- FESTA DAS FOGACEIRAS 2017
Cumpriu-se o voto. Agradeceu-se e louvou-se o Senhor Deus pelo
testemunho de vida e de santidade do Mártir São Sebastião. Renovada a promessa,
continuamos a confiar na intercessão do Santo Mártir para que as Terras da
Feira e a terra inteira possam vencer todas as lepras, todas as fomes e todas
as guerras que alastram, infelizmente, pelo mundo.
Transcrevemos a Homilia do
Sr. D. António Augusto Azevedo, Bispo-Auxiliar do Porto, que presidiu à
nossa festa:
«A festa que nos congrega na
Igreja Matriz da sede deste concelho é uma grande expressão da fé e da cultura
das gentes da Feira. A tradição secular que hoje se renova, constitui uma marca
indelével da identidade do povo destas terras. No seu sentido mais profundo e
genuíno, uma festa celebra o que somos como povo, as convicções que partilhamos,
os valores que nos aproximam, os acontecimentos que tecem a memória colectiva,
as tradições que nos são familiares. Por isso a celebração de uma festa como
esta é um grande momento de congregação da comunidade e de revitalização da
sociedade que somos e a que pertencemos. Em plena era de globalização e
comunicação de massas, é ainda mais necessário ter consciência que a construção
do futuro exige o respeito pela memória, o conhecimento da história e a
valorização das diferenças culturais. E esta terra da Feira é rica de história,
cultura e fé, e com estes alicerces sólidos pode aspirar a um futuro próspero.
Esta festa secular tem como
momento singular, belo e significativo o cortejo das oferendas. Com este gesto,
a comunidade feirense manifesta a Deus a sua profunda gratidão pelos bens que, por
intercessão do mártir São Sebastião, Ele concede em cada ano. Aqueles dons com
que Deus, Pai de Misericórdia e Bondade, nos vai enriquecendo e que tantas
vezes esquecemos de agradecer, o dom da vida, da saúde, da paz e da segurança e
tantos outros. Com este sentimento de gratidão, tão próprio de um crente, poderíamos
fazer nossas as palavras do sábio do Ben-Sirá: Dou graças a Deus porque foi protector e auxílio, em tantas
dificuldades e desafios que tivemos de enfrentar. Cada um e cada uma saberá, no
fundo do seu coração, como, por intercessão de São Sebastião, Deus o protegeu e
amparou no meio de alguma tribulação ou sofrimento. Esta celebração é uma
grande oração de acção de graças que esta comunidade dirige a Deus e a proclamação
do valor da intercessão do mártir São Sebastião.
Esta festividade tão prestigiada,
em que as gentes da Feira honram a Deus e os méritos de São Sebastião, é também
um evento que honra este povo. As instituições que a promovem, a multidão que
nela participa de forma tão expressiva e empenhada, fazem-no em cumprimento de
um voto secular. Cumprir um voto é um gesto que dignifica uma pessoa e uma
comunidade, reforça o laço com os seus antepassados e fortalece a “alma”
pessoal e colectiva para enfrentar o futuro.
A figura exaltada nesta festa é a
do Mártir São Sebastião. Esta é pois uma oportunidade para um olhar renovado
para este grande santo do século IV, para que o seu exemplo nos sirva de
modelo, inspiração e estímulo, a nós, crentes deste século. Da sua biografia,
com um fundo histórico e alguns acrescentos lendários, destaco três aspectos
que suscitaram a minha admiração pelo seu significado e actualidade.
Em primeiro lugar, aquele jovem
Sebastião, que oriundo de Milão se instalou em Roma, era alguém de boa
formação, com uma carreira militar promissora, com prestígio social e acesso à
corte do imperador. Vale a pena perguntarmos que razão levará um jovem a quem a
vida sorri, a abraçar a novidade daquela nova religião que proclamava que
Jesus, um judeu nascido em Belém, residente em Nazaré, morto em Jerusalém,
tinha ressuscitado porque era o Messias, o Filho de Deus feito homem. Naquele
contexto histórico, em que a adesão à fé e a vivência cristã constituíam uma
ousadia, um acto perigoso, até subversivo, a conversão de Sebastião é o seu
primeiro grande testemunho. Ele sublinha que a decisão da fé constitui sempre
um acto pessoal compromete a pessoa e nos remete para o mistério da sua
consciência. Naquele vasto império onde se cruzavam as tradições dos deuses das
famílias, o panteão dos deuses das cidades e das corporações, com as múltiplas
propostas de deuses e deusas dos vários povos, o jovem Sebastião soube escutar
aquela boa nova que depois de Jerusalém se espalhou por cidades e aldeias até
ao centro do império. Ele soube acolher a novidade daquela mensagem, deixou-se
seduzir pela palavra de Jesus e encantar pela sua pessoa e percebeu a força do
testemunho de fé daquelas primeiras comunidades de cristãos.
Celebrar um mártir significa
primeiramente perceber o valor e o lugar da fé na sua vida. Contemplando a fé
de São Sebastião, tomemos consciência do significado da fé na nossa existência
pessoal, da novidade, beleza e felicidade que ela representa. Pensemos na
importância de um autêntico testemunho de fé nas nossas comunidades e dos
grandes desafios que se colocam hoje à transmissão da fé.
Na figura de São Sebastião
identifico um outro traço inspirador: a adesão à fé originou uma conduta de
vida em plena coerência com o Evangelho. A atestar isso mesmo, encontrámos São
Sebastião em Roma, amparando as famílias em sofrimento, cuidando dos presos e
perseguidos, empenhado na vida da comunidade, procurando que muitos chegassem à
descoberta da fé e outros a vivessem com coragem. Este modo de viver,
exemplificado em vários episódios da sua biografia, comprova que o mártir
estava consciente da verdade daquela palavra de Jesus que ouvimos no evangelho
de hoje: “Valeis mais que muitos
passarinhos”. Quem como ele descobre a centralidade da fé, percebe que Deus
nos conhece e ama, cuida de nós e não nos desampara e até conta connosco para
trabalhar, de forma empenhada e alegre, pela salvação do mundo.
O nosso mártir realizou tudo isto
num tempo de dificuldades e num clima de hostilidade. O contexto dos nossos
dias desafia-nos a redescobrir a beleza e a alegria de acreditar, a reconhecer
o valor que temos para Deus, Pai de Misericórdia, e a sentirmos a exigência de
testemunhar a fé nos vários âmbitos sociais e culturais: privado e público, na
família, nos meios académicos, empresariais, associativos, políticos e
económicos. Uma presença de cristãos conscientes, prontos a “dar as razões da nossa esperança” como
lembrava São Pedro. Numa época que se intitula de “pós-verdade”, em que tantas
vidas estão marcadas por desertos de solidão e vazios interiores, em que tantos
se ocupam zelosamente a desconstruir valores, princípios e instituições, o
cristão acredita que vale a pena construir e reconstruir vidas, famílias,
grupos e comunidades, instituições e sociedades, que permitam à pessoa humana
aspirar a um futuro mais justo, fraterno, solidário e pacífico. Como
recomendava ainda São Pedro, este testemunho é feito “com brandura e com respeito”, não recorre à imposição ou ao
proselitismo, geradores de equívocos, mas acreditando que o testemunho alegre e
coerente da fé é atractivo e mobilizador.
Admirando a coerência da fé de
São Sebastião, exaltamos hoje a sua expressão mais eloquente e corajosa – o
martírio. Por causa da sua fé ele foi preso a um poste e cravado de setas e
tendo milagrosamente sobrevivido, voltou a ser supliciado por mandato directo e
pessoal do Imperador Diocleciano. No cristianismo, o martírio representa antes
da mais a total identificação com Cristo, o dom de si até ao fim, até à cruz.
Não é a negação da vida ou um suicídio, mas a afirmação de que a vida humana
vivida em comunhão com Cristo, não se perde mas ganha a eternidade. O mártir é
um evangelho vivo, é a actualização da Páscoa de Cristo, é afirmação de que “o grão de trigo lançado à terra dá fruto”.
São Sebastião e os mártires ao
longo da história cumprem a palavra do evangelho: “Não tenhais medo!”. Este apelo de Jesus, reafirmado por São Pedro,
tem sido replicado pelos últimos papas, desde São João Paulo II até ao Papa
Francisco, porque a geração de hoje precisa de recuperar a coragem e a ousadia
da fé, não se pode deixar paralisar pelo medo, cair no comodismo ou na
indiferença.
Neste dia em que se celebra um
mártir tão destacado, faz-nos bem reler a história da Igreja a partir da marca
do martírio. Foram mártires Pedro e os Doze, foram mártires um grande número de
cristãos das primeiras gerações. Foi também esta uma marca, por vezes
esquecida, da Igreja em Portugal, concretamente com missionários em terras do
Oriente nos séculos XVI e XVII. Mas esta é também uma marca do nosso tempo. O
século XX apresenta um número impressionante de mártires em tantas partes do
mundo, e já neste século há sinais preocupantes em vários países onde há
comunidades cristãs vítimas de intolerância e perseguição.
A Igreja de Roma, a que São
Sebastião pertenceu e de que é o 3º padroeiro, é antes de mais a Igreja de
Pedro e Paulo, a igreja dos mártires e das catacumbas (aliás um das mais
importantes tem o nome do nosso mártir!). Uma igreja fiel e forte na fé, capaz
de ser o gérmen e pilar do tempo novo que se abriu após a queda do império.
Importa ter isto em conta, quando há tantos pensadores contemporâneos que
comparam alguns sinais dos tempos que vivemos com os da decadência do império
romano do ocidente. Inspirados no testemunho do mártir e sintonizados com as
preocupações do Papa Francisco, os cristãos de hoje, a começar pelos mais
jovens, são convidados a redescobrir no evangelho de Jesus Cristo uma luz que
abre horizontes de vida e de felicidade e a fazer dos valores da Doutrina
Social da Igreja (verdade, liberdade, justiça e amor) os pilares para a
construção de um futuro auspicioso.
A terminar não posso deixar de
renovar a prece ou súplica a Deus para que, por intercessão do Mártir São
Sebastião, continue a proteger-nos dos flagelos da fome, da peste e da guerra.
Uma protecção que invoco para cada um e para a sua família, para estas terras
da Feira e suas comunidades, e que desejo alargar ao nosso país, à Europa e ao
mundo. Que por intercessão do Mártir São Sebastião, Deus a todo abençoe e
proteja.»
- SEMANA DE ORAÇÃO PELA
UNIDADE DOS CRISTÃOS
Até ao dia 25 de Janeiro, a
Igreja vive a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, sob o lema:
“Reconciliação: É o amor de Cristo que nos impele”. No documento que prepara e
propõe as dinâmicas da vivência desta Semana de Oração (de 18 a 25 de Janeiro)
o Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos refere: “Foi a
Exortação Apostólica do Papa Francisco, em 2013, Evangelii Gaudium (A
Alegria do Evangelho) que deu o tema para este ano, quando usou a citação “O
amor de Cristo nos impele” (nº9). Com essa frase da Escritura (2Coríntios
5,14), tomada no contexto do capítulo 5, da segunda carta aos Coríntios, a
comissão alemã formulou o tema da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos
2017.(…) O amor de Cristo nos impele a orar, mas
também a ir além de nossas preces pela unidade entre os cristãos. Congregações
e Igrejas necessitam do dom da reconciliação de Deus como uma fonte de vida.
Mas acima de tudo, elas precisam disso para o seu testemunho comum no mundo:
“que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti; que também eles
estejam em nós, a fim de que o mundo creia que tu me enviaste” (João 17,21).
O mundo precisa de embaixadores da reconciliação, que
destruirão barreiras, construirão pontes, promoverão a paz e abrirão portas
para novos caminhos de vida em nome daquele que nos reconciliou com Deus, Jesus
Cristo. O Seu Espírito Santo indica o caminho na estrada para a reconciliação
em seu nome.(…) Que a fonte da gratuita reconciliação de Deus se derrame na
Semana de Oração deste ano, para que muitas pessoas possam encontrar a paz e
para que pontes possam ser construídas. Que pessoas e Igrejas possam ser
impelidas pelo amor de Cristo a viver vidas reconciliadas e a derrubar as
paredes da divisão!...”