- FESTA DAS FOGACEIRAS
Com
simplicidade, beleza e piedade, celebrámos, em Santa Maria da Feira, a Festa em
Honra do Mártir São Sebastião, no dia 20 de Janeiro. Como habitualmente, muita
gente acorreu a esta festividade. A Igreja Matriz foi pequena para acolher
todos os que desejavam agradecer as bênçãos de Deus, pela intercessão do Santo
Mártir. Transcrevemos a homilia do Sr. D. Manuel Pelino, que presidiu às nossas
festas.
«…São Sebastião, Padroeiro de Santa
Maria da Feira
1. Um
santo corajoso
Celebramos
hoje a memória do Mártir São Sebastião, padroeiro muito amado destas terras de
Santa Maria da Feira. É uma veneração antiga e sólida em reconhecimento pela
proteção concedida num momento angustiante de uma peste que ameaçava a vida de
todos os habitantes da região. São Sebastião é, aliás, um dos santos mais
admirados e estimados pelos fiéis católicos. A sua imagem encontra-se ao culto
em inúmeros edifícios religiosos. As catacumbas de São Sebastião em Roma, onde
repousam os seus restos mortais, são das mais visitadas desde remota
antiguidade. Porquê esta veneração tão difundida? Certamente pelas experiências
de proteção recebidas e transmitidas de geração em geração. Mas igualmente pela
admiração que a sua vida, corajosamente dedicada ao serviço da fé em tempos
difíceis, desperta em toda a gente.
Os
séculos não deixam apagar a sua memória nem esquecer o seu testemunho. Da sua
vida histórica chegaram até nós muitas lendas e alguns dados seguros. Natural
da Narbona, viveu, cresceu e estudou em Milão como nos atesta Santo Ambrósio,
bispo desta cidade. A exemplo de seu pai, seguiu a carreira militar. A
dedicação, disciplina e boa relação que mostrava promoveram-no à
responsabilidade de capitão da guarda pretoriana. A certa altura da sua vida,
conta Santo Ambrósio, compreendeu que deveria deixar a cidade de Milão e partir
para Roma onde o imperador Diocleciano havia desencadeado feroz perseguição aos
cristãos. Sebastião sentiu que Deus o chamava para o lugar do combate da fé,
para socorrer as vítimas, encorajar os perseguidos e fazer chegar a todos a
partilha fraterna. A Igreja de Roma precisava da sua ajuda e ele estava bem
posicionado para a prestar. Portanto, assumiu com valentia essa missão.
O
nosso padroeiro mostra-nos, assim, o evangelho concretizado nas atitudes
práticas da sua vida. Se o consideramos como padroeiro e protetor de confiança,
devemos tê-lo também como referência que inspira o estilo da nossa vida. Do seu
testemunho podemos colher algumas orientações muito atuais para vivermos e
testemunharmos a fé no nosso tempo.
2. Proximidade
evangélica.
Seguir
Jesus Cristo é tornar-se próximo daqueles que precisam de ajuda, é sair da sua zona
de conforto e ir ao encontro dos que sofrem. Assim procedeu o Senhor Jesus
vindo ao nosso encontro para habitar no meio de nós. Do mesmo modo fez o nosso
Santo deixando a vida sossegada em Milão para apoiar e animar os que em Roma
precisavam de ajuda. As guerras e as perseguições deixavam muita gente
desamparada, sem qualquer meio de subsistência. Presos, perseguidos, viúvas e
órfãos precisavam de ajuda material, de afeto, de proteção. Na altura não havia
segurança social alguma. Mas os cristãos não estavam sós. Num mundo cruel e
dilacerado, os discípulos de Cristo testemunhavam sentido de grupo, amor
fraterno, assistência nas necessidades. Eram irmãos no sentido verdadeiro do
termo. A comunidade cristã era uma família onde todos davam e encontravam afeto,
onde todos partilhavam os bens. Sebastião vai ser o rosto e o mediador da
caridade da Igreja de Roma. O seu estatuto militar permitia-lhe o acesso a
muitos lugares de necessidade.
O
estilo de proximidade é proposto por Jesus a todos os seus discípulos. Desde o
início da sua vida pública, o nosso Mestre e Senhor chocava pela sua
proximidade revolucionária em relação aos pecadores, aos impuros e a outros que
os costumes da época afastavam e separavam. Tocar o leproso, levantar pela mão
a sogra de Pedro que estava de cama com febre, sentar-se à mesa com pecadores,
eram gestos de proximidade inusitada. A quem lhe perguntou “quem é o meu
próximo”, Jesus contou a parábola do bom samaritano para concluir: procede
assim, faz-te próximo do que está caído à beira da estrada da vida, levanta-o,
coloca-o aos ombros se for necessário, cuida dele enquanto ele precisar.
Portanto, não basta saber quem é o meu próximo. Importante é tornar-me próximo
daquele que precisa da minha ajuda.
É
esta proximidade que o Papa Francisco pede hoje aos cristãos que formam a
Igreja. Num mundo marcado pela indiferença e por forte individualismo, a Igreja
de Jesus, diz o Papa, deve tornar-se um hospital de campanha, próxima dos que
sofrem, dedicada a curar as feridas e a erguer os que estão caídos. E a Igreja
somos nós chamados a ser próximos de todos quantos sofrem tribulações.
3. Alegria
em dar e em se dar
“A felicidade está mais em dar do que em
receber”. É São Paulo que nos recorda
esta afirmação de Jesus e confirma-a com a sua própria experiência. Também
Paulo, o apóstolo das gentes, sentia felicidade em dar e refere, a propósito,
que, na sua afadigada vida de evangelizador, ainda encontrava tempo para
fabricar tendas com as suas mãos e assim podia prover às suas necessidades e
dos companheiros e ajudar outros mais necessitados (Atos 20, 34-35)
Muita
gente pensa e age como se a felicidade estivesse apenas em receber e a doação
fosse um sacrifício que empobrece. A mentalidade reinante sensibiliza-nos mais
para receber do que para dar. Serão as pessoas mais felizes só por receber?
Descobrimos
muita gente de todas as idades, designadamente jovens, que encontra a
felicidade em dar e em se dar. No voluntariado, no cuidado dos mais desvalidos
e frágeis. São muitos os que tocam as feridas das pessoas para as curarem. E
sentem-se felizes, realizados. De facto, ser generoso, abrir as mãos para a
partilha faz bem à autoestima e à saúde espiritual e física. Dar e dar-se gera
uma personalidade positiva e irradiante. Por isso, não nos apressemos apenas para
receber mas adiantemo-nos também para dar.
Na
linha do evangelho, a doação verdadeira não se limita a partilhar bens. Deve
ser mais profunda e ir mais longe, conduz a dar-se a si mesmo, como o Senhor
que, por nós, se entregou. Assim recomenda São Paulo aos Romanos: “Peço-vos irmãos que vos ofereçais a vós
mesmos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus. Não vos conformeis com
este mundo; mas transformai-vos pela renovação da vossa mente”(Rm 12, 1-2).
Esforcemo-nos, pois, por dar afeto, estima, atenção, fazendo da vida uma oferta
e unindo-a à oferta de Jesus. Rezemos com Santo Inácio de Loiola: “Tomai Senhor e recebei tudo o que tenho e
tudo o que possuo. Vós mo destes, a Vós Senhor o restituo”.
A
doação suprema é o martírio. Só a fé muito firme e o desejo profundo de estar
com Cristo e se assemelhar a Ele na entrega à morte, pode explicar a doação do
martírio. Como escreveu Santo Inácio de Antioquia: “Estou disposto a morrer de bom grado por Deus (…).Deixai-me ser pasto
das feras pelas quais poderei chegar à posse de Deus (..) Procuro Aquele que
por nós morreu; quero estar com Aquele que para nós ressuscitou (…). Estou
prestes a nascer”. São Sebastião atingiu esta doação admirável. Por isso,
alcançou a vitória sobre a morte e recebeu de Deus a coroa da eterna glória.
Assim nos ensina como conclusão para a peregrinação terrena: “a graça vale mais do que a vida, por isso
os meus lábios hão-de cantar-vos louvores”…»