Apesar
do mau tempo, cumpriu-se o voto a São Sebastião, na festa das Fogaceiras, em
Santa Maria da Feira. A Igreja Matriz encheu-se para a celebração da Eucaristia
presidida pelo Sr. D. João Lavrador, Bispo Auxiliar do Porto. Cerca de 270
meninas, provenientes de todo o Concelho, vestidas de branco, levaram o símbolo
e ícone do Voto - a fogaça - como entrega de louvor, de acção de graças e de
súplica, para que São Sebastião continue a proteger, com a sua intercessão, as
gentes das Terras da Feira. O coro e orquestra da Academia de Música
emprestaram a beleza dos seus cânticos à beleza da celebração. Da homilia,
proferida pelo Senhor Bispo, destacámos:
“…Também nós hoje, mergulhados numa cultura cheia de
perplexidades, detentora de tantas frustrações humanas, coarctada nos sonhos e
anseios de algo de novo, mas também esperando uma plena realização humana,
somos encaminhados pela Palavra de Deus, ao encontro de Cristo que quer, com a
Sua entrega total na Sua Páscoa, conduzir-nos até à festa de uma vida
plenamente feliz. Há um sonho em cada homem e cada mulher que se traduz no
desejo de viver na alegria total. A vida deve traduzir-se em festa para todos. Contudo
nem todos sentem a alegria e poucos têm motivos para viver a festa. Há sinais
preocupantes na nossa sociedade que levam a reconhecer que a esperança vai
morrendo no coração de tanta gente. Diz-nos o profeta Isaías que Deus não terá
repouso enquanto a justiça não despontar como a aurora e a salvação não resplandecer
como a luz do archote. A pessoa exige que lhe seja salvaguardada a defesa da
sua dignidade profunda através de uma autêntica justiça. Esta não é mera
aplicação de leis, mas é sobretudo reconhecimento do que a cada um é, devido
também à misericórdia e ao amor. Mas esta concepção de pessoa humana e da
sociedade não se alcançará sem um mergulhar no mistério pascal de Cristo que
nos renova e como que nos recria para uma nova visão de toda a realidade. Só aí
compreenderemos que todas as criaturas são irmãs, que ninguém poderá ser
excluído da festa da vida, o amor será a garantia de relações fraternas
profundas e que cada um de nós não se deve restringir a uma solidariedade
exterior, na partilha de bens, mas deve reconhecer que a vivência do amor
fraterno leva cada um a optar por uma doação de si mesmo, das suas capacidades,
dos seus dons pessoais, dos seus bens, do seu tempo e da sua esperança…
Celebrar a S. Sebastião é sem dúvida reconhecer antes de mais
que no seu martírio se associou de modo exemplar ao mistério pascal do Senhor.
Para usar a imagem do Evangelho, assumiu em si mesmo o vinho novo que sacia a
sede de tanta gente. Por isso, ao longo dos séculos, o povo necessitado recorre
a ele na esperança de ver realizada a sua suplica pela qual quer alcançar as
condições de vida digna e o patamar de alegria e de felicidade que lhe são
roubados pelas continuas ameaças que tem de enfrentar. Em S. Sebastião
encontramos a imagem viva do que é o amor a Deus e o amor ao próximo e como as
duas direcções do mesmo amor se implicam mutuamente. Saboreando quotidianamente
os dons de Cristo, tornou-se testemunha do amor de Deus na vida da sociedade do
seu tempo. Neste ano proclamado como ano da fé, S. Sebastião ajuda-nos a
centrarmos bem o que é a verdadeira fé cristã e as implicações que ela tem na
existência de cada discípulo de Jesus Cristo…”