- DIA MUNDIAL DOS POBRES
A celebração deste ano tem como lema uma passagem do Livro de Ben-Sirá: ‘A oração dos pobres eleva-se até Deus’.
- A oração do pobre eleva-se até Deus (cf. Sir 21, 5). No ano dedicado à oração, em vista do Jubileu Ordinário de 2025, esta expressão da sabedoria bíblica é ainda mais oportuna a fim de nos preparar para o VIII Dia Mundial dos Pobres, que acontecerá no próximo 17 de novembro. A esperança cristã inclui também a certeza de que a nossa oração chega à presença de Deus; não uma oração qualquer, mas a oração do pobre. Reflitamos sobre esta Palavra e “leiamo-la” nos rostos e nas histórias dos pobres que encontramos no nosso dia-a-dia, para que a oração se torne um modo de comunhão com eles e de partilha do seu sofrimento.
- Deus, porque é um Pai atento e carinhoso
para com todos, conhece os sofrimentos dos seus filhos. Como Pai, preocupa-se
com aqueles que mais precisam dele: os pobres, os marginalizados, os que
sofrem, os esquecidos... Ninguém está excluído do seu coração, uma vez que,
diante d’Ele, todos somos pobres e necessitados. Somos todos mendigos, pois sem
Deus não seríamos nada. Nem sequer teríamos vida se Deus não no-la tivesse
dado. E, no entanto, quantas vezes vivemos como se fôssemos os donos da vida ou
como se tivéssemos de a conquistar! A mentalidade mundana pede que sejamos
alguém, que nos tornemos famosos independentemente de tudo e de todos,
quebrando as regras sociais para alcançar a riqueza. Que triste ilusão! A
felicidade não se adquire espezinhando os direitos e a dignidade dos outros.
A violência causada pelas guerras mostra claramente quanta arrogância move aqueles que se consideram poderosos aos olhos dos homens, enquanto aos olhos de Deus são miseráveis. Quantos novos pobres produz esta má política das armas, quantas vítimas inocentes! Contudo, não podemos recuar. Os discípulos do Senhor sabem que cada um destes “pequeninos” traz gravado em si o rosto do Filho de Deus, e que a nossa solidariedade e o sinal da caridade cristã devem chegar até eles. «Cada cristão e cada comunidade são chamados a ser instrumentos de Deus ao serviço da libertação e promoção dos pobres, para que possam integrar-se plenamente na sociedade; isto supõe estar docilmente atentos, para ouvir o clamor do pobre e socorrê-lo» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 187).
- Aos pobres que habitam as nossas cidades e fazem parte das nossas comunidades, recomendo que não percam esta certeza: Deus está atento a cada um de vós e está perto de vós. Ele não se esquece de vós, nem nunca o poderia fazer. Todos nós fazemos orações que parecem não ter resposta. Por vezes, pedimos para sermos libertados de uma miséria que nos faz sofrer e nos humilha, e Deus parece não ouvir a nossa invocação. Mas o silêncio de Deus não significa distração face ao nosso sofrimento; pelo contrário, contém uma palavra que pede para ser acolhida com confiança, abandonando-nos a Ele e à sua vontade. É ainda Ben-Sirá que o testemunha: “O juízo de Deus será em favor dos pobres” (cf. 21, 5). Da pobreza, portanto, pode brotar o canto da mais genuína esperança. Lembremo-nos de que «quando a vida interior se fecha nos próprios interesses, deixa de haver espaço para os outros, já não entram os pobres, já não se ouve a voz de Deus, já não se goza da doce alegria do seu amor, nem fervilha o entusiasmo de fazer o bem. […] Esta não é a vida no Espírito que jorra do coração de Cristo ressuscitado» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 2).
- O Dia Mundial dos Pobres tornou-se
um compromisso na agenda de cada comunidade eclesial. É uma oportunidade
pastoral que não deve ser subestimada, porque desafia cada fiel a escutar a
oração dos pobres, tomando consciência da sua presença e das suas necessidades.
É uma ocasião propícia para realizar iniciativas que ajudem concretamente os
pobres, e também para reconhecer e apoiar os numerosos voluntários que se
dedicam com paixão aos mais necessitados. Devemos agradecer ao Senhor pelas
pessoas que se disponibilizam para escutar e apoiar os mais pobres: sacerdotes,
pessoas consagradas e leigos que, com o seu testemunho, são a voz da resposta
de Deus às orações daqueles que a Ele recorrem. Portanto, o silêncio quebra-se
sempre que se acolhe e abraça um irmão necessitado. Os pobres têm ainda muito
para ensinar, porque numa cultura que colocou a riqueza em primeiro lugar e que
sacrifica muitas vezes a dignidade das pessoas no altar dos bens materiais,
eles remam contra a corrente, tornando claro que o essencial da vida é outra
coisa.
A oração, por conseguinte, encontra o certificado da sua autenticidade na caridade que se transforma em encontro e proximidade. Se a oração não se traduz em ações concretas, é vã; efetivamente, «a fé sem obras está morta» (Tg 2, 26). Contudo, a caridade sem oração corre o risco de se tornar uma filantropia que rapidamente se esgota. «Sem a oração quotidiana, vivida com fidelidade, o nosso fazer esvazia-se, perde a alma profunda, reduz-se a um simples ativismo» (BENTO XVI, Catequese, 25 de abril de 2012). Devemos evitar esta tentação e estar sempre vigilantes com a força e a perseverança que nos vem do Espírito Santo, que é dador de vida.
- Em todas as circunstâncias, somos
chamados a ser amigos dos pobres, seguindo os passos de Jesus, que
foi o primeiro a solidarizar-se com os últimos. Que a Santa Mãe de Deus, Maria
Santíssima, nos sustente neste caminho; ela que, aparecendo em Banneux, nos
deixou uma mensagem a não esquecer: «Eu sou a Virgem dos pobres». A ela, a quem
Deus olhou pela sua humilde pobreza e em quem realizou grandes coisas com a sua
obediência, confiemos a nossa oração, convictos de que subirá até ao céu e será
ouvida.