BEATA MARIA GUADALUPE ORTIZ HEREDIA
Guadalupe nasceu em Madrid, Espanha, no dia 12 de
Dezembro de 1916. Era filha de Manuel Ortiz de Landázuri García, militar do
Corpo de Infantaria, e de Eulogia Fernández de Heredia y Gastañaga. Durante a
sua infância viveu em diversos lugares, de acordo com as missões atribuídas ao
seu pai: Madrid, Larache, Segóvia e Tetuán. Começou a estudar, para fazer o
bacharelato, no Colégio de Nossa Senhora do Pilar, que os Irmãos Maristas
tinham em Tetuán. Quando o seu pai foi promovido a Tenente-coronel e
transferido para Madrid, Guadalupe continuou os seus estudos, agora no
Instituto Miguel Cervantes, onde terminou os estudos em Junho de 1933. Neste
ano, começou os estudos para a licenciatura em Ciências Químicas, na Universidade
Central de Madrid.
Com o começo da Guerra Civil de Espanha, interrompeu
os estudos universitários. Em 1936, na madrugada do dia 8 de Setembro, na
Prisão Modelo de Madrid, o seu pai foi fuzilado. Guadalupe, que tinha, então, 20
anos, acompanhou-o durante a sua última noite “apoiando, com a sua serenidade a
meu pai e também a mim”, como contou o seu irmão mais velho, Eduardo, médico,
cujo processo de canonização também já foi iniciado. Em 1937, Guadalupe
muda-se, com a sua mãe, para Valladolid, onde permaneceu até ao fim da guerra.
Em 1940, Guadalupe terminou a sua licenciatura em
Química com um dos melhores currículos da turma. Querendo dedicar-se à docência
universitária, começou o doutoramento.
Em Janeiro de 1944, por meio de uma pessoa conhecida,
a quem confiou que desejava falar com um sacerdote, agendou uma conversa com o
Padre Josemaria Escrivá e, atraída pela sua profunda alegria, abriu-se em
confidência e lhe perguntou: “Que devo fazer com a minha vida?” Como ela mesma
contaria mais tarde, a conversa foi decisiva: “Tive a sensação clara de que
Deus me falava através daquele sacerdote”.
Em 19 de Março de 1944, com 27 anos, escreveu uma
carta, ao Padre Josemaria, pedindo a sua admissão no ‘Opus Dei’, como
numerária. Nessa época, havia ainda muito poucas mulheres no Opus Dei e o
trabalho que havia para fazer era abundante. Guadalupe dedicou todos os seus
esforços ao que era necessário, em cada momento: a administração doméstica dos
primeiros Centros; o início do trabalho noutras cidades espanholas como Bilbao
e Saragoça; a direcção da primeira residência universitária – Zurbarán – em
Madrid. O seu carácter optimista e comunicativo contribuiu para um ambiente
cordial no qual as estudantes se sentiam queridas e estimuladas a viver com
responsabilidade sua vida cristã.
Para iniciar as actividades apostólicas com mulheres,
no México, o Fundador do Opus Dei pensou – entre outras – em Guadalupe. Ela respondeu
afirmativamente e escreveu-lhe: “Hoje, pedi muito à Virgem Maria para que, no
México, se possa fazer muito. Sei que no começo será difícil: tenho a certeza,
mas não me preocupo”. Lembrando esse começo, disse: “Em 5 de Março de 1950,
saímos de Madrid. Eu era a mais velha, ainda que fosse muito jovem. Levávamos
somente a bênção do Padre, amor ao Senhor e bom humor”.
Ao chegar ao México, Guadalupe matriculou-se nalgumas
matérias importantes para o doutoramento em Química, que ainda não tinha
terminado. Logo em seguida, começaram, com a ajuda de pessoas conhecidas, os
trâmites necessários para a instalação da residência universitária.
Guadalupe, diante do imenso trabalho que tinha nas
suas mãos, do cuidado das pessoas e das preocupações económicas que também não
faltavam, escreveu ao Padre Escrivá: “…tudo isto - conhecendo-me como me
conhece - não é verdade que é demais para mim? Porém, não desanimo nem me
assusto, peço-lhe, somente, oração para que nunca, em nada, por pequeno ou
grande que seja, deixe de fazer o que Deus quer”.
Durante uma viagem a Roma, em Outubro de 1956, teve de
fazer uma cirurgia, devido aos primeiros sintomas de uma doença cardíaca.
Apesar de ter recuperado bem da cirurgia, o seu coração não se tinha
restabelecido por completo, e Guadalupe sofria de contínuas recaídas. A sua
doença, contudo, passava normalmente despercebida para a maioria daqueles que
com ela conviviam. Como em tudo na sua vida, via na doença um novo modo de se
aproximar de Cristo.
Não voltou mais ao México. Muitas das pessoas, que a
conheceram neste país, escreveriam, mais tarde, as suas memórias dela. Numa
dessas memórias, pode ler-se: “… a sua forma de rezar chamou a minha atenção;
colocava-se em Deus e ficava muito recolhida e sempre a víamos alegre, contente
e risonha. Fui descobrindo, com ela, o que era uma entrega a Deus. Chamava a
atenção o modo como vivia o que dizia; tinha encarnado o espírito da Obra”. E,
referindo-se ao seu carácter forte, escreveram: “…quando tinha de corrigir, fazia-o
com fortaleza; mas com tanta delicadeza e carinho que não se entendia a repreensão
como tal, ao contrário, agradeciam-na”.
Depois de passar uns tempos, em Roma, colaborando com
o Padre Josemaria Escrivá no trabalho de governo do Opus Dei, Guadalupe voltou
a Espanha. Entre 1960 e 1974, deu aulas no Instituto Ramiro de Maeztu e na
Escuela de Maestría Industrial da qual foi catedrática e vice-directora. Em Junho
de 1965, defendeu a sua tese de doutoramento, obtendo a máxima pontuação.
Guadalupe preocupava-se em proporcionar aos seus alunos uma boa formação
humana, além do exigido ensino de Química ou Física. Uma das suas alunas
escreveu: “…Foi para mim uma professora especial, da qual nunca poderei esquecer-me.
Tinha uma grande personalidade e era uma mulher belíssima, embora se vestisse
sobriamente, sem adornos supérfluos. Era muito simples; tratava-nos muito bem,
com compreensão e afecto. Por isso, criou-se ao seu redor um agradável
ambiente. Lembro-me de como - afastando-se do quadro negro, cheio de fórmulas
químicas - nos falava do que se podia fazer com as combinações de diferentes
elementos químicos e nos mostrava que tudo era uma manifestação impressionante
da diversidade da criação, e concluía: ‘Vede como Deus faz as coisas!’”.
A partir de 1968, participou também na promoção do
Centro de Estudos e Pesquisas em Ciências Domésticas, como professora de
Materiais Têxteis.
No dia 1 de Julho de 1975, devido a uma grave lesão
cardíaca, teve que fazer uma cirurgia, na Clínica Universitária de Navarra. Em
consequência de complicações posteriores, faleceu no dia 16 de Julho, em
Pamplona. O seu irmão, Eduardo, explica: “…Ela sabia dos riscos de tal cirurgia
e, sem a menor hesitação, aceitou-a, pensando que assim poderia ser mais útil à
Obra ou, «se eu não resistir e Deus quiser que eu morra» – dizia –, «ir para o
Céu é ainda melhor»".
“…Sobressaem em Guadalupe a alegria contagiosa, a
fortaleza para enfrentar as adversidades, o otimismo cristão em circunstâncias
difíceis e a sua entrega aos outros. A sua fé teologal transparecia sobretudo
no amor à Santíssima Eucaristia e na aceitação alegre da vontade de Deus. Cultivava
a esperança, acrisolada com o passar dos anos. Viveu de modo heroico a caridade
para com Deus e com o próximo. Realizava as suas práticas de piedade com grande
devoção e frequentemente rezava diante do Sacrário. Estimulada pela graça
divina, alcançou uma harmoniosa unidade de vida e oferecia a Deus as diversas
tarefas da sua vida diária. Dirigia-se à Santíssima Virgem Maria com grande
carinho, principalmente sob a invocação de Nossa Senhora de Guadalupe.
Mostrava-se solícita com as necessidades dos demais.
Comportava-se com idêntica delicadeza e amabilidade com as jovens
universitárias, com as camponesas, com as alunas das escolas em que ensinou e
com as suas amigas.
Sempre se manteve pronta para ser útil aos outros e
para obedecer. Estava dotada de muitas qualidades humanas e profissionais, mas
nunca se vangloriava disso; pelo contrário, estava disposta a servir a todos e
escolhia para si os trabalhos mais humildes. Viveu com grande sobriedade e
aceitou com alegria as privações que com frequência teve de passar quando
começava a atividade apostólica em alguma cidade. Cumpria com tenacidade e
perfeição os encargos que lhe eram confiados e empregava os seus momentos
livres em ocupações proveitosas, mostrando-se afável e disposta para servir aos
outros. Quando adoeceu, esforçou-se perseverantemente em continuar a realizar
as suas obrigações…” (no Decreto sobres as
virtudes de Maria Guadalupe Ortiz de Landázuri y Fernández de Heredia, da Congregação das Causas dos Santos, de 4 de
Maio de 2017)
Ainda não está marcada a data da proclamação pública
da santidade da Serva de Deus, Maria Guadalupe. Contudo, a sua memória
litúrgica celebrar-se-á no dia 16 de Julho.