BEATO PAULO THOJ XYOOJ
Thoj Xyooj (também transcrito Thao Shiong) nasceu por
volta de 1941, na aldeia de Kiukatiam, na província de Luang Prabang, no
noroeste do Laos. O seu pai, que era o chefe da aldeia, faleceu antes de Thoj
ter feito nove anos de idade.
Quando, em 1950, chegou à aldeia o padre Yves Bertrais
- dos Missionários Oblatos de Maria Imaculada - foi a sua mãe a primeira a
acolhê-lo. Desde então, Thoj aderiu plenamente à sua pregação, tornando-se um
catecúmeno convicto, desperto e inteligente.
Aos dezasseis anos, revelou ao Padre Bertrais o seu
desejo de ser padre. Considerando-o idóneo e cheio de qualidades, o missionário
enviou-o para o Seminário Menor de Paksan, onde a Missão dos Oblatos tinha aberto
um centro de formação para catequistas Ali, o jovem poderia testar, antes de
mais, a sua própria fé e, depois, discernir a sua vocação. A sua mãe opôs
alguma resistência à sua decisão mas, um de seus irmãos mais velhos, que moravam
com ele, foi mais favorável.
Uma vez que o jovem era apenas catecúmeno, foi
antecipada a data do seu baptismo. Thoj foi baptizado no dia, 8 de Dezembro de
1957, um Domingo e celebração da Solenidade da Imaculada Conceição. No
baptismo, Thoj recebeu o nome de Paulo: Paulo Thoj Xyooj. Três dias depois, Paulo
partiu, juntamente, com quatro raparigas, que iam frequentar a escola da
Missão, e dois outros rapazes que iam para o Seminário.
Na escola, Paulo mostrou-se sempre animado e
simpático. No entanto, por causa de uma ferida, muito dolorosa, numa perna,
causada por um acidente na infância, tinha de se contentar com assistir os seus
companheiros na prática dos desportos.
Ao fim de um ano, voltou a Kiukatiam, para continuar a
sua preparação como catequista, sob a vigilância directa dos missionários.
Começou, também a ensinar as línguas lao e hmong (esta última falada pela
população da região) na escola da aldeia e, pouco a pouco, especializou-se no catecismo.
Testemunhas daquele tempo descrevem-no como dotado de grande gentileza, sempre
sorridente, disponível e pronto para servir aqueles que se encontravam em
dificuldade.
Em 1958, a missão de Luang Prabang foi confiada aos
Oblatos Italianos, liderados pelo Padre Leonello Berti, que se concentravam na
província de Luang NamTha, entre a Birmânia e a China. A população hmong da
aldeia de Na Vang ouviu falar do seu trabalho e quis conhecer - como os
habitantes de outras aldeias - aqueles "Jesus" que cuidavam dos
doentes. Era assim que chamavam aos missionários.
Os dois Padres enviados para o local - Alessandro
Staccioli e Luigi Sion – só conheciam a língua lao, que os Hmong não compreendiam.
Então, pediram que lhes fosse enviado um catequista que falasse a sua língua. O
Padre Mário Borzaga, agora responsável pela missão, aconselhado pelo Padre Berti,
decidiu enviar Paulo. Numa Terça-Feira, 21 de Abril de 1959, o jovem catequista
partiu para uma nova aventura, cheio de entusiasmo e de coragem.
Depois de uma longa caminhada, chegou a Na Vang, na
Sexta-Feira, 1 de Maio de 1959. Paulo usava a veste típica dos Hmong, com um
chapéu preto encimado por um pompom e três colares de prata. Os habitantes da
aldeia, ao vê-lo, confundiram-no com um rei, mas ele respondeu: "Não sou
um rei Hmong. Sou, apenas, um rapaz jovem que veio com o Padre. Não sou um chefe.
Vim, apenas, para realizar uma missão: anunciar e ensinar a Boa Nova de Deus
".
Ao pedido de explicações, Paulo respondeu que Jesus
era o vencedor de todos os demónios, despertando, na multidão, um grande
espanto: de facto, todos tinham muito medo daqueles seres que, de acordo com
suas crenças, escondiam-se em toda a parte.
Sem perder tempo, o jovem começou a sua missão, logo no
dia seguinte, ao mesmo tempo que o povo se aproximava dos visitantes e os
convidava, de acordo com o seu costume, para irem almoçar com eles. Nos
primeiros dias, o ensino do catecismo fazia-se ao ar livre; depois, na casa do
chefe da aldeia. A maneira de falar de Paulo era clara e simples: por exemplo,
para explicar que uma oração é composta de muitas palavras, ele pegou numa cana
e dobrou-a como um acordeão. Além disso, dotado de uma bela voz, também os ensinava
a cantar.
Já a partir do terceiro dia de pregação, metade das
famílias da aldeia pediu para poder começar o catecumenado. No mesmo dia, durante
a tarde, Paulo acompanhou o padre Sion a esconjurar os espíritos malignos das
casas dos catecúmenos: destruiu com as suas próprias mãos e fez queimar os
ídolos das divindades domésticas, sem qualquer temor.
A sua fama espalhou-se nas aldeias vizinhas: para poderem
ouvi-lo, havia pessoas capazes de suportar horas e, até, dias inteiros de
caminhada. O catequista, certamente, não podia fazer tudo sozinho, mas
revestiu-se de paciência e de boa vontade. Enquanto cumpria esta missão, Paulo
pensou no casamento e encontrou, na aldeia, uma rapariga que lhe queria muito
bem.
Todavia, depois de pouco mais de sete meses, Paulo
teve que sair de Na Vang. As razões não são muito claras. Os documentos não
explicam, suficientemente, por que motivo os missionários tomaram essa decisão.
Segundo uma hipótese provável, a sua saída estaria relacionada com o
agravamento da sua ferida, na perna.
A partida de Paulo foi um teste para os seus
catecúmenos, que tinham de continuar a aprender e a aprofundar a mensagem de
Jesus. Foi, também, um teste para ele, que devia, no meio dos seus êxitos,
conduzir-se pela humildade, recusando qualquer vaidade ou orgulho.
Em Dezembro de 1959, Paulo foi enviado para uma nova
escola para catequistas, em Luang Prabang. Porém, logo voltou para casa,
sofrendo de uma crise terrível. Nos meses seguintes, acompanhou de perto o
Padre Mário Borzaga, (agora, também, beatificado) que o mencionou, várias vezes,
no seu "Diário de um homem feliz".
Numa Segunda-Feira, dia 25 de Abril de 1960, Paulo
Thoj Xyooj foi, com o Padre Borzaga, visitar outras aldeias, no norte do Laos.
Não houve mais notícias deles, até que se descobriu que tinham sido mortos por
alguns guerrilheiros do Pathet Lao, contrários à presença de missionários
estrangeiros. O padre Mário tinha vinte e sete anos e Paulo dezanove anos. Uma
testemunha relatou as suas últimas palavras, dirigidas aos guerrilheiros:
"Não me vou embora; fico com ele (o P. Mário). Se o matarem, matem-me,
também a mim. Onde ele for morto, eu serei morto; onde ele for viver, eu viverei,
também". Os seus corpos foram atirados para uma vala comum e nunca mais foram
encontrados. Provavelmente, o Padre Mário e o catequista Paulo Thoj Xyooj foram
mortos na região de Muong Met, no caminho para Muong Kassy.
No dia 5 de Maio de 2015, a Congregação para as Causas
dos Santos reconheceu que o Padre Mário Borzaga e Paulo Thoj Xyooj foram
assassinados por ódio à fé católica. Nesse mesmo dia, o Papa Francisco recebeu,
em audiência, o cardeal Ângelo Amato, Prefeito da Congregação para as Causas
dos Santos, e autorizou a promulgação do decreto que declarava que o Padre Borzaga
e o seu catequista, Paulo Thoj Xyooj, eram mártires da fé católica.
Paulo Thoj Xyooj – juntamente com o Padre Mário
Borzaga e outros 14 mártires do Laos – foi beatificado no dia 11 de Dezembro de
2016, em Vientiane, Laos. Presidiu à cerimónia de beatificação, em nome do Papa
Francisco, o Cardeal Orlando Quevedo, dos Missionários Oblatos de Maria
Imaculada, arcebispo de Cotabato, nas Filipinas. Estiveram presentes, também, o
vietnamita Cardeal Pierre Nguyen Van Nhon, o tailandês Cardeal Francis Xavier
Kriengsak Kovithavanij, o Núncio Apostólico em Bangkok, além de bispos, padres,
religiosos e fiéis provenientes de Laos, Camboja, Vietname e outros países
vizinhos.
A propósito deste acontecimento, o Papa Francisco, na
oração do Angelus do dia 11 de Dezembro de 2016, na Praça de São Pedro, Roma,
disse aos peregrinos: “Hoje, em Vientiane, no Laos, são proclamados Beatos Mário
Borzaga, sacerdote dos Missionários Oblatos de Maria Imaculada, Paulo Thoj
Xyooj, fiel leigo catequista e catorze companheiros, assassinados por ódio à
fé. A sua heróica fidelidade a Cristo possa servir de encorajamento e de
exemplo aos missionários e sobretudo aos catequistas que, nas terras de missão,
desempenham uma preciosa e insubstituível obra apostólica, pela qual toda a
Igreja lhes está grata. E pensemos nos nossos catequistas: fazem tanto
trabalho, um trabalho tão bom!... Ser catequista é uma coisa muito boa:
significa levar a mensagem do Senhor para que cresça em nós. Um aplauso aos
catequistas, todos!...”
A memória litúrgica do Beato Paulo Thoj Xyooj
celebra-se no dia 25 de Abril, dia do seu martírio.