- na Audiência-Geral, na
Praça de São Pedro – Roma, no dia 18 de Janeiro
Amados irmãos e irmãs, bom dia!
Na Sagrada Escritura, entre os profetas de
Israel sobressai uma figura um pouco singular: um profeta que procura subtrair-se
à chamada do Senhor, rejeitando pôr-se ao serviço do plano divino de salvação.
Trata-se do profeta Jonas, cuja história se narra num livrinho de apenas quatro
capítulos, uma espécie de parábola portadora de um grande ensinamento: o da misericórdia
de Deus que perdoa.
Jonas é um profeta «em saída» e também um
profeta em fuga! É um profeta em saída, que Deus envia «para a periferia»,
Nínive, para converter os habitantes daquela grande cidade. Mas para um
israelita como Jonas, Nínive representava uma realidade insidiosa, o inimigo
que punha em perigo a própria Jerusalém e, portanto, devia ser destruída,
certamente não salva. Por isso, quando Deus envia Jonas a pregar naquela
cidade, o profeta - que conhece a bondade do Senhor e o seu desejo de perdoar -
procura subtrair-se à sua tarefa e foge.
Durante a sua fuga, o profeta entra em
contacto com alguns pagãos: os marinheiros da nau na qual tinha embarcado para
se afastar de Deus e da sua missão. E foge para longe, porque Nínive estava
situada na região do Iraque e ele foge para a Espanha, foge a sério. E, é exactamente
o comportamento daqueles homens pagãos, como depois será o dos habitantes de
Nínive, que hoje nos permite reflectir um pouco sobre a esperança que, diante
do perigo e da morte, se exprime na oração.
Com efeito, durante a travessia do mar,
abate-se uma tremenda tempestade e Jonas desce ao porão do navio,
abandonando-se ao sono. Os marinheiros, ao contrário, vendo-se perdidos,
«puseram-se a invocar cada qual o seu deus»: eram pagãos (Jn 1, 5). O capitão
do navio acorda Jonas, dizendo-lhe: «O que fazes, dormes? Levanta-te e invoca o
teu Deus, para ver se, porventura, Ele se lembra de nós e nos livra da morte»
(Jn 1, 6).
A reacção daqueles «pagãos» é a reacção
justa perante a morte, diante do perigo; porque é então que o homem faz uma
experiência completa da sua fragilidade e da sua necessidade de salvação. O
instintivo terror de morrer revela a necessidade de esperar no Deus da vida.
«Para ver se, porventura, Ele se lembra de nós e nos livra da morte»: são as
palavras da esperança que se torna oração, aquela súplica cheia de angústia que
se eleva dos lábios do homem diante de um iminente perigo de morte.
Com muita facilidade, desprezamos a
súplica a Deus na necessidade, como se fosse apenas uma oração interessada e
por isso imperfeita. Mas Deus conhece a nossa debilidade; sabe que nos recordamos
dele para pedir ajuda e, com o sorriso indulgente de um pai, Deus responde benignamente.
Quando Jonas, reconhecendo as suas
responsabilidades, se deixa lançar ao mar para salvar os seus companheiros de
viagem, a tempestade aplaca-se. A morte incumbente impeliu aqueles homens
pagãos à oração; fez com que o profeta, não obstante tudo, vivesse a sua
vocação ao serviço dos outros aceitando sacrificar-se por eles e, agora, leva
os sobreviventes ao reconhecimento do verdadeiro Senhor e ao louvor. Os
marinheiros que, tomados pelo medo, tinham rezado, dirigindo-se aos próprios
deuses, agora com sincero temor do Senhor reconhecem o verdadeiro Deus,
oferecem sacrifícios e cumprem votos. A esperança que os tinha induzido a rezar
para não morrer revela-se ainda mais poderosa e concretiza uma realidade que
vai até além daquilo que eles esperavam: não só não perecem na tempestade, mas
abrem-se ao reconhecimento do verdadeiro e único Senhor do céu e da terra.
Sucessivamente, também os habitantes de
Nínive, diante da perspectiva de ser destruídos, rezarão impelidos pela
esperança no perdão de Deus. Farão penitência, invocarão o Senhor e converter-se-ão
a Ele, a começar pelo rei que, como o capitão do navio, dá voz à esperança
dizendo: «Talvez Deus se arrependa [...] e não nos deixe perecer!» (Jn 3, 9).
Inclusive para eles, assim como para a tripulação na tempestade, ter enfrentado
a morte e dela ter saído vivos guiou-os à verdade. Assim, sob a misericórdia
divina, e ainda mais à luz do mistério pascal, a morte pode tornar-se, como foi
para São Francisco de Assis, «nossa irmã morte» e representar, para cada homem
e para cada um de nós, a surpreendente ocasião de conhecer a esperança e de
encontrar o Senhor. Que o Senhor nos leve a entender este vínculo entre oração
e esperança. A oração leva-te em frente na esperança, e quando a situação se
torna obscura, é preciso rezar mais! E haverá mais esperança.
Obrigado! (cf. Santa Sé)