SÃO PEDRO NOLASCO
Pedro Nolasco
nasceu no dia 29 de Julho de 1183, no pequeno povoado de Mas-Saintes-Puelles, na
Diocese de Saint Paul, no antigo condado de Languedoc, entre Toulouse e
Carcassonne, no sul de França. O seu pai - um abastado comerciante de origem
anglo-normanda - chamava-se Guillaume de Bigot e era filho de Hugh Bigot, 1.º
conde de Norfolk. A sua mãe, de origem italiana, chama-se Catarina, e era
descendente de Filipe I de França, através da família dos Saint-Gilles. Era
natural da cidade de Nola, na Sicília, donde o santo recebeu o nome: Nolasco.
No baptismo, deram-lhe o nome de Pedro.
O pequeno Pedro
manifestou sempre um temperamento simples, doce, e muito sensível ao sofrimento
dos outros.
Naquela época,
havia, nos países ao redor do Mar Mediterrâneo, permanentes contendas entre os
cristãos e os sarracenos, seguidores de Maomé, que semeavam a desolação por
toda a parte. Muitos, tanto ricos como pobres, foram feitos prisioneiros e
cativos em nome de Alá. Homens e mulheres, adultos, jovens e crianças, eram submetidos
a um duro cativeiro e obrigados a realizar trabalhos pesados. As mulheres eram
usadas nos mais baixos instintos: as jovens que eram violentadas. Seres humanos
que se tornavam mercadoria em mãos daqueles que se diziam seus donos.
Jaime, irmão mais
velho de Pedro, herdou o título de nobreza do seu avô materno. Por essa razão,
o jovem Pedro, acompanhava o seu pai nas lides comerciais e cresceu como um
talentoso comerciante.
Quando o seu pai se
transferiu para Barcelona - onde se estabeleceu como rico mercador - o jovem
Pedro acompanhou-o. Nesta tarefa de mecador, viajava constatemente pelas
cidades do litoral para comprar e vender. Muitas vezes, Pedro testemunhou os
maus tratos infligidos aos pobres e infelizes cativos. Alguns desses cativos
eram oferecidos, também, como mercadoria. A alma de Pedro afligia-se com a dor,
o abandono e o sofrimento daqueles pobres coitados e prometeu a Deus que faria tudo para aliviar o
sofrimento destes irmãos abandonados à sua sorte.
Em 1203, apemas com
20 anos, encontramos o jovem Pedro Nolasco a comprar cativos. Dava a liberdade
aos pobres infelizes, devolvendo-os às suas famílias. Com a morte dos seus
pais, o jovem Nolasco herdou toda a fortuna da família. Renunciou aos seus
benefícios e usou toda a sua fortuna na redenção dos cativos.
As palavras de
Jesus “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelo irmão” martelavam
profundamente a sua alma. Então, reuniu
um grupo de jovens, rapazes e raparigas, que, com ele, se entregaram ao
trabalho de redimir os cativos e de tratar dos doentes, vítimas da peste, no
Hospital de Santa Eulália.
Para além das lutas
com os árabes, a Espanha experimentou o flagelo da peste que se abateu sobre o
povo, dizimando cidades inteiras e afectando milhares de pessoas. O atendimento
hospitalar era insuficiente, incapaz de suster o avanço da peste. Então, estes
jovens, cheios de amor ao próximo sofredor, cuidavam, por sua conta e risco, dos
enfermos abandonados, levando-os para o Hospital de Santa Eulália e tratando-os
de acordo com as medicinas da época. Este Hospital, mais tarde, passou a fazer parte da estrutura das redenções,
pois os cativos eram levados para lá, para uma quarentena, e lá eram tratados
com todo carinho. Mas, os recursos económicos começaram a minguar; as reservas
guardadas nos cofres já não davam para comprar tão rica mercadoria e o número
dos cativos crescia cada vez mais.
Numa certa noite, Pedro
Nolasco não conseguiu conciliar o sono e pôs-se a rezar, pedindo à Mãe do Céu -
de quem era profundamente devoto - que o auxiliasse. Nessa noite, Pedro teve
uma visão. Sentiu-se envolvido por uma grande luz e viu Maria, cheia de ternura
e com uma veste branca nas suas mãos. “Nolasco - disse a Mãe de Jesus - é
vontade do meu Filho e minha vontade que
fundes uma Ordem religiosa para remir os cativos. Nós estaremos sempre
contigo”. Quando Pedro Nolasco voltou a si, a linda Senhora tinha desaparecido.
Pedro Nolasco
esperou o amanhecer e, depois, correu, apressadamente, para contar o sucedido
ao seu confessor, o Padre Raimundo de Peñafort, e, ambos, foram contar ao Rei
Dom Jaime I de Aragão e ao Bispo de Barcelona, Dom Berenguer de Palau, que
aprovaram, entusiasmados, a inspiração de Pedro Nolasco.
No dia 2 de Agosto
de 1218, o Rei achou por bem ter, no seu reino, uma estrutura organizada que
cuidasse da redenção dos cativos, um desejo sentido já pelo Rei Afonso II, mas
nunca concretizado. Dez dias depois, no dia 10 de Agosto, o som do órgão e dos
cânticos enchiam a catedral de Barcelona. Uma nova Ordem religiosa
constituía-se oficialmente e um grupo de jovens, vestidos de hábitos brancos,
proclamavam as grandezas de Deus por meio de Maria Santíssima e emitiam três
votos comuns a todas as ordens religiosas: votos de pobreza, obediência e
castidade. Mas, a vontade daquele grupo,
movido pela caridade, levou os novos religiosos a afirmar, perante os fiéis
reunidos no templo, um quarto voto: “daremos as nossas vidas, se necessário
for, para tirar do cativeiro um irmão necessitado”. Um voto heroico que custou
à Ordem Mercedária alguns milhares de vidas e muito sangue derramado, imitando
assim o Redentor dos homens, Jesus, que Pedro Nolasco tão bem imitou durante
toda a sua vida.
Esta Ordem, ao
longo dos tempos, recebeu vários nomes: Ordem de Santa Eulália; Ordem das
Mercês dos cativos; Ordem da Redenção dos cativos; Ordem das Mercês. Desde 1272,
o verdadeiro nome é: Ordem da Virgem Maria das Mercês da Redenção dos Cativos.
Pouco tempo depois,
surgiu o ramo feminino da Ordem, fundado por Santa Maria de Cervellón, com um
grupo de raparigas que ajudaram muito a Pedro Nolasco e aos seus religiosos,
rezando pelo êxito do trabalho em favor da redenção dos cativos.
Pedro Nolasco
preocupou-se sempre em ser fiel imitador de Cristo, não só na caridade, mas
também nos gestos e nas atitudes. Este homem de Deus dedicou toda a sua vida ao
serviço do próximo, vendo em cada sofredor o próprio Cristo. Os historiadores
mais recentes dizem que ele morreu em Barcelona, no dia 06 de Maio de 1245.
Para melhor
realizar a sua missão, a sua “equipa” era constituída por clérigos: irmãos de
obediência; donados: amigos piedosos que permaneciam com os religiosos,
ajudando nos vários serviços domésticos e mais tarde emitiam os votos; e terciários:
leigos que viviam com a sua família, mas participavam dos bens espirituais da
Ordem. Em momentos determinados da história, a Ordem de Mercedária formou
grupos armados para defender os navios, ou outros transportes de cativos, dos
ataques dos piratas. Os membros deste grupo viviam nos seus castelos e usavam
armas. Às vezes, eram requisitados pelo Rei para exercer a função de sua guarda
pessoal. A missão principal de todos era recolher esmolas pagar o resgate dos
cativos. Quando o dinheiro era insuficiente, ou se o cativo estivesse numa
situação grave, um ou dois mercedários
ofereciam-se para ficar como reféns até ser possível satisfazer o peço pedido
pelo resgate. É grande o número dos religiosos que deram a vida para salvar os
cativos. Os mais exemplares e conhecidos são: São Raimundo Nonato, São Pedro
Armengol, São Serápio, São Pedro Pascual, São Juán Gilaber Jofré. Alguns
milhares de religiosos mercedários - dos quais desconhecemos os nomes – deram,
também, a sua vida e os seus nomes estão escritos no céu. Entre os anos 1302 e
1489, foram feitas, aproximadamente, 153
redenções, em que foram resgatados 18.623 cativos, segundo dados do historiador
Garí e Siumell.
Pedro Nolasco foi
um homem destemido, profundamente conhecedor das questões sociais e políticas
do seu tempo, exímio articulador e organizador de expedições para resgatar
cativos. Homem que sabia usar bem as estratégias do seu tempo para alcançar
seus objectivos. Diz a história que, quando o seu dinheiro acabou, ele criou
uma campanha de angariação de recursos pelas esquinas da cidade de Barcelona,
colocando ‘arcas de redenção’, onde as pessoas podiam depositar as suas
ofertas. Frei Pedro Nolasco tinha obtido, também, uma autorização do Bispo para
andar pelas igrejas a pregar, com a finalidade de obter outras ajudas do povo
cristão. Frei Pedro Nolasco era presença regular no palácio do Rei e era
acolhido e respeitado nos ambientes mais ricos; mas, nunca deixou de viver,
intensa e claramente, de forma desprendida e humilde entre os mais pobres.
Pedro Nolasco, pela
sua humildade e simplicidade, nunca quis
ser ordenado sacerdote; morreu leigo, preferindo ser chamado Frei Pedro Nolasco.
A Ordem por ele fundada, também, não recebeu o seu nome, mas o nome da Mãe de
Jesus, com título de Mercês.
Frei Pedro Nolaco
foi canonizado, em 1628, pelo Papa Urbano VIII.
A memória litúrgica
de São Pedro Nolasco celebra-se no dia 6 de Maio.