SÃO VICENTE DE PAULO
( segundo carta de João Paulo
II ao Superior-Geral dos Lazaristas, em 12 de Maio de 1981 )
Vicente de Paulo nasceu no
dia 24 de Abril de 1581 na aldeia de Pouy, nas “Landes”, França. Era o terceiro
filho de Jean Depaul e Bertrande Demoras. Depois da sua ordenação sacerdotal e da
sua estranha aventura de escravidão em Túnis, parece voltar as costas ao mundo
dos pobres, rumando a Paris, na expectativa de adquirir um benefício
eclesiástico. Conseguiu colocar-se como esmoler da rainha Margarida. Tal posto
fê-lo aproximar-se da miséria humana, especialmente no novo Hospital da
Caridade. É então que o Padre de Bérulle, fundador do Oratório em França, lhe
proporciona a oportunidade para as descobertas que foram a origem das grandes
realizações da sua vida. Inicialmente, Bérulle envia-o como Pároco para
Clichy-la- Garenne, nos arrabaldes de Paris. Quatro meses mais tarde, fá-lo
entrar na família de Gondi como preceptor dos filhos do General das Galeras.
Transitando continuamente com os Gondi pelos seus castelos e propriedades do
interior, Vicente de Paulo descobriu a terrível realidade da miséria material e
espiritual do “pobre povo do campo”. A partir de então, começa a interrogar- se:
era justo dedicar o seu ministério sacerdotal à educação de crianças de uma
família tão importante, enquanto os camponeses viviam e morriam em total
abandono? Ouvidas as dúvidas de Vicente, Bérulle encarrega-o da paróquia
abandonada de Châtillon-des-Dombes, onde o novo pastor adquire uma experiência
decisiva. Num Domingo de Agosto de 1617, foi chamado para visitar uma família,
cujos membros estavam todos doentes. Então, Vicente de Paulo assume a
organização da generosidade dos vizinhos e de pessoas de boa vontade: era o nascimento
da primeira “Caridade” que ia servir de modelo a tantas outras. E, daquele
momento até o último suspiro, não o abandonaria mais a convicção de que o
serviço dos pobres era a sua vida. Para melhor servir os pobres, Vicente
decidiu-se a “reunir eclesiásticos que, livres de quaisquer compromissos, se
aplicassem inteiramente, sob a orientação dos Bispos, à salvação do pobre povo
do campo, por meio da pregação, da catequese, das confissões gerais, sem disso auferir
retribuição alguma, qualquer que fosse a sua natureza ou modalidade”. O
Priorado de
São Lázaro, adquirido por
volta de 1632, motivou logo o apelido de “lazaristas” aos membros deste grupo
sacerdotal que cresceu rapidamente tendo-se implantado, em cerca de quinze dioceses,
realizando missões paroquiais e promovendo a fundação de “Caridades”. A Congregação
da Missão estendeu-se até à Itália, à Irlanda, à Polónia, à Argélia, a
Madagáscar. Vicente não cessa de inculcar nos seus companheiros “o espírito de
Nosso Senhor”, que ele compendia em cinco virtudes fundamentais: simplicidade,
mansidão em relação ao próximo, humildade em relação a si mesmo, e, enfim, como
condicionamento para estas três, a mortificação e o zelo, que seriam como que
os seus aspectos dinâmicos. Cheias de sabedoria espiritual e realismo pastoral,
eram as exortações que ele dirigia aos que partiam para pregar o Evangelho: não
se trata amar e de se fazer amar, mas sim de amar e fazer amar Jesus Cristo. Em
nome do Evangelho, exigia a simplicidade e que se falasse uma linguagem
imaginosa e convincente. Outro aspecto do dinamismo e do realismo de Vicente de
Paulo foi dotar as “Caridades”, já numerosas, de uma estrutura de unidade e
eficiência. Luísa de Marillac, viúva de António Le Gras - iniciada na vida
espiritual por São Francisco de Sales e depois acompanhada pelo próprio São
Vicente - foi por este enviada para visitar e estimular as “Caridades”. Cumpriu
maravilhosamente a missão, cujos ecos contribuíram muito para que várias “boas
moças do campo” que colaboravam com as “Caridades”, se decidissem a seguir-lhe o
exemplo de oblação total a Deus e aos pobres. No dia 29 de Novembro de 1633,
nascia a Companhia das Filhas da Caridade, recebendo de Vicente de Paulo um
regulamento original e exigente: “Tereis por mosteiros a sala dos doentes; por
cela, um quarto de aluguer; como capela, a igreja paroquial; como claustro, as
ruas da cidade; como clausura, a obediência; como grade, o temor de Deus; como
véu, a santa modéstia”. O espírito da Companhia foi assim resumido: “Deveis
fazer o que o Filho de Deus fez na terra; a estes pobres doentes, deveis dar a vida
do corpo e a vida da alma”. Vicente de Paulo faleceu no dia 27 de Setembro de
1660 e foi sepultado na capela-mãe da Igreja de São Lázaro, em Paris. Foi
canonizado pelo Papa Clemente XII em 16 de Junho de 1737. Em 12 de Maio de 1885
é declarado patrono de todas as obras de caridade da Igreja Católica, por Leão
XIII. A sua memória litúrgica faz-se a 27 de Setembro.