- na Audiência-Geral, na
Praça de São Pedro – Roma, no dia 1 de Fevereiro
Bom dia, amados irmãos e irmãs!
Nas catequeses passadas, demos início ao
nosso percurso sobre o tema da esperança, relendo, nesta perspectiva, algumas
páginas do Antigo Testamento. Agora, desejamos começar a esclarecer o alcance
extraordinário que esta virtude assume no Novo Testamento, quando encontra a
novidade representada por Jesus Cristo e pelo evento pascal: a esperança
cristã. Nós, cristãos, somos mulheres e homens de esperança.
É o que sobressai, de modo claro, desde o
primeiro texto que foi escrito, ou seja, a Primeira Carta de São Paulo aos
Tessalonicenses. No trecho que ouvimos, podemos sentir todo o vigor e a beleza
do primeiro anúncio cristão. A comunidade de Tessalónica é jovem,
recém-fundada; e, no entanto, não obstante as dificuldades e as numerosas
provações, está radicada na fé e celebra, com entusiasmo e com alegria, a ressurreição
do Senhor Jesus. Então, o Apóstolo alegra-se de coração com todos, dado que
quantos renascem na Páscoa se tornam verdadeiramente «filhos da luz e filhos do
dia» (5, 5), em virtude da plena comunhão com Cristo.
Quando Paulo lhe escreve, a comunidade de
Tessalónica tinha acabado de ser fundada, e poucos anos a separam da Páscoa de
Cristo. Por isso, o Apóstolo procura explicar todos os efeitos e consequências
que este acontecimento singular e decisivo - isto é, a ressurreição do Senhor -
comporta para a história e para a vida de cada um. Em particular, a dificuldade
da comunidade não consistia tanto em reconhecer a ressurreição de Jesus - todos
acreditavam - mas em crer na ressurreição dos mortos. Sim, Jesus ressuscitou,
mas a dificuldade consistia em crer que os mortos ressuscitam. Em tal sentido,
esta carta revela-se actual como nunca. Cada vez que nos encontramos diante da
nossa morte, ou da de uma pessoa querida, sentimos que a nossa fé é posta à
prova. Sobressaem todas as nossas dúvidas, toda a nossa fragilidade, e
questionamo-nos: «Mas, realmente, haverá vida depois da morte...? Ainda poderei
ver e reabraçar as pessoas que amei...?». Eis a pergunta que, há poucos dias,
durante uma audiência, uma senhora me dirigiu, manifestando uma dúvida: «Encontrarei
os meus?”. Também nós, no contexto actual, temos necessidade de voltar à raiz e
aos fundamentos da nossa fé, de maneira a adquirir a consciência daquilo que
Deus fez por nós em Jesus Cristo e o que significa a nossa morte. Todos nós
temos um pouco de medo desta incerteza da morte. Vem-me à memória um velhinho,
um bom idoso que dizia: «Não temo a morte. Tenho um pouco de medo de a ver
aproximar-se». Temia isto.
Perante os temores e as perplexidades da
comunidade, Paulo convida a manter firme na cabeça, como um elmo, sobretudo nas
provações e nos momentos mais difíceis da nossa vida, «a esperança da
salvação». É um elmo. Eis o que é a esperança cristã. Quando se fala de
esperança, podemos ser levados a entendê-la segundo o significado comum deste
termo, ou seja, em referência a algo de bom que desejamos, mas que pode
realizar-se ou não. Esperamos que aconteça, é como um desejo. Por exemplo,
dizemos: «Espero que amanhã tempo seja bom!»; mas sabemos que, ao contrário, no
dia seguinte, o tempo pode ser mau... A esperança cristã não é assim. A
esperança cristã é a espera de algo que já se cumpriu; ali está a porta, e
espero chegar à porta. Que devo fazer? Caminhar rumo à porta! Tenho a certeza
que chegarei à porta. Assim é a esperança cristã: ter a certeza de que estou a
caminho de algo que existe, não de algo que eu desejo que exista. Esta é a
esperança cristã. A esperança cristã é a expectativa de algo que já se cumpriu
e que certamente se há-de realizar para cada um de nós. Portanto, também a
nossa ressurreição e a dos nossos amados defuntos não é algo que poderá
realizar-se ou não, mas constitui uma realidade certa, dado que está radicada
no evento da ressurreição de Cristo. Portanto, esperar significa aprender a
viver na expectativa. Aprender a viver à espera e encontrar a vida. Quando uma
mulher compreende que está grávida, cada dia aprende a viver na expectativa de
fitar o olhar daquela criança que há-de vir. Assim, também nós devemos viver e
aprender destas expectativas humanas e viver à espera de fitar o Senhor, de
encontrar o Senhor. Isto não é fácil, mas aprende-se: viver na expectativa.
Esperar significa e implica um coração humilde, um coração pobre. Somente o
pobre sabe esperar. Quem já está repleto de si e dos seus pertences, não sabe
depositar a sua confiança em nenhum outro, a não ser em si mesmo.
Escreve, ainda, São Paulo: «[Jesus] morreu
por nós, a fim de que nós, quer em estado de vigília, quer de sono, vivamos em
união com Ele» (1 Ts 5, 10). Estas palavras são sempre motivo de grande
consolação e de paz. Portanto, somos chamados a rezar, também, pelas pessoas
amadas que nos deixaram, a fim de que elas vivam em Cristo e permaneçam em
plena comunhão connosco. Algo que me toca profundamente o coração é uma
expressão de São Paulo, ainda dirigida aos Tessalonicenses. Ela enche-me da
segurança da esperança. Reza assim: «Assim estaremos para sempre com o Senhor»
(1 Ts 4, 17). Uma coisa boa: tudo passa, mas depois da morte estaremos para
sempre com o Senhor. É a certeza total da esperança, a mesma que, muito tempo antes,
levava Job a exclamar: «Eu sei que o meu redentor está vivo [...] Eu mesmo o
contemplarei, vê-lo-ão os meus olhos e não os olhos de outrem» (Job 19, 25.27).
E assim estaremos para sempre com o Senhor. Vós acreditais nisto? Pergunto-vos:
credes nisto? Para terdes um pouco de força, convido-vos a dizê-lo três vezes
comigo: «Assim estaremos para sempre com o Senhor». Encontrar-nos-emos lá, com
o Senhor. (cf. Santa Sé)