Ao voltar para sua família, durante vários anos, ajudou o seu pai a administrar a propriedade familiar, enquanto desenvolvia o desejo de se dedicar ao Senhor. Escrevendo um poema, confidenciou: "O coração é uma coisa verdadeiramente tempestuosa; raramente encontra um momento de serenidade".
Em 1853 e 1857, ela e a sua mãe participaram em retiros jesuítas - uma prática, na época, exclusiva para homens – durante os quais nasceu o seu grande amor pelas missões. Um dia, escreveu: "Tudo o que não leva a Deus é engano… Gostei, especialmente, de estudar as passagens do Evangelho que nos contam como, no tempo de Jesus, os apóstolos e as mulheres piedosas trabalharam juntos, por Cristo".
Aos vinte e quatro anos, contra a vontade do seu pai, mas com a permissão da mãe - que morreu repentinamente, pouco depois - entrou para o Convento do Sagrado Coração, em Blumenthal, perto de Aachen. Ocupou vários cargos em Warendolf e Orléans, França, mas embora estivesse feliz com o seu apostolado e próxima da sua profissão solene, sentia no seu coração que o Senhor tinha outros planos para ela. Então, deixou o Instituto, amigavelmente, em Março de 1863. Na carta de demissão, a fundadora - Santa Madalena Sofia Barat - escreveu: "…piedosa e bondosa... não se constatou que tivesse vocação para ser educadora". Foi uma experiência muito importante. Ao longo da sua vida, foi sempre uma grande devota do Sagrado Coração.
No dia em que deixou o Convento, ela e o seu pai foram ao Convento das Irmãs da Visitação - que também se dedicavam à educação das raparigas - mas essa experiência também foi breve, para constrangimento da sua família. Durante algum tempo, cuidou da casa e das irmãs, até que, em 1868, entrou na Congregação da Adoração Perpétua, em Bruxelas, com atribuições também em Liège.
Ela viu, com os seus próprios olhos, o quanto era necessário o apostolado entre os pobres. Ela escreveu: "Milhares de alemães pobres emigram para Liège porque, como não há escolaridade obrigatória para as crianças, elas são enviadas para trabalhar nas minas de carvão. Assim, tornam-se vítimas da corrupção, sem religião, arruinadas espiritual e fisicamente." Na altura, falou-se da criação de uma fundação na Alemanha, mas o projecto nunca se concretizou. Eram os anos da Kulturkampf, [significa, em alemão, ‘luta cultural’: foi a tentativa, por parte do chanceler alemão, Otto von Bismarck - protestante convicto - para submeter a Igreja Católica Romana ao controlo do Estado. O termo entrou em uso em 1873, quando o cientista e estadista liberal prussiano Rudolf Virchow declarou que a batalha contra os católicos romanos estava a assumir o carácter de uma grande luta em favor da humanidade] caracterizada por perseguições anticlericais; pela expulsão dos Bispos e dos padres; destruição das estruturas diocesanas e pelo encerramento dos seminários.*
Dois anos depois do início deste conflito, Maria Teresa voltou para casa.
Em 1872, Teresa conheceu o pároco de Neuwerk, que se tornou seu director espiritual. Ela ia a pé, todos os dias, para visitá-lo, fizesse chuva ou fizesse sol. Começaram a falar sobre uma nova fundação. Entre os seus escritos, lemos: “Quero entregar-me inteiramente a Ti, totalmente, para o que quer que queiras. Quero desaparecer em completa humildade como Teu pobre instrumento.” “Ó Senhor! Deves ter lançado uma faísca de amor no meu coração; e quando penso nos descrentes, sinto uma profunda tristeza.”
Em 1876, ela alugou (e mais tarde comprou) parte do antigo mosteiro beneditino de Neuwerk e abriu, ali, o Instituto Santa Bárbara para cuidar de órfãos, meninas e mulheres solteiras. Diante das dificuldades da época, tentou, sem sucesso, fundir-se com um instituto semelhante. Entre outros, conheceu Santo Arnaldo Janssen [sacerdote católico alemão, fundador da Sociedade do Verbo Divino (SVD), uma ordem religiosa missionária que está presente em todos os continentes. Foi canonizado pelo papa João Paulo II, no dia 5 de Outubro de 2003].
O ponto de virada aconteceu depois de ler, num jornal, um anúncio do Instituto do Ensino Apostólico. No dia 4 de Julho de 1882, ela conheceu o jovem padre João Baptista Jordan (mais tarde, adoptou o nome Francisco Maria da Cruz Jordan), que tinha fundado este Instituto, em Roma, seis anos antes (o termo Apostólico foi, posteriormente, substituído por Católico). A diferença de idade entre os dois era de quinze anos, e as suas origens sociais também eram diferentes (o Padre Jordan era de origem humilde), mas os seus corações, imediatamente, começaram a bater como um só. No seu diário, Teresa escreveu: “Dificilmente poderia ter sentido uma alegria maior! Ele impressionou-me pelo seu grande zelo apostólico. O meu único e sincero desejo é pertencer, cada vez mais firmemente, a este Instituto, até à morte. Bom Deus, a Ti eterna gratidão.”
Dois meses após o primeiro encontro, Teresa (que tinha quarenta e nove anos) entrou neste Instituto com votos privados, dedicando-lhe "o seu convento". Em Roma, a Madre Streitel era a Superiora das Irmãs do Instituto. Em Julho de 1884, Teresa esteve, por pouco tempo, em Roma, durante um período de conflito entre o Padre Jordan e a Madre Streitel. A Madre Streitel, desejando imprimir uma marca franciscana ao seu trabalho, separou-se do Instituto, fundando as ‘Irmãs de Nossa Senhora das Dores’.
Teresa, entretanto, voltou a Neuwerk e passou vários anos em incerteza, até Novembro de 1888, quando, com um pequeno grupo de outras freiras, foi chamada pelo Padre Jordan a Tivoli, em Itália.
No dia 8 de Dezembro de 1888, foi fundado o novo ramo feminino do Instituto do Ensino Católico; Teresa foi eleita Superiora, adoptando o nome ‘Irmã Maria dos Apóstolos’.
A nova Congregação rapidamente tornou-se popular, com vocações vindas da Alemanha, da Suíça, da Áustria, da Hungria e Tirol do Sul. Desde o início, o espírito foi internacional e missionário, tanto que, após alguns anos, a Madre Maria enviou as primeiras freiras para a Índia e para o Equador, acompanhando-as sempre com grande dedicação, por meio de correspondência. Em Tivoli, em 1894, foi inaugurado um Seminário para a formação de professoras, visando o aprimoramento das freiras, sob o olhar atento do Padre Jordan. Pouco depois, uma epidemia de tifo eclodiu e algumas freiras foram alojadas em Roma, enquanto chegavam da Alemanha as tristes notícias da morte do pai de Teresa. À medida que a Obra recebia o seu nome definitivo, Congregação do Divino Salvador, concretizou-se o desejo de transferir a casa-mãe para mais perto da Basílica de São Pedro. Tivoli permaneceria como a sede do noviciado por muitos anos, onde, em diversas ocasiões, a Madre Maria demonstrou carinho maternal pelas noviças (chegando a brincar de cabra-cega com elas).
A obediência ao Fundador foi sempre um dever para a Irmã Maria dos Apóstolos. Quando surgiam desentendimentos e descontentamentos, em Tivoli, eram superados com amor e humildade. Entretanto, foram abertas novas casas: nos Estados Unidos, Suíça, Hungria, Áustria e Bélgica. No final de 1905, foi realizado o Primeiro Capítulo, da Ordem, com a Madre, já doente e idosa, quase cega. No entanto, ela foi reeleita. Infelizmente a sua saúde, suportada com paciência religiosa, piorou progressivamente, com crises de asma e problemas de mobilidade.
Dois anos depois, a meningite provou-se fatal: a Irmã Morte surpreendeu-a, justamente, quando as suas Irmãs estavam na igreja, para a Missa da Noite de Natal.
No dia 4 de Agosto de 1903, ela tinha escrito o seu testamento espiritual: “Humildemente espero que as minhas boas Irmãs rezem muito por mim. Que continuem a trabalhar com santo zelo pela sua própria perfeição, sempre buscando fazer o verdadeiro bem aos outros, mantendo-se firmes no Espírito do Fundador.”
A Madre Maria dos Apóstolos (Maria Teresa von Wüllenweber) foi beatificada, no dia 13 de Outubro de 1968, pelo Papa Paulo VI.
A sua memória litúrgica é celebrada no 5 de Setembro.
* Para ler mais, se tiver interesse
O conflito da Kulturkampf começou em Julho
de 1871, quando Bismarck, apoiado pelos liberais, aboliu o Gabinete Católico Romano,
no Ministério prussiano da Cultura ( ou seja, ministério
da educação e dos assuntos eclesiásticos) e em Novembro proibiu os padres
de expressar opiniões políticas, no púlpito. Em Março de 1872, todas as escolas
religiosas foram submetidas à inspecção do Estado; em Junho, todos os
professores religiosos foram excluídos das escolas públicas e a Companhia de
Jesus (dos jesuítas) foi dissolvida, na Alemanha; em Dezembro as relações
diplomáticas com o Vaticano foram rompidas. Em 1873, as Leis de Maio, promulgadas pelo
ministro da cultura prussiano, Adalbert Falk, colocava o ensino religioso sob o
controlo exclusivo do Estado, até mesmo as nomeações eclesiásticas, dentro da Igreja.
O clímax da luta veio em 1875, quando o casamento civil foi tornado obrigatório
em toda a Alemanha . As dioceses que não cumpriam os regulamentos do
Estado foram excluídas dos auxílios estatais e o clero desobediente foi exilado
Os católicos romanos, no entanto,
resistiram fortemente às medidas de Bismarck e opuseram-se a ele, efectivamente,
no Parlamento alemão, onde duplicaram a sua representação, nas eleições de
1874. Bismarck, um pragmático, decidiu recuar. Reconheceu que muitas das
medidas foram excessivas e serviram apenas para fortalecer a resistência do
Partido de Centro, de cujo apoio ele precisava para o seu novo impulso contra
os social-democratas. O advento de um novo Papa, em 1878, facilitou o
compromisso. Em 1887, quando Leão XIII declarou encerrado o conflito, a maior
parte da legislação anticatólica tinha sido revogada ou reduzida na sua severidade.
A luta teve como consequência assegurar o controlo do Estado sobre a educação e
os registros públicos, mas também afastou uma geração de católicos romanos da
vida nacional alemã.
