1850.
Seguiram-se anos de árduo sacrifício: gastou a sua fortuna a sustentar o colégio, chegando mesmo a pedir esmolas. Encontrou duras hostilidades ao seu trabalho: foi caluniada, difamada e ameaçada de morte; o colégio correu mesmo o risco de ser incendiado.
Micaela foi deixada sozinha, até mesmo por clérigos que consideravam o seu trabalho inútil. O pároco local chegou mesmo a recusar-lhe a permissão para guardar o Santíssimo Sacramento na Capela do Colégio. Mas, ela respondeu-lhe que, se o Senhor se fosse embora, ela iria com Ele. Possuía um carácter tenaz, semelhante ao do seu pai, fortalecido pelas provações que enfrentara.
Em 1856, com a morte do Padre Rodríguez de Carasa, o Padre Antonio Maria Claret (canonizado em 1950) assumiu a sua direcção espiritual. Ele já conhecia Micaela do seu tempo como confessor na corte espanhola.
Ajudou-a, não apenas na sua vida pessoal, mas também na elaboração das Constituições. Assim, nasceram as Irmãs Adoradoras, Servas do Santíssimo Sacramento e da Caridade, aprovadas pelo Cardeal Arcebispo de Toledo, em 25 de Abril de 1858.
Em 6 de Janeiro de 1859, Micaela e as suas primeiras sete companheiras fizeram os votos temporários. Em 15 de Junho de 1860, somente ela emitiu os votos perpétuos: agora era Madre Maria Michela do Santíssimo Sacramento (abreviadamente Madre Sacramento) e foi nomeada Superiora- Geral.
A congregação recebeu o decreto pontifício de louvor em 15 de Setembro de 1860, enquanto as Constituições receberam aprovação inicial, para um período probatório de cinco anos, em 23 de Setembro de 1861, seguida pela aprovação papal definitiva, em 24 de Novembro de 1866.
Assim, a fundadora indicou, nas Constituições, os propósitos da nova congregação: por um lado, a adoração contínua do Santíssimo Sacramento; por outro, tratar com benevolência e verdadeira caridade as meninas órfãs ou infelizes que desejassem abandonar a vida de corrupção e escândalo a que se entregaram, proporcionando-lhes a educação e a criação necessárias.
A Madre Maria Micaela, devido à sua nobreza, não foi esquecida pela Corte Espanhola: de facto, a Rainha Isabel II chamou-a de volta para a sua casa. O encontro dessas duas mulheres foi benéfico para as actividades religiosas e sociais, que também se multiplicaram noutros ramos.
Em 1865, a cólera atingiu a Espanha novamente, particularmente em Valência, onde havia um Colégio de Adoradoras. A Madre Fundadora correu, mais uma vez, para a linha da frente, para ajudar as suas filhas, colegas freiras e as meninas que ela ajudava, que haviam sido infectadas. Ela, também, foi atingida pela doença e morreu no dia 24 de Agosto de 1865. Foi enterrada na cidade de Valência, no cemitério, numa vala comum.
À sua morte, a Congregação estava a crescer: já estavam a funcionar sete colégios e havia outros planeados. A Madre Maria Micaela deixou uma imensa riqueza de escritos: as Regras da Congregação, cartas, relatos de viagens, a sua autobiografia, notas espirituais íntimas de exercícios e retiros, o seu testamento e muitos outros.
Em 1889, o processo de beatificação foi iniciado na diocese de Valência.
Em 1891, os seus restos mortais foram transferidos do cemitério para a casa das Servas Adoradoras da cidade e colocados num artístico sarcófago.
De acordo com as normas da época, dois milagres foram aprovados para a sua beatificação, em 1925. No dia 7 de Junho de 1925, o Papa Pio XI proclamou-a Beata e, em 4 de Março de 1934, proclamou-a Santa.
A memória litúrgica de Santa Maria Micaela é celebrada no dia 15 de Junho.
Hoje, as Servas Adoradoras do Santíssimo Sacramento e da Caridade dão continuidade à missão indicada pela sua fundadora por meio de escolas, colégios e casas de acolhimento para mulheres e meninas vítimas de prostituição ou em risco de marginalização. Estão presentes em 25 países.
Foi batizada três dias após o nascimento, na paróquia de São José, em Madrid. Devido à situação política, a sua mãe - dama de companhia da rainha Maria Luísa de Parma, esposa do rei Carlos IV - deixou o seu posto para seguir o seu marido, brigadeiro do exército espanhol.
Micaela recebeu uma educação digna da sua posição, frequentando o Colégio das Irmãs Ursulinas, de Pau, na França. No entanto, alguns acontecimentos dolorosos ocorreram na sua família. Em 1822, o seu pai morreu devido aos ferimentos sofridos durante a Guerra da Independência. Três anos depois, o seu irmão Luis, também soldado de carreira, perdeu a vida numa queda de cavalo. Na mesma época, uma das suas irmãs, Engrácia, sofreu um grande trauma que a deixou com a sua saúde mental seriamente comprometida.
Após todos esses acontecimentos, a sua mãe retirou as filhas restantes do internato e completou a sua educação em casa, ensinando-lhes tudo o que precisavam de saber para se tornarem boas donas de casa.
Micaela revelou um grande talento artístico: pintava quadros religiosos e miniaturas e tocava harpa. Ela aprendeu, também, a montar, tornando-se uma amazona experiente.
Nos verões, passava férias, com a família, em Guadalajara, onde a sua mãe havia herdado uma casa de campo.
Durante a epidemia de cólera, que atingiu a cidade, em 1834, Micaela foi a primeira a levar socorro às vítimas, dando um exemplo de nobreza de espírito e de caridade cristã.
A partir de 26 de Fevereiro de 1838, foi-lhe concedido o título vitalício de Viscondessa de Jorbalán, concedido pela sua mãe.
Apesar de ser profundamente devota da Eucaristia, como a sua mãe lhe havia incutido, Micaela não sentia necessidade de uma maior exigência e compromisso no seu viver religioso. Nunca lhe passara pela cabeça consagrar-se, de maneira especial, a Deus. Como jovem do seu tempo, o mais natural era seguir pelo caminho do casamento: era considerada um excelente partido e já tivera alguns namorados. Tudo mudou quando Francisco Javier Fernández de Henestrosa y Santisteban, filho do Marquês de Villadarias, a pediu em casamento.
O relacionamento durou três anos, durante os quais os dois jovens fizeram a experiência de um verdadeiro amor. No entanto, na véspera do casamento, o Marquês rompeu o noivado: estava financeiramente arruinado por causa do seu apoio à causa carlista (ele apoiava Dom Carlos de Espanha, que se considerava o herdeiro legítimo do trono). Nestas circunstâncias, o Marquês de Villadarias, pai de Francisco, decidiu procurar uma noiva, mais rica, para o seu filho, que pudesse trazer um dote bem maior. Pela primeira vez, Micaela, profundamente humilhada, foi exposta à coscuvilhice da nobreza madrilena.
Em 1841, morreu a sua mãe. Dois anos depois, outra das suas irmãs, Manuela, também morreu, depois de ter sido forçada a seguir o seu marido, que havia sido exilado por razões políticas e foi tão cruel com ela que havia exigido para si a herança, que, na realidade, pertencia a Micaela.
Antes de morrer, a Condessa confiou Micaela aos cuidados do seu director espiritual, o jesuíta Padre Eduardo José Rodriguez de Carasa. Ele ajudou Micaela, dividida entre os seus deveres religiosos e as exigências da sua classe social, a escapar de uma vida dupla.
De acordo com as suas instruções, Maria Micaela levantava-se de madrugada para rezar, assistir à missa e passar o resto do dia a praticar obras de caridade, para que à noite pudesse comparecer a jantares, apresentações teatrais e a bailes. Ela tentava sorrir, mesmo durante as reuniões sociais, apesar de alguns problemas físicos: sofria, constantemente, de dores de estômago.
Em 1844, o Padre Carasa apresentou-a a Maria Inácia Rico de Grande, uma mulher em quem confiava, que, no dia 6 de Fevereiro, a levou, pela primeira vez, ao Hospital de São João de Deus, em Madrid, que abrigava várias mulheres, prostitutas e outras, que sofriam de doenças venéreas. Em particular, Micaela aproximou-se de uma jovem, filha de um banqueiro, que havia sido enganada por uma falsa marquesa, despojada de todos os seus bens, que acabou num bordel e contraiu a sífilis. Micaela conseguiu convencê-la a retornar à sua família.
Até então, ela desconhecia a situação daquelas mulheres, assim como desconhecia o destino ao qual corriam o risco de retornar após a libertação. A partir daquele episódio, Micaela concebeu a ideia de fundar algo para ajudar aquelas mulheres, vítimas da pobreza e da ignorância.
Por isso, fundou, em Madrid, em 21 de Abril de 1845, a Casa de Maria Santíssima das Abandonadas, que foi confiada a uma comissão de sete nobres voluntárias. A sua tarefa era educar as mulheres de rua, liberadas do hospital, ensinar-lhes os fundamentos da fé cristã e prepará-las para um trabalho digno.
Dois anos depois de empreender essa iniciativa, Micaela recebeu uma carta do seu irmão Diego, embaixador espanhol em Paris. Na carta, ele convidava-a para se juntar a ele porque a sua esposa, a Condessa de Sevillano, tinha dificuldade em adaptar-se ao novo ambiente.
Assim, confiando o trabalho à sua amiga, a Marquesa de Malpica, Micaela partiu para a França. Mais tarde, lembrou-se daquele período como um "ano perdido": ela adorava as últimas modas e sempre queria ser o centro das atenções. A sua religiosidade era pouco mais do que formal, com novenas e orações praticadas com indiferença.
Em Abril de 1847, porém, ela participou num retiro de espiritualidade. No dia 23 de Maio, festa de Pentecostes, ela recebeu uma "luz interior", para usar as suas próprias palavras: "Compreendi que Deus era tão grande, tão poderoso, tão bom, tão amoroso, tão misericordioso, que decidi não servir a mais ninguém a não ser o Senhor que reúne tudo isso para preencher meu coração."
A certeza da presença real de Cristo gerou nela confiança e abandono n’Ele, que lhe proveria tudo o que a sua alma e o seu trabalho necessitavam. Deus dotou-a de graças especiais, enquanto os seus esforços ascéticos se dirigiam principalmente à bondade, à humildade e à obediência.
Micaela continuou o seu compromisso, estendendo, juntamente com o Padre François de la Bouillerie, o culto eucarístico a Paris; fez o mesmo em Bruxelas, onde seguiu o seu irmão e a sua esposa. Tentou entrar nas Filhas da Caridade, em Paris; depois, nas Visitandinas. Devido à oposição do seu irmão e dos seus confessores, teve que desistir, continuando a sua vida de longa oração e penitência.
Ao voltar a Madrid, encontrou o Lar em condições precárias. Então retomou a sua administração. Depois de tentar confiar a sua gestão a professores leigos e, em seguida, a algumas Irmãs da Sagrada Família de Bordéus, decidiu, tendo compreendido a vontade de Deus, permanecer ao lado das suas filhas, a partir de 12 de Outubro de 1850.
Seguiram-se anos de árduo sacrifício: gastou a sua fortuna a sustentar o colégio, chegando mesmo a pedir esmolas. Encontrou duras hostilidades ao seu trabalho: foi caluniada, difamada e ameaçada de morte; o colégio correu mesmo o risco de ser incendiado.
Micaela foi deixada sozinha, até mesmo por clérigos que consideravam o seu trabalho inútil. O pároco local chegou mesmo a recusar-lhe a permissão para guardar o Santíssimo Sacramento na Capela do Colégio. Mas, ela respondeu-lhe que, se o Senhor se fosse embora, ela iria com Ele. Possuía um carácter tenaz, semelhante ao do seu pai, fortalecido pelas provações que enfrentara.
Em 1856, com a morte do Padre Rodríguez de Carasa, o Padre Antonio Maria Claret (canonizado em 1950) assumiu a sua direcção espiritual. Ele já conhecia Micaela do seu tempo como confessor na corte espanhola.
Ajudou-a, não apenas na sua vida pessoal, mas também na elaboração das Constituições. Assim, nasceram as Irmãs Adoradoras, Servas do Santíssimo Sacramento e da Caridade, aprovadas pelo Cardeal Arcebispo de Toledo, em 25 de Abril de 1858.
Em 6 de Janeiro de 1859, Micaela e as suas primeiras sete companheiras fizeram os votos temporários. Em 15 de Junho de 1860, somente ela emitiu os votos perpétuos: agora era Madre Maria Michela do Santíssimo Sacramento (abreviadamente Madre Sacramento) e foi nomeada Superiora- Geral.
A congregação recebeu o decreto pontifício de louvor em 15 de Setembro de 1860, enquanto as Constituições receberam aprovação inicial, para um período probatório de cinco anos, em 23 de Setembro de 1861, seguida pela aprovação papal definitiva, em 24 de Novembro de 1866.
Assim, a fundadora indicou, nas Constituições, os propósitos da nova congregação: por um lado, a adoração contínua do Santíssimo Sacramento; por outro, tratar com benevolência e verdadeira caridade as meninas órfãs ou infelizes que desejassem abandonar a vida de corrupção e escândalo a que se entregaram, proporcionando-lhes a educação e a criação necessárias.
A Madre Maria Micaela, devido à sua nobreza, não foi esquecida pela Corte Espanhola: de facto, a Rainha Isabel II chamou-a de volta para a sua casa. O encontro dessas duas mulheres foi benéfico para as actividades religiosas e sociais, que também se multiplicaram noutros ramos.
Em 1865, a cólera atingiu a Espanha novamente, particularmente em Valência, onde havia um Colégio de Adoradoras. A Madre Fundadora correu, mais uma vez, para a linha da frente, para ajudar as suas filhas, colegas freiras e as meninas que ela ajudava, que haviam sido infectadas. Ela, também, foi atingida pela doença e morreu no dia 24 de Agosto de 1865. Foi enterrada na cidade de Valência, no cemitério, numa vala comum.
À sua morte, a Congregação estava a crescer: já estavam a funcionar sete colégios e havia outros planeados. A Madre Maria Micaela deixou uma imensa riqueza de escritos: as Regras da Congregação, cartas, relatos de viagens, a sua autobiografia, notas espirituais íntimas de exercícios e retiros, o seu testamento e muitos outros.
Em 1889, o processo de beatificação foi iniciado na diocese de Valência.
Em 1891, os seus restos mortais foram transferidos do cemitério para a casa das Servas Adoradoras da cidade e colocados num artístico sarcófago.
De acordo com as normas da época, dois milagres foram aprovados para a sua beatificação, em 1925. No dia 7 de Junho de 1925, o Papa Pio XI proclamou-a Beata e, em 4 de Março de 1934, proclamou-a Santa.
A memória litúrgica de Santa Maria Micaela é celebrada no dia 15 de Junho.
Hoje, as Servas Adoradoras do Santíssimo Sacramento e da Caridade dão continuidade à missão indicada pela sua fundadora por meio de escolas, colégios e casas de acolhimento para mulheres e meninas vítimas de prostituição ou em risco de marginalização. Estão presentes em 25 países.