- na Audiência- Geral de
Quarta-Feira, dia 6 de Maio, na Praça de São Pedro - Roma
“ Caríssimos irmãos e irmãs,
bom dia!
No nosso caminho de catequeses acerca da família, hoje meditaremos
directamente sobre a beleza do matrimónio cristão. Não se trata de uma simples
cerimónia que se faz na igreja, com flores, o vestido, as fotografias... O
matrimónio cristão é um sacramento que tem lugar na Igreja, e que também faz a
Igreja, dando início a uma nova comunidade familiar.
É quanto resume o Apóstolo Paulo, na sua célebre expressão: «Este
mistério é grande; digo-o com referência a Cristo e à Igreja» (Ef 5, 32).
Inspirado pelo Espírito Santo, Paulo afirma que o amor entre os cônjuges é
imagem do amor entre Cristo e a Igreja. Uma dignidade impensável! Mas, na
realidade, ela está inscrita no desígnio criador de Deus e, com a graça de
Cristo, foram inúmeros os casais cristãos que a realizaram, não obstante os
seus limites e pecados!Falando sobre a nova vida em Cristo, São Paulo afirma que os cristãos — todos — são chamados a amar-se como Cristo os amou, ou seja, a «submeter-se uns aos outros» (Ef 5, 21), que significa pôr-se ao serviço uns dos outros. E, aqui, ele introduz a analogia entre o casal marido-esposa e Cristo-Igreja. É claro que se trata de uma analogia imperfeita, mas devemos entender o seu sentido espiritual, que é deveras excelso e revolucionário, e, ao mesmo tempo, simples, ao alcance de cada homem e mulher que confiam na graça de Deus.
O marido — diz Paulo — deve amar a esposa «como ao seu próprio corpo» (Ef 5, 28); amá-la como Cristo «amou a Igreja e se entregou por ela» (v. 25). Mas, vós, maridos, que estais aqui presentes, compreendeis isto? Amar a vossa esposa como Cristo ama a Igreja? Não se trata de uma brincadeira, mas de algo sério! O efeito deste radicalismo da dedicação exigida do homem, para o amor e a dignidade da mulher, segundo o exemplo de Cristo, deve ter sido enorme, na própria comunidade cristã!
Esta semente da novidade evangélica, que restabelece a reciprocidade originária da dedicação e do respeito, amadureceu lentamente na história, mas no fim prevaleceu.
O sacramento do matrimónio é um grande acto de fé e de amor: dá testemunho da coragem de acreditar na beleza do gesto criador de Deus e de viver aquele amor que impele a ir sempre além, além de nós mesmos e da própria família. A vocação cristã para amar de modo incondicional e incomensurável é, com a graça de Cristo, o que está também na base do livre consenso que constitui o matrimónio.
A própria Igreja é plenamente participante na história de cada matrimónio cristão: ela edifica-se com os seus sucessos e padece com os seus fracassos. Mas, devemos interrogar-nos, com seriedade: aceitamos, até ao fundo, como crentes e como pastores, este vínculo indissolúvel da história de Cristo e da Igreja com a história do matrimónio e da família humana? Estamos dispostos a assumir, seriamente, esta responsabilidade, ou seja, que cada matrimónio percorra o caminho do amor que Cristo tem pela Igreja? Isto é grandioso!
Nesta profundidade do mistério da criação, reconhecido e restabelecido na sua pureza, abre-se um segundo grande horizonte que caracteriza o sacramento do matrimónio. A decisão de «desposar no Senhor» contém inclusive uma dimensão missionária, que significa ter no coração a disponibilidade a ser porta-voz da Bênção de Deus e da graça do Senhor, para todos. Com efeito, enquanto esposos, os cônjuges cristãos participam na missão da Igreja. É preciso ter coragem para isto! Por isso, quando saúdo os recém-casados, digo: «Eis os intrépidos!», porque é necessário ter coragem para se amar do modo como Cristo ama a Igreja.
A celebração do sacramento não pode excluir esta corresponsabilidade da vida familiar, em relação à grande missão de amor da Igreja. É assim que a vida da Igreja se enriquece todas as vezes com a beleza desta aliança esponsal; do mesmo modo, a Igreja se empobrece cada vez que ela é desfigurada. Para oferecer, a todos, os dons da fé, do amor e da esperança, a Igreja precisa também da corajosa fidelidade dos esposos à graça do seu sacramento! O povo de Deus tem necessidade do seu caminho quotidiano na fé, no amor e na esperança, com todas as alegrias e dificuldades que este caminho comporta num matrimónio e numa família.
Assim, a rota é marcada para sempre; trata-se da rota do amor: ama-se como Deus ama, para sempre! Cristo não cessa de cuidar da Igreja: ama-a sempre, preserva-a sempre, como a si mesmo. Cristo não deixa de eliminar, do semblante humano, as manchas e as rugas de todos os tipos. É comovedora e muito bonita esta irradiação da força e da ternura de Deus, que se transmite de casal para casal, de família para família. São Paulo tem razão: trata-se mesmo de um «mistério grandioso»! Homens e mulheres, suficientemente intrépidos para levar este tesouro nos «vasos de barro» da nossa humanidade — homens e mulheres tão corajosos! — constituem um recurso essencial para a Igreja e também para o mundo inteiro. Deus os abençoe mil vezes, por isto!... (cf. Santa Sé)