- TEMPO DA QUARESMA
A Igreja vai iniciar um novo tempo litúrgico: o tempo da Quaresma.
É o tempo da conversão, da renovação da vida espiritual, da transformação do
coração para celebrar a festa das festas: a Páscoa de Jesus Ressuscitado. Os
cristãos são convidados ao arrependimento; ao esforço da santidade; ao
testemunho da misericórdia e da bondade de Deus que ama e perdoa. Por isso, o
tempo da Quaresma é o tempo do perdão e da reconciliação: acolher o perdão de
Deus e afastar dos corações o ódio, o rancor, a inveja, os azedumes, as
violências, os maus juízos, os preconceitos.
A vivência cristã da Quaresma teve início no IV, como um tempo de
penitência e de renovação da Igreja, pela prática do jejum e da abstinência.
A Quaresma tem o seu começo na Quarta-Feira de Cinzas e o seu
termo na Quarta-Feira da Semana Santa.
Na Igreja Matriz de Santa Maria da Feira, a celebração da
Eucaristia, com a imposição das cinzas, será às 20,00 h.
Da mensagem do Papa Francisco para a Quaresma
de 2017
“…A Quaresma é um novo começo, uma estrada que leva a um destino
seguro: a Páscoa de Ressurreição, a vitória de Cristo sobre a morte. E este
tempo não cessa de nos dirigir um forte convite à conversão: o cristão é
chamado a voltar para Deus «de todo o coração» (Jl 2, 12), não se contentando
com uma vida medíocre, mas crescendo na amizade do Senhor. Jesus é o amigo fiel
que nunca nos abandona, pois, mesmo quando pecamos, espera pacientemente pelo
nosso regresso a Ele e, com esta espera, manifesta a sua vontade de perdão (cf.
Homilia na Santa Missa, 8 de janeiro de 2016).
A Quaresma é o momento favorável para intensificarmos a vida espiritual
através dos meios santos que a Igreja nos propõe: o jejum, a oração e a esmola.
Na base de tudo isto, porém, está a Palavra de Deus, que somos convidados a
ouvir e meditar com maior assiduidade neste tempo. Aqui queria deter-me, em
particular, na parábola do homem rico e do pobre Lázaro (cf. Lc 16, 19-31).
Deixemo-nos inspirar por esta página tão significativa, que nos dá a chave para
compreender como temos de agir para alcançarmos a verdadeira felicidade e a
vida eterna, incitando-nos a uma sincera conversão.
1. O outro é um dom
A parábola inicia com a apresentação dos dois personagens
principais, mas quem aparece descrito de forma mais detalhada é o pobre:
encontra-se numa condição desesperada e sem forças para se solevar, jaz à porta
do rico na esperança de comer as migalhas que caem da mesa dele, tem o corpo
coberto de chagas, que os cães vêm lamber (cf. vv. 20-21). Enfim, o quadro é sombrio,
com o homem degradado e humilhado.
A cena revela-se ainda mais dramática, quando se considera que o
pobre se chama Lázaro, um nome muito promissor pois significa, literalmente,
«Deus ajuda». Não se trata duma pessoa anónima; antes, tem traços muito
concretos e aparece como um indivíduo a quem podemos atribuir uma história
pessoal. Enquanto Lázaro é como que invisível para o rico, a nossos olhos
aparece como um ser conhecido e quase de família, torna-se um rosto; e, como
tal, é um dom, uma riqueza inestimável, um ser querido, amado, recordado por
Deus, apesar da sua condição concreta ser a duma escória humana (cf. Homilia na
Santa Missa, 8 de janeiro de 2016).
Lázaro ensina-nos que o outro é um dom. A justa relação com as
pessoas consiste em reconhecer, com gratidão, o seu valor. O próprio pobre à
porta do rico não é um empecilho fastidioso, mas um apelo a converter-se e
mudar de vida. O primeiro convite que nos faz esta parábola é o de abrir a
porta do nosso coração ao outro, porque cada pessoa é um dom, seja ela o nosso
vizinho ou o pobre desconhecido. A Quaresma é um tempo propício para abrir a
porta a cada necessitado e nele reconhecer o rosto de Cristo. Cada um de nós
encontra-o no próprio caminho. Cada vida que se cruza connosco é um dom e
merece aceitação, respeito, amor. A Palavra de Deus ajuda-nos a abrir os olhos
para acolher a vida e amá-la, sobretudo quando é frágil. Mas, para se poder
fazer isto, é necessário tomar a sério também aquilo que o Evangelho nos revela
a propósito do homem rico…”