SÃO FAUSTINO DA ENCARNAÇÃO
Manuel Míguez González nasceu em Xamirás, uma aldeia
de Acebedo del Rio, Celanova, na província de Orense, Espanha, no dia 24 de
Março de 1831. Foi o quarto filho do casal Benito Miguez e Maria Gonzalez,
agricultores pobres e cristãos. A sua família era profundamente religiosa e
trabalhadora, propiciando-lhe um bom ambiente de fé. No seio da família, Manuel
aprendeu a rezar e a amar a Virgem Maria; a solidariedade com os necessitados e
a responsabilidade no trabalho. Foi baptizado com o nome de Manuel mas, ao ser
ordenado sacerdote, assumiu o nome de Faustino da Encarnação. A sua vida
transcorreu como a de todos os da sua idade, dividida entre os estudos, o
trabalho rural, o encontro com os amigos, a família e as orações. Na escola de
S. José de Calasanz seguiu Cristo, dedicando-se à educação. Como Padre das
Escolas Pias, aplicou-se, todos os dias, ao serviço da infância e da juventude.
Estudou latim e ciências humanas no Santuário de Nossa
Senhora dos Milagres, em Orense, no qual se sentiu chamado por Deus para se
tornar sacerdote e professor, segundo o espírito de São José Calazans. No ano
de 1850, entrou no Noviciado das Escolas Pias de São Fernando, em Madrid, onde
tomou o hábito, professou os seus votos perpétuos e se ordenou sacerdote, em
1856.
Durante alguns anos, o Padre Míguez desenvolveu o seu
apostolado em Cuba, no Colégio de Guanabacoa, onde começou a entusiasmar-se pelos
estudos de Botânica e a dedicar-se a uma actividade que, com o tempo, viria a
ser uma das suas ocupações predilectas: a produção e distribuição de ervas
medicinais, que curavam múltiplas doenças e com as quais recuperou importantes
personalidades da sua época.
Sempre atento às necessidades das pessoas, tomou contacto
com a realidade vital do povo; participou nos seus problemas, sofrimentos e
enfermidades; e respondeu-lhes na medida das suas forças. Dada a sua vocação
científica, procurou, também com este seu talento, socorrer a humanidade
abatida por tantos sofrimentos físicos e, a exemplo do Mestre divino,
preocupou-se com a saúde tanto da alma como do corpo.
Tendo retornado a Espanha, como padre escolápio (escolápios são religiosos e leigos seguidores dos
ensinamentos de São José Calasanz que fundou a Congregação das Escolas Pias), leccionou em muitas escolas, das mais variadas
dioceses do país. Nos cinquenta anos de magistério, quis sempre ocupar o lugar simples
e comum de professor, sem cargos de destaque, para se dedicar directamente à
formação e à instrução das crianças e dos jovens. Nalgumas ocasiões, chegou a
ser o director dos alunos internos, para os quais foi amigo, pai, companheiro e
conselheiro. Escreveu vários livros, de fácil compreensão, sobre ciências
naturais e botânica. Como sacerdote, escolheu o ministério do confessionário, tornando-se
director espiritual de muitos paroquianos.
Ao mesmo tempo, para ajudar os doentes, dedicou-se à
preparação de produtos fitoterapêuticos, com os quais obteve curas
surpreendentes. Enfrentou muitos opositores. Muitos o procuravam porque já
haviam sido curados pelas propriedades das ervas que ele indicara. Após as polémicas
e oposições, doze medicamentos foram aprovados pela Directoria-Geral da
Sanidade Pública e vendidos nas farmácias.
Transferido para a diocese de Getafe, o Padre Faustino
fundou, para o bem da humanidade, o Instituto Míguez, com a aprovação do
Vaticano, passando a cultivar e a produzir os medicamentos aprovados. Em
Sanlúcar de Barrameda, na Galiza, constatou a ignorância e o abandono em que
viviam as mulheres e a marginalização que existia no campo educativo. Convicto
da importância da mulher na família e na sociedade - e animado do mesmo
espírito que tinha impelido S. José de Calasanz – fundou, em 1875, o Instituto
Calasanziano das Filhas da Divina Pastora, dedicado à promoção humana e cristã
das raparigas, especialmente das mais pobres, a fim de que, guiadas desde a
mais tenra idade, chegassem a ser, dizia, boas cristãs, boas filhas, boas
esposas, boas mães e membros úteis para a sociedade, da qual devem formar a
parte mais interessante.
O Padre Faustino da Encarnação morreu em Getafe, aos
94 anos de idade, no dia 8 de Março de 1925. A sua longa vida consagrada
totalmente ao Senhor, a quem amou sobre todas as coisas, foi um contínuo acto
de fé e de aceitação da Sua vontade, em todos os momentos. Deixou-se moldar por
Deus e só procurou a Sua glória. Amou o Instituto das Escolas Pias e procurou
viver, com radicalidade e autenticidade, a sua vida religiosa. Este desejo está
expresso num dos grandes motes da sua vida: «Ser como se deve ser, ou então não
ser». Orientou o seu caminho para a contemplação do mistério da Encarnação,
identificando-se com Aquele que, sendo Filho de Deus, assumiu a condição de
servo, e seguiu o Seu exemplo de despojamento e humildade. Pelo caminho da
verdade e da cruz chegou a ser um digno discípulo do Mestre divino.
O Padre Faustino Miguez, foi beatificado, pelo Papa João
Paulo II, no dia 25 de Outubro de 1998. Na homilia, o Papa disse: “…«Quem se
humilha será exaltado» (Lc 18, 14). Ao elevar à glória dos altares o sacerdote
escolápio Faustino Míguez, cumprem-se estas palavras de Jesus que escutámos no
Evangelho. O novo Beato, renunciando às próprias ambições, seguiu Jesus Mestre
e consagrou a sua vida à educação das crianças e dos jovens, conforme o estilo
de São José de Calasanz. Como educador, a sua meta foi a formação integral da
pessoa. Como sacerdote, buscou sem cessar a santidade das almas. Como
cientista, quis aliviar a enfermidade libertando a humanidade que sofre no
corpo. Na escola e na rua, no confessionário e no laboratório, o Padre Faustino
Míguez foi sempre transparência de Cristo, que acolhe, perdoa e anima.
«Homem do povo e para o povo», nada nem ninguém lhe
esteve alheio. Constatou a situação de ignorância e marginalização em que vivia
a mulher, a quem considerava a «alma da família e a parte mais interessante da
sociedade». Com a finalidade de a guiar desde a infância pelo caminho da
promoção humana e cristã, fundou o Instituto Calasanziano das Filhas da Divina
Pastora, dirigido para a educação das meninas na piedade e nas letras.
O seu exemplo luminoso, entretecido de oração, estudo
e apostolado, prolonga-se hoje no testemunho das suas filhas e de tantos
educadores que trabalham com denodo e alegria, para gravar a imagem de Jesus na
inteligência e no coração da juventude…”
O Padre Faustino foi canonizado pelo Papa Francisco,
no dia 15 de Outubro de 2017, em Roma.
A memória litúrgica de São Faustino Míguez é celebrada
no dia 8 de Março.