- MARIA: CULTO E DEVOÇÃO –
TÍTULOS DE FÉ NA ARTE
A propósito do centenário das aparições de Nossa Senhora, em
Fátima, no próximo dia 28 de Abril, no Museu Convento dos Lóios, faz-se a
inauguração da exposição ‘Maria: culto e devoção – títulos de Fé na arte’. A
exposição pode ser visitada de Terça a Sexta, das 9,30 às 18 horas, e Sábado e
Domingo, das 14,30 às 17,30. A entrada é gratuita.
Esta iniciativa do Museu Convento dos Lóios contou com a
colaboração de todas as paróquias do Concelho de Santa Maria da Feira que
disponibilizaram as imagens para este evento.
PALAVRA DE
D. ANTÓNIO FRANCISCO DOS SANTOS,
BISPO DO PORTO
- na homilia do Domingo de
Páscoa, na Catedral do Porto
1.Que a alegria de Jesus ressuscitado esteja convosco, irmãos e
irmãs, reunidos nesta celebração da Eucaristia do Domingo da Ressurreição do
Senhor, na Sé do Porto. Que esta mesma alegria seja extensiva a todos os que
estão em comunhão connosco através da Rádio Renascença, sobretudo os doentes,
os que viajam, os que trabalham a esta hora ou tantos outros que, por razões
várias, não podem participar hoje presencialmente na Eucaristia.
Juntamos a esta alegria o júbilo pelo aniversário do Papa Bento
XVI, que hoje celebra noventa anos e serve a Igreja no silêncio de uma vida de
oração e de contemplação com o mesmo encanto, fulgor e verdade como a serviu
como teólogo, bispo de Munique, cardeal da Cúria romana ou Papa ao longo de
oito anos. Cantemos-lhe os parabéns da nossa oração, da nossa comunhão e da
nossa gratidão.
Jesus ressuscitou. É esta certeza que oferece uma nova luz para o
nosso olhar, um alicerce firme para a nossa fé e uma abençoada oportunidade
para percorrermos todos juntos os caminhos do tempo e do mundo a anunciar a
alegria do Evangelho e a certeza inabalável da Páscoa de Jesus.
Esta certeza enche-nos de alegria e faz exultar os nossos
corações. Dá solidez às nossas convicções e revigora as nossas forças. Eleva o
nosso espírito e mostra-nos que podemos correr pressurosos como outrora fizeram
Maria de Magdala, Pedro e João que logo de manhazinha foram a Jerusalém para
chorar a morte de Jesus e encontraram o túmulo vazio.
Jesus ressuscitou. A fé cristã brota desta certeza. Quem a vive,
consegue encontrar as razões de esperança que nos animam a renovar a Igreja e a
transformar o mundo.
2. A ressurreição de Jesus não é um acontecimento do passado,
diluído na história já distante, situado num tempo longínquo, reduzido àquela
manhã de Páscoa e restringido apenas a Jerusalém.
A ressurreição é um acontecimento vivo e dinâmico que mudou o rumo
da história e abriu para sempre caminho à esperança na vida que não acaba com a
morte. A partir daquela hora, a morte já não tem a última palavra. Jesus
ressuscitou como primícia de todos aqueles que hão-de ressuscitar.
Importa, por isso, que sejamos capazes de trazer a presença do
Ressuscitado para o nosso tempo como dádiva maior da Igreja ao Mundo. Aqui
reside o âmago do mistério da entrega de Jesus ao Pai, numa obediência até à
morte e morte de cruz, para a salvação do Mundo.
É de vida que falamos quando celebramos a Páscoa. É a vitória
sobre a morte que celebramos quando afirmamos a fé na ressurreição. É a certeza
da vida do Ressuscitado que procuramos sempre que relemos as Escrituras, que
nos aquecem o coração, como haveriam de dizer os discípulos de Emaús na tarde
daquele dia de Páscoa, ao reconhecerem Jesus ressuscitado na fracção do pão. É
a justiça reencontrada que se afirma vitoriosa na hora do ressuscitado depois
da justiça ferida e vencida na hora da condenação de um inocente, entregue nas
mãos de malfeitores.
3. A actual situação de ansiedade generalizada que ensombra o
horizonte do Mundo diz-nos que não podemos calar a Páscoa. Se é verdade que
«Jesus morre a morte de todas as vítimas da história» (Padre Tolentino de
Mendonça), também é igualmente verdade que, a partir da vida e da ressurreição
de Jesus renascem os apelos a uma vida nova no coração de cada homem e mulher,
de cada família, de cada comunidade e de cada povo. A Páscoa é para nós
cristãos a escola da renovação da Igreja e a chave da transformação do Mundo.
A ressurreição de Jesus é a vitória da misericórdia de Deus sobre
o pecado humano e o triunfo do diálogo solidário sobre a violência assassina. O
silêncio de Jesus na hora da Sua morte foi a condenação de toda a intolerância,
seja religiosa ou ideológica, e de toda a prepotência seja económica, cultural
ou política.
A ressurreição não abriu por parte de Jesus nem do lado dos seus
discípulos campo à represália ou à vingança sobre os protagonistas da
condenação ou sobre os que zombaram na berma do caminho diante do crucificado.
Iniciou, isso sim, o caminho do anúncio feliz de um tempo novo de
reconciliação, um tempo imparável que traz em si a brisa da manhã da
ressurreição e o fogo ardente do Pentecostes.
A ressurreição de Jesus será sempre para nós cristãos o fundamento
da liberdade religiosa para lá de todos os fanatismos fundamentalistas. A
ressurreição de Jesus iniciou o caminho do diálogo, abriu-nos à capacidade de
escuta dos outros, e deu-nos coragem para não regressarmos às injúrias, às
ofensas e às provocações de tantos calvários no nosso tempo. A Páscoa de Jesus
veio dar sentido às lágrimas das mulheres de Jerusalém, à toalha de Verónica, à
ajuda do Cireneu e ao conforto espelhado na presença da Mãe de Jesus junto da
cruz de Seu Filho. São assim, também, as nossas mães!
A vitória do Ressuscitado e o hino à vida, que o belo cântico do
precónio pascal ontem cantava, são, a meu ver, o único pórtico que pode abrir
caminho ao diálogo com todos quantos professam uma fé abraâmica comum e que
acreditam no Deus uno. Só com a ajuda de Deus podemos uns e outros decidir
caminhos comuns de reconciliação e de paz. Sozinhos nem as pessoas nem os povos
nunca conseguirão a paz sustentada, sólida e duradoura!
Nesta «guerra aos pedaços», de que nos fala o Papa Francisco não
estão apenas os países onde se combate mas também aqueles em que produzem e
fabricam as armas. Em guerra não estão somente aqueles que tombam mortos nos
campos da frente mas também aqueles que alimentam na retaguarda o ódio no seu
coração e os que decidem as invasões e as retaliações a preço de morte de
tantos inocentes. A não-violência que confunde sempre os fortes e os poderosos
é a única maneira de nos libertar do medo e de eliminar o terror. Façamos da
Páscoa a profecia de um mundo melhor decidido a construir a paz.
4. É este o mesmo e igual apelo à paz que nos trouxe Maria, Mãe de
Jesus, em Fátima, na mensagem que confiou aos pastorinhos Lúcia, Jacinta e
Francisco. Esta misteriosa ocorrência na Cova da Iria continua a despertar, cem
anos depois, o Mundo para a necessidade de dar ouvidos à voz de Deus que opera
milagres no interior do coração humano e nos convida à civilização do amor, à
não-violência, à paz e ao respeito pela vida nesta casa comum da criação.
Apelos novos que nos chegam diariamente de vários lugares da nossa
sociedade são hoje ouvidos pela Igreja ao dar voz à cultura de abertura ao
espiritual e ao religioso. São tantos os apelos do divino que batem hoje à
porta do humano!
A procura do silêncio, a viagem ao coração da beleza da criação,
as experiências de oração e de peregrinação, a celebração da Eucaristia como
memorial vivo da morte e ressurreição, os movimentos de espiritualidade são
sinais sempre novos a afirmar a presença do divino no coração do mundo e a
colocar-nos perante o fascínio do anúncio da Páscoa de Jesus.
Vejamos, como desafio, exemplo e paradigma, as intuições
clarividentes, as iniciativas pastorais e os caminhos proféticos já trilhados
pelo Papa Francisco. São verdadeiramente intuições, iniciativas e caminhos de
um verdadeiro discípulo de Jesus, decidido a renovar a Igreja e a transformar o
mundo.
A próxima visita do Papa Francisco a Fátima como peregrino na
esperança e na paz será para todos nós uma abençoada ocasião de afervorar a
Igreja em Portugal, tornando-a mais sensível ao Evangelho da Páscoa e mais
atenta à criatividade do Espírito Santo para iluminar a sociedade portuguesa e
o mundo nos caminhos do Evangelho e na construção da paz.
5. A Páscoa de Jesus comporta uma riqueza inesgotável e tem uma
palavra a dizer na vida da Igreja, no rumo do nosso País e no horizonte de
esperança e de paz para o Mundo.
Uma santa e feliz Páscoa. Aleluia! Aleluia! Aleluia! (cf. Diocese do Porto)