SÃO JOSÉ DE ANCHIETA
José de Anchieta nasceu na Ilha de Tenerife, no arquipélago das Canárias,
em 19 de Março de 1534. Era filho de João López de Anchieta e de Mência Diaz de
Clavijo y Llarena, descendente da nobreza canária. Foi baptizado no dia 7 Abril
de 1534, na Paróquia de Nossa Senhora dos Remédios, actual Catedral de São
Cristóvão de La Laguna, onde ainda existe a pia de calcário vermelho onde,
segundo a tradição, teria sido baptizado. A sua certidão de baptismo, inscrita
no Livro I da Igreja dos Remédios, está preservada no Arquivo Histórico
Diocesano de Tenerife, onde se lê: ‘José, filho de Juan de Anchieta e de sua
esposa, foi baptizado no dia 7 de Abril por Juan Gutiérrez, vigário e seus
padrinhos foram Domenigo Riso e Don Alonso’.
O seu pai foi um revolucionário basco que tomou parte na revolta
dos Comuneros contra o Imperador Carlos V, de Espanha, e um grande devoto da
Virgem Maria. Era aparentado com os Loyola: daí o parentesco de Anchieta com o
fundador da Companhia de Jesus, Inácio de Loyola. A sua mãe era natural das
Ilhas Canárias, filha de judeus cristãos-novos. O avô materno, Sebastião de
Llarena, era um judeu convertido do Reino de Castela. Teve doze irmãos; alguns
deles abraçaram, também, o sacerdócio.
José viveu com a família até aos catorze anos de idade. Nessa
altura, mudou-se para Coimbra, em Portugal, a fim de estudar filosofia, no Real
Colégio das Artes e Humanidades, anexo à Universidade de Coimbra. A ascendência
judaica foi determinante para que o enviassem para estudar em Portugal, uma vez
que, em Espanha, à época, a Inquisição era mais rigorosa. No dia 1 de Maio de
1551, entrou, como noviço, para a Companhia de Jesus.
Tendo o padre Manuel da Nóbrega - Provincial dos Jesuítas no
Brasil - solicitado mais braços para a actividade da evangelização do Brasil, o
Provincial da Ordem, Padre Simão Rodrigues, indicou, entre outros, José de
Anchieta. Desde muito jovem, José de Anchieta padecia de tuberculose óssea, o
que lhe causou uma escoliose, agravada durante o noviciado na Companhia de
Jesus. Este facto foi determinante para que deixasse os estudos religiosos e viajasse
para o Brasil. Chegou a São Salvador da Baía, no dia 13 de Julho de 1553, com
menos de 20 anos de idade, viajando na armada do segundo governador-geral do
Brasil, Dom Duarte da Costa. Com ele, viajaram outros seis companheiros, sob a
chefia do Padre Luis da Grã.
José Anchieta ficou menos de três meses em São Salvador da Baía.
Foi enviado para a Capitania de São Vicente, no princípio de Outubro, com o padre
jesuíta Leonardo Nunes. Aqui, conheceu o Padre Manuel da Nóbrega e, aqui,
permaneceu durante doze anos.
José de Anchieta abriu os caminhos do sertão, aprendeu a língua
tupi, catequizou e ensinou latim aos índios. Escreveu a primeira gramática
sobre uma língua do tronco tupi: a "Arte da Gramática da Língua Mais
Falada na Costa do Brasil", que foi publicada, em Coimbra, em 1595.
No seguimento da sua acção missionária, participou, com outros
padres da Companhia, na fundação - no planalto de Piratininga - do Colégio de
São Paulo - um colégio de jesuítas, do qual foi regente – e que foi o embrião
da cidade de São Paulo. Este acontecimento realizou-se no dia 25 de Janeiro de
1554, dia em que se comemora a Conversão de São Paulo. Daí o nome dado ao
Colégio e à povoação que surgiu à sua volta. No primeiro ano da sua existência,
a povoação contava com 130 habitantes, dos quais 36 tinham recebido o baptismo.
Sabe-se que a data da fundação de São Paulo é o dia 25 de Janeiro
por causa de uma carta de Anchieta aos seus superiores da Companhia de Jesus,
na qual diz: “ A 25 de Janeiro do Ano do Senhor de 1554, celebrámos, em
paupérrima e estreitíssima casinha, a primeira missa, no dia da conversão do
Apóstolo São Paulo, e, por isso, a ele dedicamos a nossa casa! ”
O Padre José de Anchieta cuidava
não apenas de educar e catequizar os indígenas, mas também de defendê-los dos
abusos dos colonizadores. Esteve em Itanhaém e Peruíbe, no litoral sul de São
Paulo, na Quaresma que antecedeu a sua ida à aldeia de Iperoig, juntamente com
o Padre Manuel da Nóbrega, em missão de preparo para o Armistício com os
Tupinambás de Ubatuba (Armistício de Iperoig). Nesse período, em 1563, intermediou
as negociações entre os portugueses e os indígenas, reunidos na Confederação
dos Tamoios, oferecendo-se como refém dos tamoios, em Iperoig, enquanto o Padre
Manuel da Nóbrega retornou a São Vicente, juntamente com Cunhambebe filho, para
ultimar as negociações de paz entre os indígenas e os portugueses. Entre os
índios baptizados pelo Padre Anchieta destaca-se o cacique Tibiriçá.
A pregação de jesuítas - como os Padres Anchieta e Nóbrega - no
Brasil foi uma inculturação recíproca entre a influência do cristianismo e as
crenças e costumes dos nativos. Os padres utilizaram elementos da cultura
indígena como a melhor forma de lhes ensinar a doutrina cristã.
Durante o tempo em que passou entre os gentios, o Padre José de
Anchieta compôs o "Poema à Virgem". Segundo uma tradição, tê-lo-ia
escrito nas areias da praia e, depois, memorizado o poema. Só mais tarde, em
São Vicente, o teria escrito em papel. Ainda segundo a tradição, foi também
durante o cativeiro que o Padre Anchieta teria "levitado" entre os
indígenas, os quais, imbuídos de grande pavor, pensavam tratar-se de um
feiticeiro.
José de Anchieta lutou contra os franceses, estabelecidos na
França Antártica, na baía da Guanabara. Foi companheiro de Estácio de Sá, a
quem assistiu nos seus últimos momentos (1567). Em 1566, foi enviado à
Capitania da Bahia com o encargo de informar ao governador Mem de Sá do
andamento da guerra contra os franceses, possibilitando o envio de reforços
portugueses para o Rio de Janeiro. Por esta época, foi ordenado sacerdote aos 32
anos de idade.
Dirigiu o Colégio dos Jesuítas, do Rio de Janeiro, durante três
anos, de 1570 a 1573. Em 1569, fundou a povoação de Reritiba (ou Iriritiba), actual
Anchieta, no Espírito Santo. Em 1577, foi nomeado Provincial da Companhia de
Jesus no Brasil, função que exerceu durante dez anos, sendo substituído, em
1587, a seu pedido. Retirou-se para Reritiba, mas teve ainda de dirigir o
Colégio do Jesuítas, em Vitória, no Espírito Santo. Em 1595, obteve dispensa
dessas funções e conseguiu retirar-se definitivamente para Reritiba, onde veio
a falecer, no dia 9 de Junho de 1597. Foi sepultado em Vitória.
O Padre José de Anchieta foi beatificado, no dia 22 de Junho de
1980, em Roma, pelo Papa João Paulo II. Na cerimónia de beatificação, disse o
Papa: “…Um incansável e genial missionário é José de Anchieta, que aos
dezassete anos, diante da imagem da Santa Virgem Maria, na Catedral de Coimbra,
faz voto de virgindade perpétua e decide dedicar-se ao serviço de Deus. Tendo
entrado na Companhia de Jesus, parte para o Brasil no ano de 1553, onde, na
missão de Piratininga, empreende múltiplas actividades pastorais com o
objectivo de aproximar e ganhar para Cristo os índios das florestas virgens.
Ele ama com imenso afecto os seus irmãos «Brasis»; participa da sua vida;
aprofunda-se nos seus costumes e compreende que a sua conversão à fé cristã
deve ser preparada, ajudada e consolidada por um apropriado trabalho de
civilização, para a sua promoção humana. O seu zelo ardente move-o a realizar
inúmeras viagens, cobrindo distâncias imensas no meio de grandes perigos. Mas a
oração contínua, a mortificação constante, a caridade fervente, a bondade
paternal, a união íntima com Deus, a devoção filial à Virgem Santíssima - que
ele celebra num longo poema de elegantes versos latinos -, dão a este grande
filho de Santo Inácio uma força sobre-humana, especialmente quando deve
defender, contras as injustiças dos colonizadores, os seus irmãos indígenas.
Para eles compõe um catecismo, adaptado à sua mentalidade e que contribuiu
grandemente para a sua cristianização. Por tudo isto, ele bem mereceu o título
de «Apóstolo do Brasil»…”
O Beato José de Anchieta foi canonizado, no dia 3 de Abril de
2014, pelo Papa Francisco. No dia 24 de Abril de 2014, na Igreja de Santo
Inácio de Loyola - Roma, numa celebração de acção de graças pela canonização do
Padre José de Anchieta, o Papa Francisco disse: “…Também São José de Anchieta
soube comunicar o que ele mesmo experimentara com o Senhor, aquilo que tinha
visto e ouvido dele; o que o Senhor lhe comunicava nos seus exercícios. Ele,
juntamente com Nóbrega, é o primeiro jesuíta que Inácio envia para a América.
Um jovem de 19 anos... Era tão grande a alegria que sentia, era tão grande o
seu júbilo, que fundou uma Nação: lançou os fundamentos culturais de uma Nação,
em Jesus Cristo. Não estudou teologia, também não estudou filosofia, era um
jovem! No entanto, sentiu sobre si mesmo o olhar de Jesus Cristo e deixou-se
encher de alegria, escolhendo a luz. Esta foi e é a sua santidade. Ele não teve
medo da alegria.
São José de Anchieta escreveu um maravilhoso hino à Virgem Maria à
Qual, inspirando-se no cântico de Isaías 52, compara o mensageiro que proclama
a paz, que anuncia a alegria da Boa Notícia. Ela, que naquela madrugada de
Domingo sem sono por causa da esperança, não teve medo da alegria, nos
acompanhe no nosso peregrinar, convidando todos a levantar-se, a renunciar às
paralisias para entrar juntos na paz e na alegria que nos promete Jesus, Senhor
Ressuscitado…”
A memória litúrgica de São José de Anchieta celebra-se no dia 9 de
Junho.