Mensagem do Papa Bento XVI ( transmitida pela BBC no dia 24/12/2010 )
“(… ) É para mim uma grande alegria ter a oportunidade de vos dirigir a minha saudação, mais ainda – de dirigir os meus votos de boas festas para todos os ouvintes, onde quer que se encontrem, quando nos aprestamos a celebrar o nascimento de Cristo.
O nosso pensamento concentra-se num momento da história em que o povo escolhido por Deus, os filhos de Israel, vivia uma intensa expectativa. Esperavam o Messias que Deus tinha prometido enviar, e descreviam-no como um grande chefe que os iria libertar do domínio estrangeiro, restituindo-lhes a liberdade. Deus é sempre fiel às suas promessas mas, muitas vezes, surpreende-nos pelo modo de as realizar. O menino nascido em Belém trouxe, sim, a libertação, mas não só para as pessoas daquele tempo e daquele lugar. Iria ser o Salvador de todos, em qualquer lugar do mundo e em qualquer tempo da história. E a libertação que Ele trazia não era política, concretizada com meios militares: pelo contrário, Cristo destruiu a morte para sempre e renovou a vida por meio da sua morte ignominiosa, na cruz.
E embora tenha nascido na pobreza e no escondimento, longe dos centros do poder terreno, Ele era o próprio Filho de Deus. Por nosso amor, Ele tomou sobre si a nossa condição humana, a nossa fragilidade, a nossa vulnerabilidade, e abriu para nós a via que leva à plenitude da vida, à participação na própria vida de Deus.
Ao mesmo tempo que meditamos nos nossos corações sobre este grande mistério, neste Natal, damos graças a Deus pela sua bondade para connosco e anunciamos, com alegria, a quem está à nossa volta, a boa nova de que Deus oferece a liberdade de tudo aquilo que nos oprime: dá-nos esperança, traz-nos vida.
Caros amigos (…) de todas as partes do mundo (…), desejo que saibais que vos tenho a todos
muito presentes nas minhas orações neste tempo santo.
Rezo pelas vossas famílias, pelos vossos filhos, pelos doentes, por todos os que sofrem por qualquer dificuldade, neste tempo. Rezo especialmente pelos idosos e por aqueles que se aproximam do termo dos seus dias. Peço a Cristo, luz das nações, que afaste das vossas vidas toda a obscuridade e que dê a cada um de vós a graça de um Natal de paz e de alegria. Que o Senhor vos abençoe a todos.”
PALAVRA COM SENTIDO
PALAVRA COM SENTIDO
“…José, filho de David, não temas…? (cf. Mateus 1, 20)
Neste quarto e último domingo de Advento, o Evangelho (cf. Mt 1, 18-24) guia-nos rumo ao Natal através da experiência de São José, uma figura aparentemente secundária, mas em cuja atitude está encerrada toda a sabedoria cristã. Com João Baptista e Maria, ele é um dos personagens que a liturgia nos propõe para o tempo de Advento; e dos três, é o mais modesto. Alguém que não prega, não fala, mas procura cumprir a vontade de Deus; e fá-lo no estilo do Evangelho e das Bem-Aventuranças. Pensemos: «Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu» (Mt 5, 3). E José é pobre porque vive do essencial, trabalha, vive do trabalho; é a pobreza típica daqueles que estão conscientes de que em tudo dependem de Deus e n’Ele depositam toda a sua confiança.
A narração evangélica de hoje apresenta uma situação humanamente constrangedora e contrastante. José e Maria são noivos; ainda não vivem juntos, mas ela está grávida de um menino por obra de Deus. Perante esta surpresa, naturalmente José sente-se perturbado, mas em vez de reagir de maneira impulsiva e punitiva – segundo a tradição, dado que a lei o protegia – procura uma solução que respeite a dignidade e a integridade da sua amada Maria. O Evangelho diz assim: «José, seu esposo, que era um homem justo e não queria difamá-la, resolveu deixá-la secretamente» (v. 19). Com efeito, José sabia bem que se tivesse denunciado a sua esposa, tê-la-ia exposto a graves consequências, até mesmo à morte. Tem plena confiança em Maria, que ele escolheu como sua esposa. Não entende, mas procura outra solução.
Esta circunstância inexplicável leva-o a questionar o seu vínculo; por isso, com grande sofrimento, decide separar-se de Maria sem criar escândalo. Mas o Anjo do Senhor intervém para lhe dizer que a solução por ele imaginada não é a desejada por Deus. Aliás, o Senhor abriu-lhe um novo caminho, uma senda de união, de amor e de felicidade, dizendo-lhe: «José, filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que Ela concebeu é obra do Espírito Santo» (v. 20).
Nesta altura, José confia totalmente em Deus, obedece às palavras do Anjo e recebe Maria. Foi precisamente esta confiança inabalável em Deus que lhe permitiu aceitar uma situação humanamente difícil e, em certo sentido, incompreensível. Na fé, José compreende que o menino gerado no ventre de Maria não é seu filho, mas o Filho de Deus, e ele, José, será o seu guardião, assumindo plenamente a sua paternidade terrena. O exemplo deste homem, manso e sábio, exorta-nos a elevar o olhar e a impeli-lo mais além. Trata-se de recuperar a surpreendente lógica de Deus que, longe de pequenos ou grandes cálculos, é feita de abertura a novos horizontes, a Cristo e à sua Palavra.
A Virgem Maria e o seu casto esposo José nos ajudem a pôr-nos à escuta de Jesus que vem e que pede para ser acolhido nos nossos projetos e nas nossas escolhas. (cf. Papa Francisco, na Oração do Angelus, na Praça de São Pedro, Roma, no dia 22 de Dezembro de 2019)
