BEATO ROSÁRIO ÂNGELO LIVATINO
O
dia 21 de Setembro de 1990, memória de São Mateus, Apóstolo, foi um dia quente,
mas não abafado, típico do ameno outono siciliano. Eram oito horas e o juiz
Rosário Livatino estava ocupado a reorganizar os autos do julgamento. Gestos
preparatórios, como todas as manhãs.
Faltam apenas duas semanas para completar trinta e oito anos.
Às 8h30, ele viajava, como fazia todos os dias, pela estrada estadual 640, para ir trabalhar no Tribunal de Agrigento. Na via rápida Agrigento-Caltanissetta foi abordado por um comando terrorista da ‘Cosa Nostra’: emboscaram-no na estrada que normalmente percorria, sempre sem escolta, para ir ao escritório; perseguem-no pela encosta, por onde tentava fugir, e barbaramente o assassinaram com seis tiros, disparados à queima-roupa.
Graças ao depoimento de testemunhas oculares, em muito pouco tempo, os instigadores e os autores deste crime foram identificados, presos e condenados à prisão perpétua.
Uma onda de emoção varreu toda a Itália, naqueles dias, ao conhecer a sua história nas páginas dos jornais. A Itália descobriu, no sacrifício do “menino juiz”, o heroísmo de um jovem servidor do Estado que viveu toda a sua vida à luz do Evangelho.
Rosário nasceu em Canicattì, Agrigento, no dia 3 de Outubro de 1952, filho único de Vincenzo e Rosália. O seu pai era advogado, filho de advogados. O pequeno Rosário era uma criança meiga, silenciosa, muito terna, com grandes olhos escuros e aveludados. Os seus brinquedos favoritos eram os carrinhos e os soldados de chumbo que colecionava. Tinha uma paixão precoce pela leitura que preenche os seus dias, desde muito cedo. Teve uma infância tranquila, vivida na simplicidade e no decoro de uma família burguesa, recatada e tímida, que o acompanhava com atenção e carinho.
Durante os anos do ensino médio, o jovem Livatino era um rapaz que raramente descia para o recreio, para ficar na aula e ajudar alguns colegas em dificuldade. Aberto às necessidades dos outros, mas reservado consigo mesmo, estudava intensamente e, também, se envolveu na Acção Católica.
(…) Para este jovem estudante do ensino médio, fascinado por Deus, chegou o dia mais difícil da sua vida: escolher o caminho a seguir para a sua realização profissional. O que fazer da sua vida, no futuro? Depois de algum tempo de discernimento, ele não teve dúvidas: seria juiz.
Em 1978, com vinte e seis anos, ele realizou o seu sonho. No seu diário, nesse dia, escreveu com caneta vermelha, bem visível: «Fiz o juramento; a partir de hoje estou no Judiciário”. E depois, a lápis, acrescentou: «Que Deus me acompanhe e me ajude a respeitar o juramento e a comportar-me da forma que exige a educação que os meus pais me deram».
Na verdade, Livatino sentia, muito fortemente, o problema da justiça e assumiu-o como uma verdadeira missão. O drama de julgar outro ser humano, de ter de decidir o seu destino, não é pouca coisa para aqueles que sentem, no fundo de si, o espinho da consciência, combinado com um sentimento sincero de caridade.
São valores que ressoam na «Christifideles Laici» (1988), sobre a vocação e missão dos leigos na Igreja e no mundo, onde, também, podemos ler que «a caridade que ama e serve a pessoa nunca pode separar-se da justiça» (§ 42).
Mas, como era exercida a lei, na Sicília? Ali, o Estado sempre foi percebido – e sempre será – como “estrangeiro”. A verdade, dizem, tem sete cabeças. Como agarrá-la? E como fazê-la triunfar na ilha das mil faces, a ilha “plural”, segundo a bela e adequada definição de Gesualdo Bufalino?
É com esta difícil realidade que o jovem magistrado, recém-formado e com entusiasmo, teria de lidar, muito em breve.
No dia 29 de Setembro de 1979, o Dr. Livatino entrou para o Ministério Público de Agrigento, como Procurador Público. Após o estágio inicial, teve as suas primeiras investigações importantes. Ele era habilidoso, inteligente e profissional; começou a tornar-se uma referência para os colegas do Ministério Público.
De Canicattì chegava, todas as manhãs, à sede do Tribunal em Agrigento, alguns quilómetros percorridos, no seu pequeno carro. Antes de entrar no escritório, fazia uma visita à igreja de São José, perto do Palácio da Justiça, onde rezava para que o Senhor o iluminasse no trabalho incansável do Tribunal. E ficava até tarde da noite.
Na sala de audiências, tinha um crucifixo, como sinal de caridade e justiça. Tinha, também, sobre a sua mesa um pequeno crucifixo e um exemplar do Evangelho, todo anotado: sinal de que o devia ter lido e reflectido com bastante frequência, pelo menos tanto quanto os códices, ferramentas quotidianas do seu trabalho.
(...)O seu sincero sentido do dever, colocado ao serviço da justiça, fez dele uma espécie de missionário: o “missionário” do direito.
Devido ao seu profundo conhecimento do fenómeno mafioso, à sua capacidade de recriar tramas e de estabelecer conexões importantes, dentro da complexa máquina investigadora, era encarregado de investigações muito delicadas. E ele, incansável e determinado, assinou sentença e sentenças. Por isso, entrou na mira da ‘Cosa Nostra’. (também conhecida como Máfia, é uma sociedade criminosa secreta que se desenvolveu na primeira metade do século XIX, na Sicília, Itália).
Ele pediu que lhe fosse confiada a difícil investigação sobre a máfia porque era o único, entre os subprocuradores de Agrigento que não tinha família: com total confiança entregou-se nas mãos de Deus ("Sub Tutela Dei", nota no seu diário).
Mas, Rosário não era um herói: simplesmente cumpria o seu dever. E fê-lo combinando as razões da justiça com as de uma fé cristã inabalável e profunda.
Em 21 de dezembro de 2020, o Papa Francisco autorizou a promulgação do decreto sobre o seu martírio.
Rosário Livatino foi beatificado no dia 9 de Maio de 2021, na catedral de Agrigento, na missa presidida pelo Cardeal Semeraro, como delegado do Santo Padre Francisco.
Os restos mortais do jovem juiz repousam no cemitério de Canicattì, no túmulo da família.
A sua memória litúrgica é celebrada no dia 29 de Outubro, aniversário da sua Confirmação.
Faltam apenas duas semanas para completar trinta e oito anos.
Às 8h30, ele viajava, como fazia todos os dias, pela estrada estadual 640, para ir trabalhar no Tribunal de Agrigento. Na via rápida Agrigento-Caltanissetta foi abordado por um comando terrorista da ‘Cosa Nostra’: emboscaram-no na estrada que normalmente percorria, sempre sem escolta, para ir ao escritório; perseguem-no pela encosta, por onde tentava fugir, e barbaramente o assassinaram com seis tiros, disparados à queima-roupa.
Graças ao depoimento de testemunhas oculares, em muito pouco tempo, os instigadores e os autores deste crime foram identificados, presos e condenados à prisão perpétua.
Uma onda de emoção varreu toda a Itália, naqueles dias, ao conhecer a sua história nas páginas dos jornais. A Itália descobriu, no sacrifício do “menino juiz”, o heroísmo de um jovem servidor do Estado que viveu toda a sua vida à luz do Evangelho.
Rosário nasceu em Canicattì, Agrigento, no dia 3 de Outubro de 1952, filho único de Vincenzo e Rosália. O seu pai era advogado, filho de advogados. O pequeno Rosário era uma criança meiga, silenciosa, muito terna, com grandes olhos escuros e aveludados. Os seus brinquedos favoritos eram os carrinhos e os soldados de chumbo que colecionava. Tinha uma paixão precoce pela leitura que preenche os seus dias, desde muito cedo. Teve uma infância tranquila, vivida na simplicidade e no decoro de uma família burguesa, recatada e tímida, que o acompanhava com atenção e carinho.
Durante os anos do ensino médio, o jovem Livatino era um rapaz que raramente descia para o recreio, para ficar na aula e ajudar alguns colegas em dificuldade. Aberto às necessidades dos outros, mas reservado consigo mesmo, estudava intensamente e, também, se envolveu na Acção Católica.
(…) Para este jovem estudante do ensino médio, fascinado por Deus, chegou o dia mais difícil da sua vida: escolher o caminho a seguir para a sua realização profissional. O que fazer da sua vida, no futuro? Depois de algum tempo de discernimento, ele não teve dúvidas: seria juiz.
Em 1978, com vinte e seis anos, ele realizou o seu sonho. No seu diário, nesse dia, escreveu com caneta vermelha, bem visível: «Fiz o juramento; a partir de hoje estou no Judiciário”. E depois, a lápis, acrescentou: «Que Deus me acompanhe e me ajude a respeitar o juramento e a comportar-me da forma que exige a educação que os meus pais me deram».
Na verdade, Livatino sentia, muito fortemente, o problema da justiça e assumiu-o como uma verdadeira missão. O drama de julgar outro ser humano, de ter de decidir o seu destino, não é pouca coisa para aqueles que sentem, no fundo de si, o espinho da consciência, combinado com um sentimento sincero de caridade.
São valores que ressoam na «Christifideles Laici» (1988), sobre a vocação e missão dos leigos na Igreja e no mundo, onde, também, podemos ler que «a caridade que ama e serve a pessoa nunca pode separar-se da justiça» (§ 42).
Mas, como era exercida a lei, na Sicília? Ali, o Estado sempre foi percebido – e sempre será – como “estrangeiro”. A verdade, dizem, tem sete cabeças. Como agarrá-la? E como fazê-la triunfar na ilha das mil faces, a ilha “plural”, segundo a bela e adequada definição de Gesualdo Bufalino?
É com esta difícil realidade que o jovem magistrado, recém-formado e com entusiasmo, teria de lidar, muito em breve.
No dia 29 de Setembro de 1979, o Dr. Livatino entrou para o Ministério Público de Agrigento, como Procurador Público. Após o estágio inicial, teve as suas primeiras investigações importantes. Ele era habilidoso, inteligente e profissional; começou a tornar-se uma referência para os colegas do Ministério Público.
De Canicattì chegava, todas as manhãs, à sede do Tribunal em Agrigento, alguns quilómetros percorridos, no seu pequeno carro. Antes de entrar no escritório, fazia uma visita à igreja de São José, perto do Palácio da Justiça, onde rezava para que o Senhor o iluminasse no trabalho incansável do Tribunal. E ficava até tarde da noite.
Na sala de audiências, tinha um crucifixo, como sinal de caridade e justiça. Tinha, também, sobre a sua mesa um pequeno crucifixo e um exemplar do Evangelho, todo anotado: sinal de que o devia ter lido e reflectido com bastante frequência, pelo menos tanto quanto os códices, ferramentas quotidianas do seu trabalho.
(...)O seu sincero sentido do dever, colocado ao serviço da justiça, fez dele uma espécie de missionário: o “missionário” do direito.
Devido ao seu profundo conhecimento do fenómeno mafioso, à sua capacidade de recriar tramas e de estabelecer conexões importantes, dentro da complexa máquina investigadora, era encarregado de investigações muito delicadas. E ele, incansável e determinado, assinou sentença e sentenças. Por isso, entrou na mira da ‘Cosa Nostra’. (também conhecida como Máfia, é uma sociedade criminosa secreta que se desenvolveu na primeira metade do século XIX, na Sicília, Itália).
Ele pediu que lhe fosse confiada a difícil investigação sobre a máfia porque era o único, entre os subprocuradores de Agrigento que não tinha família: com total confiança entregou-se nas mãos de Deus ("Sub Tutela Dei", nota no seu diário).
Mas, Rosário não era um herói: simplesmente cumpria o seu dever. E fê-lo combinando as razões da justiça com as de uma fé cristã inabalável e profunda.
Em 21 de dezembro de 2020, o Papa Francisco autorizou a promulgação do decreto sobre o seu martírio.
Rosário Livatino foi beatificado no dia 9 de Maio de 2021, na catedral de Agrigento, na missa presidida pelo Cardeal Semeraro, como delegado do Santo Padre Francisco.
Os restos mortais do jovem juiz repousam no cemitério de Canicattì, no túmulo da família.
A sua memória litúrgica é celebrada no dia 29 de Outubro, aniversário da sua Confirmação.