- HOMILIA DE D. ANTÓNIO FRANCISCO DOS SANTOS, BISPO DO PORTO,
NAS ORDENAÇÕES DE PRESBÍTEROS E DIÁCONOS, NA SÉ CATEDRAL, NO DIA 9 DE JULHO DE
2017
1.“Eu te bendigo, ó Pai, Senhor do céu e da terra” (cf. Mt 11,
25-30). Inicia assim o texto do Evangelho, hoje proclamado. Jesus, autor desta
palavra, dita como quem reza, afirma as razões e justifica as intenções da Sua
oração. Rezemos também nós hoje, neste dia de bênção e de acção de graças a
Deus, e digamos uns aos outros os motivos da nossa alegria e as razões da nossa
oração.
Vós, caros ordinandos, chamados por Deus e escolhidos pela Igreja
para o ministério de diáconos e de presbíteros, sois os protagonistas da
oração, que convosco hoje rezamos, e o rosto da bênção, que de Deus através de
vós recebemos.
Bendigo a Deus pelo Bruno Ávila, Fernando Perpétua, Marco Alves,
da nossa diocese, Duarte Rosado, João de Brito e Manuel Lencastre Cardoso, da
Companhia de Jesus, e Jorge Gonçalves, da Congregação dos Sacerdotes de Coração
de Jesus, Sacerdotes Dehonianos, que vão ser ordenados presbíteros.
Bendigo a Deus pelo João Pedro Ribeiro e Vasco Soeiro, vindos do
Seminário Maior da Sé, Ariosto Nascimento e Celestin Bizimenyera, primeiros
alunos a concluir o percurso formativo no Seminário de Santa Teresa do Menino
Jesus – Seminário Redemptoris Mater, do Porto, e Jaime Mathe, membro da
Sociedade Missionária da Boa Nova, que vão ser ordenados diáconos.
Louvo, ao jeito de Jesus, as famílias, comunidades, seminários e
percursos de formação de cada um de vós. Deus revelou aos vossos pais, avós,
irmãos, familiares, párocos, agentes da pastoral vocacional, formadores dos
seminários, colegas e amigos a sabedoria dos Seus sonhos divinos. Sois, vós
mesmos, testemunhas da autenticidade da Palavra e destinatários deste elogio de
Jesus que bendiz o Pai porque Ele revelou grandes verdades aos pequenos e
ofereceu tesouros imensos aos simples.
Agradeço a Deus, por mandato e em nome da Igreja, todos aqueles
que, nas horas que precederam o vosso chamamento e no percurso da vossa
formação, souberam perscrutar o sonho de Deus e o traduziram para vós em
palavras simples, por vós percebidas, em gestos de atenção vocacional, que vos
interpelaram, em momentos de oração, que vos fortaleceram, e em testemunhos de
vida preenchidos de encanto pela missão e de fascínio de Deus.
Bendigo, sobretudo, a Deus por este tesouro de bênção e de graça
que só Ele sabe e pode oferecer. Não tenhais medo de guardar este tesouro
religiosamente nos vasos de barro humano que vós sois. Deus continuará a cuidar
de vós como Seus eleitos e a velar em permanência por este tesouro. Ele nem
sequer recusa lavar os nossos pés, para que diariamente possamos caminhar com
novas forças. Este tesouro, que a graça do sacramento da Ordem vos confere e
confia, vai renovar a Igreja e transformar o mundo.
2. Na quinta-feira passada, em tempo alongado pela vigília da
noite a partir da Eucaristia, celebrada no Mosteiro Carmelita de Bande, pude
estar com cada um de vós reunidos em retiro espiritual. Senti mais uma vez com
clareza que somos uma Igreja a caminho e que estamos decididos a estendermos as
mãos ao Senhor para nos guiar nesta «santa viagem» de um verdadeiro, exigente e
necessário caminho sinodal.
A Igreja fez-se ao caminho desde a manhã da ressurreição. Ela
avança lentamente. Lembrei-me no encontro com cada um nesse dia e no dia
seguinte com os diáconos da Companhia de Jesus das palavras tão belas e tão
oportunas do Papa Francisco, ditas, em Roma, no passado dia 1 de junho aos
participantes da Plenária da Congregação para o Clero. Deixai que as recorde
aqui e que as faça minhas para que sejam também vossas:
“Alegro-me sempre quando encontro jovens sacerdotes, porque neles
vejo a juventude da Igreja … Sinto meu dever aconselhar, antes de tudo aos
jovens padres, para rezar, caminhar sempre e partilhar com o coração.
Rezar, porque somente podemos ser «pescadores de homens» se
reconhecermos nós primeiro, que fomos «pescados» pela ternura do Senhor. A
nossa vocação iniciou quando, depois de ter abandonado a terra do nosso
individualismo e dos nossos projectos pessoais nos encaminhamos rumo à «santa
viagem».
Caminhar sempre porque um sacerdote permanece sempre um discípulo,
peregrino pelas estradas do Evangelho e da vida, debruçado sobre o limiar do
mistério de Deus e sobre a terra sagrada das pessoas que lhe foram confiadas.
Nunca se sentirá satisfeito nem poderá apagar a saudável inquietude que lhe faz
estender as mãos ao Senhor para se deixar formar, guiar e preenche.
Partilhar com o coração, porque a vida presbiteral não é um cargo
burocrático nem um conjunto de práticas religiosas ou litúrgicas a serem
realizadas…Ser sacerdote significa arriscar a vida pelo Senhor e pelos irmãos,
trazendo na própria carne as alegrias e as angústias do povo, dedicando tempo e
escuta para curar as feridas dos outros, e oferecendo a todos a ternura do Pai”
(Papa Francisco, Discurso aos participantes na plenária da Congregação para o
Clero, Roma, 1.6. 2017).
3. A alegria do Papa Francisco diante dos jovens sacerdotes é,
também, o júbilo desta amada Igreja do Porto diante destes eleitos de Deus, que
hoje são ordenados, e diante de tantos sacerdotes que hoje ou nestes dias mais
próximos celebram o aniversário da sua ordenação. Este é igualmente o júbilo de
todo o povo de Deus diante do exemplar testemunho de disponibilidade, de
entrega e de comunhão do presbitério diocesano e do clero religioso, presente
no Porto.
A presença tão numerosa e feliz nesta celebração é disso sinal
significativo e exemplar. Obrigado, irmãos sacerdotes, por este tocante
testemunho de acolhimento, marcado pela alegria, pela gratidão e pela
esperança, aos novos membros do nosso presbitério.
Exulta de alegria, hoje connosco, a Companhia de Jesus, a
Congregação dos Sacerdotes Dehonianos e a Sociedade Missionária da Boa Nova, a
quem agradeço esta bela afirmação de comunhão fraterna e de sentido eclesial
que a decisão desta celebração conjunta nos oferece.
4. Sei que a nossa alegria é também júbilo da Igreja inteira e
concretamente de várias dioceses, congregações e institutos religiosos de
Portugal que vivem momentos iguais com a ordenação de diáconos e presbíteros
para que nunca faltem no mundo sob a protecção de Maria, Mãe de Deus e Mãe da
Igreja, “sentinelas da madrugada que sabem contemplar o verdadeiro rosto de
Jesus Salvador, aquele que brilha na Páscoa, e descobrir novamente o rosto
jovem e belo da Igreja, que brilha quando é missionária, acolhedora, livre,
fiel, pobre de meios e rica no amor” (Papa Francisco, Homilia, Fátima,
13.5.2017).
Esta é a primeira grande celebração que nos reúne nesta Catedral
depois do Papa Francisco ter reconhecido as «virtudes heróicas» de D. António
Barroso e o ter declarado «Venerável».
D. António Barroso, que hoje vos apresento, caros ordinandos, como
vosso modelo de vida e referência de ministério, foi missionário em Angola,
bispo em Moçambique, em Meliapor, na Índia, e no Porto, aqui desde 21 de Fevereiro
de 1899, data da sua nomeação, até 31 de Agosto de 1918, momento da sua morte.
O báculo de pastor, que o Clero do Porto lhe ofereceu, no dia 4 de
Abril de 1914, a quando do regresso do exílio, e que sempre uso nas celebrações
na Catedral, vincula-me ao bem e à bênção de todos os meus antecessores e une a
cada momento o belo percurso da história multissecular da Igreja do Porto.
Rezemos para que D. António Barroso, modelo de discípulo
missionário de Jesus, sempre presente na vanguarda da missão e da profecia,
seja brevemente beatificado e canonizado.