Durante a oração do Angelus, em Roma, no dia 22 de Maio
“O Evangelho do Domingo de hoje, o Quinto de Páscoa, propõe um duplo mandamento da fé: crer em Deus e crer em Jesus. O Senhor, de facto, diz aos seus discípulos: “Credes em Deus, crede também em mim” (Jo 14,1). Não são dados separados, mas um único acto de fé, a plena adesão à salvação realizada por Deus Pai, mediante o seu Filho Unigénito. O Novo Testamento pôs fim à invisibilidade do Pai. Deus mostrou o seu rosto, como confirma a resposta de Jesus ao apóstolo Felipe: “Aquele que me viu, viu também o Pai (Jo 14, 9). O Filho de Deus, com a sua encarnação, morte e ressurreição, libertou-nos da escravidão do pecado, para nos dar a liberdade de filhos de Deus, e revelou-nos o rosto de Deus, que é amor: Deus pode ser visto, é visível em Cristo. Santa Teresa de Ávila escreveu que “não devemos afastar-nos do que constitui todo o nosso bem e o nosso remédio, quer dizer, da santíssima humanidade de Nosso Senhor Jesus Cristo”. Portanto, só crendo em Cristo, permanecendo unidos a Ele, os discípulos, entre os quais estamos nós, podem continuar a sua acção permanente na história: “Em verdade, em verdade vos digo: aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço (Jo 14, 12).
A fé em Jesus implica segui-lo quotidianamente, nas simples acções que compõem a nossa jornada. “É próprio do mistério de Deus actuar de modo oculto. Só pouco a pouco Ele constrói na grande história da humanidade a sua história. Faz-se homem mas de maneira que possa ser ignorado pelos seus contemporâneos, pelas forças que contam na história. Sofre e morre e, como Ressuscitado, quer chegar à humanidade só através da fé dos seus, a quem se manifesta. Continuamente Ele bate às portas do nosso coração e, se abrimos, pouco a pouco, torna-nos capazes de O ‘ver’. Santo Agostinho afirma: “era necessário que Jesus dissesse: ‘eu sou o caminho, a verdade e a vida’ (Jo 14, 6), porque, uma vez conhecido o caminho, faltava conhecer a meta” e a meta é o Pai. Para os cristãos, para cada um de nós, portanto, o Caminho para o Pai é deixar-se guiar por Jesus, pela sua palavra de Verdade, e acolher o dom da sua Vida. Façamos nosso o convite de São Boaventura: “Abre, portanto, os olhos; tem um ouvido espiritual; abre os teus lábios e dispõe o teu coração, para que possas, em todas as criaturas, ver, escutar, louvar, amar, venerar, glorificar, honrar o teu Deus”.
