“…Desejamos que este Ano
suscite, em cada crente, o anseio de confessar a fé plenamente e com renovada convicção,
com confiança e esperança. Será uma ocasião propícia, também, para intensificar
a celebração da fé na liturgia, particularmente na Eucaristia, que é «a meta para
a qual se encaminha a acção da Igreja e a fonte de onde promana toda a sua
força». Simultaneamente esperamos que o testemunho de vida dos crentes cresça
na sua credibilidade. Descobrir novamente os conteúdos da fé professada,
celebrada, vivida e rezada e reflectir sobre o próprio acto com que se crê, é
um compromisso que cada crente deve assumir, sobretudo neste Ano. Não foi sem
razão que, nos primeiros séculos, os cristãos eram obrigados a aprender de memória
o Credo. É que este servia-lhes de oração diária, para não esquecerem o
compromisso assumido com o Baptismo. Recorda-o, com palavras densas de
significado, Santo Agostinho quando afirma numa homilia sobre a redditio
symboli (a entrega do Credo): «O símbolo do santo mistério, que recebestes
todos juntos e que hoje proferistes um a um, reúne as palavras sobre as quais
está edificada com solidez a fé da Igreja, nossa Mãe, apoiada no alicerce
seguro que é Cristo Senhor. E vós recebeste-lo e proferiste-lo, mas deveis
tê-lo sempre presente na mente e no coração, deveis repeti-lo nos vossos
leitos, pensar nele nas praças e não o esquecer durante as refeições; e, mesmo
quando o corpo dorme, o vosso coração continue de vigília por ele». ( cf. Bento
XVI, in Porta Fidei, nº 9)
PALAVRA COM SENTIDO
PALAVRA COM SENTIDO
“… Aumenta a nossa fé…” (cf. Lucas 17,5)
A página do Evangelho de hoje (cf. Lc 17, 5-10) apresenta o tema da fé, introduzido pela pergunta dos discípulos: «Aumenta a nossa fé!» (v. 6). Uma bela oração, que devemos recitar muito durante o dia: «Senhor, aumenta a minha fé!». Jesus responde com duas imagens: o grão de mostarda e o servo disponível. «Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a essa amoreira: “Arranca-te daí e planta-te no mar”, e ela havia de vos obedecer» (v. 6). A amoreira é uma árvore forte, bem enraizada na terra e resistente aos ventos. Portanto, Jesus quer fazer compreender que a fé, ainda que pequena, pode ter a força de erradicar até mesmo uma amoreira. E depois transplantá-la no mar, o que é algo ainda mais improvável: mas nada é impossível para aqueles que têm fé, porque eles não confiam nas suas próprias forças, mas em Deus, que tudo pode.
A fé comparável com o grão de mostarda é uma fé que não é soberba nem autoconfiante; não pretende ser a de um grande crente, por vezes fazendo má figura! É uma fé que na sua humildade sente uma grande necessidade de Deus e na sua pequenez abandona-se com plena confiança a Ele. É a fé que nos dá a capacidade de olhar com esperança para os altos e baixos da vida, que nos ajuda a aceitar até mesmo as derrotas e os sofrimentos, sabendo que o mal nunca teve, nunca terá, a última palavra.
Como podemos compreender se realmente temos fé, isto é, se a nossa fé, ainda que pequena, é genuína, pura, direta? Jesus nolo explica indicando qual é a medida da fé: o serviço. E fá-lo com uma parábola que, à primeira vista, é um pouco desconcertante, pois apresenta a figura de um senhor arrogante e indiferente. Mas precisamente este modo de fazer do mestre faz sobressair qual é o verdadeiro centro da parábola, ou seja, a atitude de disponibilidade do servo. Jesus quer dizer que o homem de fé se comporta assim em relação em Deus: rende-se completamente à sua vontade, sem cálculos nem pretensões.
Esta atitude para com Deus reflecte-se também na forma como nos comportamos em comunidade: reflecte-se na alegria de estarmos ao serviço uns dos outros, encontrando já nisto a nossa recompensa e não nos reconhecimentos nem nas vantagens que disto podem derivar. É o que Jesus ensina no final deste relato: «quando tiverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: “Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer”» (v. 10).
Servos inúteis, ou seja, sem pretensão de ser agradecidos, sem reivindicações. «Somos servos inúteis» é uma expressão de humildade e disponibilidade que faz tanto bem à Igreja e recorda a atitude correcta de trabalhar nela: o serviço humilde de que Jesus nos deu o exemplo, lavando os pés dos discípulos (cf. Jo 13, 3-17). (cf. Papa Francisco, na Oração do Angelus, Praça de São Pedro, Roma, 6 de Outubro de 2019)