BEATO CIPRIANO MIGUEL IWENE TANSI
Iwene Tansi nasceu em Setembro de 1903, em Igboezunu,
no estado de Anambra, na Nigéria, numa família pagã. Os seus pais, Tabani e
Ejikwevi, pertenciam, a uma das mais nobres e gloriosas tribos nigerianas – a
dos Igbo – que, entre os anos de 1967 e 1970, protagonizou a mais triste e
sangrenta guerra civil de África: a guerra do antigo Biafra.
Iwene perdeu o seu pai ainda muito pequeno e a sua
mãe, viúva e com cinco filhos, entregou-o à guarda de uns parentes da aldeia de
Nduka. Aí frequentou a escola dos missionários, tendo como professor o seu
primo Roberto Orekie, que era cristão.
Iwene Tansi foi baptizado aos 9 anos e, no baptismo,
recebeu o nome de Miguel. Era de carácter obediente e paciente e costumava
passar longas horas em oração, na igreja, motivo pelo qual era, às vezes,
motivo da zombaria dos outros rapazes. Era, também, muito exigente e estudioso,
tendo muita ascendência sobre os seus companheiros que ficavam fascinados
diante da sua grandeza humana e religiosa.
Em 1913, partiu, com o seu primo Roberto, para
Onitsha, onde se inscreveu na Escola Primária da Santíssima Trindade. Durante
seis anos, dedicou-se ao estudo e obteve, em 1919, o diploma que o habilitava
para se dedicar ao ensino. Deu aulas nesta escola até 1924, altura em que
regressou à sua cidade, assumindo a direcção do Colégio de São José. Ao mesmo
tempo, amadurecia, no seu íntimo o desejo de ser sacerdote e, em 1925, com 22
anos de idade, entrou no Seminário Diocesano de São Paulo de Igbariam, apesar
da forte oposição da família. Em 1932, como testemunho da confiança dos seus
superiores, foi nomeado ecónomo do Seminário.
Terminados os seus estudos teológicos, foi ordenado
presbítero, no dia 19 de Dezembro de 1937, na Catedral de Onitsha. Foi o
segundo sacerdote indígena da Diocese e o primeiro da sua cidade. Passou os
anos seguintes dedicado à actividade paroquial. Primeiro como coadjutor da
paróquia de Nuewi e, depois, como pároco de Dunukofia.
O seu ministério foi caracterizado por uma caridade
ardente para com o próximo e as pessoas da região tinham-no por um “santo
vivo”. Combateu a superstição e fomentou a formação espiritual das mulheres e
dos candidatos ao matrimónio. Levava uma intensa vida ascética, impondo-se
frequentes restrições.
Durante a década de 1940, manifestou um vivo interesse
pela vida contemplativa e comunicou este desejo ao seu Bispo. Este entrou em
contacto com mosteiros trapistas irlandeses e ingleses a fim de encontrar um
local onde o Pe. Miguel pudesse receber a formação monástica. O Mosteiro trapista
de Monte São Bernardo, em Leicester, na Inglaterra, respondeu positivamente aos
pedidos do arcebispo nigeriano e, em 2 de Julho de 1950, Pe. Miguel entrou
neste Mosteiro, recebendo o nome de Irmão Cipriano. Era sua intenção, depois de
recebida a conveniente a formação, regressar à Nigéria e, ali, fundar um Mosteiro.
Contudo, ao aperceber-se das imensas dificuldades em concretizar o seu
projecto, emitiu, no dia 8 de Dezembro de 1956, os votos perpétuos, no Mosteiro
de Monte São Bernardo. O Irmão Cipriano vivia na expectativa de que, um dia,
este Mosteiro pudesse fundar uma comunidade monástica, na Nigéria. A fundação de
um mosteiro trapista em África veio, realmente, a acontecer; não na Nigéria,
mas nos Camarões. O Irmão Cipriano foi designado mestre-de-noviços do novo
Mosteiro mas, pouco antes da viagem, em Dezembro de 1963, foi-lhe diagnosticada
uma trombose profunda na perna e, pouco depois, uma excrescência no estômago.
Enquanto se preparava para a operação de emergência, teve um aneurisma da
aorta, que provocou a sua morte, no dia 20 de Janeiro de 1964.
O Padre Cipriano Miguel Iwene Tansi foi beatificado
pelo Papa João Paulo II, no dia 22 de Março de 1998, na Catedral de Onitsha, na
Nigéria. Na homilia da missa,o Papa João Paulo II disse: “… Hoje, um dos filhos
da Nigéria, o Padre Cipriano Miguel Iwene Tansi, foi proclamado «Beato»,
precisamente na terra onde ele pregou a Boa Nova da salvação e procurou reconciliar
os seus concidadãos com Deus e uns com os outros. De facto, a Catedral onde o
Padre Tansi foi ordenado e a paróquia onde exerceu o ministério sacerdotal não
estão distantes de Oba, lugar onde nos encontramos reunidos. Algumas pessoas, a
quem ele proclamou o Evangelho e administrou os sacramentos, hoje estão aqui
connosco — inclusive o Cardeal Francis Arinze, que foi baptizado pelo Padre
Tansi e recebeu a sua primeira educação numa das suas escolas. (…)
A vida e o testemunho do Padre Tansi são fonte de
inspiração para todos na Nigéria, País que ele tanto amou. Ele era antes de
tudo um homem de Deus: as longas horas passadas diante do Santíssimo Sacramento
cumularam o seu coração de amor generoso e corajoso. Os que o conheceram dão
testemunho do seu grande amor a Deus. Todos os que se encontraram com ele se
sentiram tocados pela sua bondade pessoal. Ele foi também um homem do povo:
colocou sempre os outros antes de si mesmo, e esteve especialmente atento às
necessidades pastorais das famílias. Assumiu o grande encargo de preparar bem
os casais para o sagrado matrimónio e anunciou a importância da castidade.
Procurou de todos os modos promover a dignidade das mulheres. De modo especial,
considerava preciosa a educação das jovens. Também quando foi enviado pelo
Bispo Heerey à Abadia Cisterciense do Monte São Bernardo, na Inglaterra, para
seguir a própria vocação monástica, com a esperança de poder trazer para a
África a vida contemplativa, ele jamais se esqueceu do seu povo e não deixou de
oferecer orações e sacrifícios pela sua contínua santificação. (…)
O Padre Tansi sabia que existe algo do filho pródigo
em cada ser humano. Sabia que todos os homens e todas as mulheres são tentados
a separar-se de Deus, para procurarem a própria independência e existência
egoísta. Sabia que depois eles ficariam desiludidos pelo vazio da ilusão que os
havia fascinado e que, no fim, eventualmente achariam nas profundezas do
próprio coração o caminho do retorno à casa do Pai (cf. Reconciliatio et
paenitentia, 5). Encorajou as pessoas a confessarem os próprios pecados e a
receberem o perdão de Deus no Sacramento da Reconciliação. Pediu-lhes que
perdoassem uns aos outros como Deus nos perdoa e transmitissem o dom da
reconciliação, tornando isto uma realidade em todos os níveis da vida
nigeriana. O Padre Tansi esforçou-se por imitar o pai da parábola: estava
sempre disponível para aqueles que procuravam a reconciliação. Difundia a
alegria da comunhão restabelecida com Deus. Exortava as pessoas a acolherem a
paz de Cristo, e encorajava-as a alimentar a vida da graça com a Palavra de
Deus e com a sagrada Comunhão.(…)
O Beato Cipriano Miguel Tansi é um primeiro exemplo
dos frutos de santidade que cresceram e amadureceram na Igreja na Nigéria,
visto que antes o Evangelho foi anunciado nesta terra. Ele recebeu o dom da fé
graças aos esforços dos missionários e, fazendo seu o estilo de vida cristã,
tornou-o realmente africano e nigeriano. De igual modo, também os nigerianos de
hoje — tanto os jovens como os adultos — são chamados a colher os frutos
espirituais que foram plantados no meio deles e estão agora prontos para a
colheita. A respeito disso, desejo agradecer e encorajar a Igreja na Nigéria no
que se refere à sua obra missionária na Nigéria, em África e noutros lugares. O
testemunho que o Padre Tansi deu do Evangelho e da caridade cristã é um dom espiritual
que esta Igreja local oferece agora à Igreja universal. (…)
A memória litúrgica do Padre Cipriano Miguel Tansi
faz-se no dia 20 de Janeiro.