BEATA CAETANA STERNI
Caetana Sterni viveu
toda a sua vida em Bassano del Grappa, uma antiga e encantadora cidade da
província de Vicenza, Itália. Ela tinha nascido em Cassola, uma aldeia
vizinha, no dia 26 de Junho de 1827, e, aos 8 anos de idade, mudou-se com a
sua família para Bassano. O seu pai, João Baptista
Sterni, era o administrador das propriedades rurais dos Moras, nobres
venezianos, e vivia, confortavelmente, em Ca' Mora di Cassola, com a sua
esposa Joana Chiuppani e os seus seis filhos. Mas, em 1835, teve de mudar-se,
com a família, para Bassano. Aqui, uma série de acontecimentos mudou,
drasticamente, as condições da família de Caetana. De facto, Margarida, a sua
irmã mais velha, morreu aos 18 anos e, na sequência de uma doença muito
dolorosa, morreu, também, o seu pai. O seu irmão Francisco, com o desejo de
se tornar actor, saiu de casa. A sua família ficou em situação económica
muito difícil. Esses factos marcaram a existência de Caetana que cresceu,
rapidamente, ao ter de compartilhar os muitos problemas do dia-a-dia com a
mãe.
Caetana era dotada de uma grande inteligência; era muito sensível e ‘madura’, antes do tempo. Era uma jovem cheia de vida, “ansiosa por amar e ser amada”. A sua educação na fé era sólida e apoiada no testemunho e nos ensinamentos da sua mãe, na oração e na frequência dos sacramentos. Pela sua personalidade e dedicação, conquistou o respeito e o apreço de todos. A sua maneira de ser, alegre e cheia de bom senso, aliada à sua marcante feminilidade, despertou a atenção e a admiração de muitos jovens que sonhavam pedi-la em casamento. Mas, Caetana interessou-se por um jovem empresário, viúvo e com três filhos, que a pediu em casamento. Após um discernimento, consciente e profundo, dos seus sentimentos e das responsabilidades que assumiria, vencendo a oposição do seu tutor, Caetana aceitou a proposta do jovem empresário, Liberale Conte. A jovem noiva, que ainda não tinha completado 16 anos, entrou na sua nova casa e encheu-a com a sua vitalidade. Levou serenidade e alegria ao seu marido e aos seus três filhos que aprenderam a amá-la como sua própria mãe. Quando Caetana descobriu que estava grávida, a felicidade do casal tornou-se completa. Um dia, quando rezava, sentiu uma premonição sobre a morte iminente do seu marido. Caetana ficou tão perturbada que se sentiu "morrendo de coração partido" com a ideia de perder aquele que era, para ela, "mais querido que a vida". Mas, no fundo do seu coração, sentiu uma força que a ajudou a não desesperar e a confiar, inteiramente, em Deus. Infelizmente, a premonição concretizou-se e Liberale, no auge da sua juventude e da sua saúde, morreu após uma breve e dura doença. A jovem esposa viveu horas de terrível angústia pela perda do marido, pela dor dos filhos que ficaram, novamente, órfãos e pelo seu filho que nunca conheceria o pai. Caetana abriu, inteiramente, o seu coração ao amor de Deus e, comprometendo-se com o Senhor, colocou n’Ele a sua confiança e toda a sua vida. Em Jesus, Caetana encontrou as forças para viver, para cuidar dos três pequeninos e levar a sua gravidez até o fim. No entanto, o bebê de Caetana também morreu poucos dias após o nascimento. Começam anos de amarga viuvez. Na verdade, a família do marido não compreende o carinho que liga os órfãos a Caetana e surgem mal-entendidos, suspeitas e calúnias. Ela foi separada das crianças e expulsa de casa. Aos dezanove anos, volta para a sua casa paterna, sendo acolhida pela sua mãe. Apesar desta provação, ela esqueceu-se de si mesma e ajudou os seus enteados a aceitarem a dura separação. Afável mas firme, defendeu os direitos dos menores; perdoou generosamente e obteve a serenidade das duas famílias, com a plena reconciliação. O sofrimento não a derrotou; a sua sensibilidade natural tornou-se presença, capacidade de misericórdia e de solidariedade. Caetana nunca tinha pensado ser uma mulher de prática religiosa. Mas, sendo ainda jovem, e olhando para o seu futuro, rezou para que o Senhor a fizesse saber quem seria o marido que tinha destinado para ela. Mas, é precisamente através da oração que ela percebeu, claramente, que Deus quer ser “o único Esposo da sua alma”. Caetana ficou chocada com esta revelação de Deus. Ela confronta o seu confessor que confirma que se trata de um autêntico chamamento de Deus. Então, Caetana pediu para entrar no Convento Canossiano de Bassano e foi aceite como postulante. Permaneceu aí durante cinco meses, serenos e felizes. Mas, ainda em oração, teve outra premonição que a preparou para a morte da sua mãe, que ocorreu poucos dias depois. Caetana teve de deixar o Convento, para assumir a responsabilidade de cuidar dos seus irmãos mais novos. Durante anos, enfrentou dificuldades, doenças familiares, tristezas e dificuldades económicas. Apesar de tudo, ela conseguiu criar um estilo de vida que a envolvia, espiritualmente. Com frequência, consultava o seu director espiritual e seu confessor; rezava, assiduamente, para saber discernir a vontade de Deus a seu respeito. Com humilde disponibilidade, ela tornou-se, cada vez mais, atenta ao que Ele lhe pedia, no fundo do seu coração, ambém, através dos acontecimentos e das necessidades dos pobres da sua cidade. Quando esteve nas Irmãs Canossianas, com a premonição da morte da mãe, Caetana sentiu, também, que Deus a preparava para trabalhar no Hospício, “para ali dedicar-se totalmente ao serviço dos pobres e, assim, cumprir a Sua vontade”. Caetana guardou esta vocação no seu coração, durante muito tempo, até encontrar coragem para falar dela ao seu confessor, porque lhe parecia uma ideia terrível e estranha. Quando, finalmente, partilhou esse sonho, teve a sensação de que o seu confessor não lhe deu importância. Mas, Caetana, todas as vezes que se cruzava com um pobre sem-abrigo, ouvia no seu íntimo: “Quero-te entre meus pobres”, e dizia: “a ideia de ir trabalhar num abrigo para os pobres sempre me inquietou”. Caetana tem 26 anos quando, finalmente, ficou livre dos compromissos familiares e podia, agora, cuidar de si mesma. Depois de profundo discernimento, partilhou a seu sonho com o jesuíta Padre Bedin. Este padre disse-lhe: “Sim, Caetana, o Senhor quer que vás cuidar dos pobres, no Hospício. Em 1853, “apenas para fazer a vontade de Deus”, Caetana entrou neste hospício para mendigos, que acolhia 115 utentes, em condições miseráveis, “na sua maioria vítimas de desordem e vício”, onde encontrou “desordem e abusos de quase todo o tipo”. Ali permaneceu 36 anos, até à sua morte, num compromisso de serviço e de caridade incansável: nas vigílias, junto do leito dos moribundos; nos serviços mais humildes aos doentes e aos idosos. Todos tratava com dedicação e doçura, típicas de quem serve o Senhor nos pobres. Ela é animada por uma grande confiança em Deus; pelo desejo de ser Sua e de agradá-Lo, em tudo. Aos 33 anos, com o consentimento do seu confessor, Caetana prometeu doar-se totalmente a Deus, “disposta a aceitar tudo o que o Senhor tiver para ela”. Com confiança ilimitada, abandona-se nas mãos de Deus, “instrumento fraco que Ele utiliza para os seus planos”. Ela atribuiu a Deus o nascimento da Congregação ‘Filhas da Divina Vontade’, que ocorreu na simplicidade e no sigilo, com a profissão religiosa das duas primeiras companheiras, em 1865. O nome “Irmãs da Divina Vontade”, sugerido interiormente a Caetana, indica o que deve caracterizar a vida da Congregação: “conformar-se, em tudo, à Vontade Divina, através do abandono total a Deus; dedicar-se, com um santo zelo, ao bem dos outros, dispostas a sacrificar tudo só para cuidar deles”. Como ela, as primeiras companheiras, animadas pelo mesmo espírito, consagram-se à vontade de Deus e dedicam-se ao serviço dos pobres do ‘Abrigo’ e do próximo necessitado, especialmente através da assistência aos doentes, no domicílio, e com outras obras de caridade, segundo as necessidades específicas que surgem. O bispo de Vicenza aprovou as primeiras regras da congregação, em 1875. Caetana faleceu no dia 26 de Novembro de 1889, assistida pelas ‘suas Filhas’ e venerada pelos seus concidadãos. Os seus restos mortais são venerados na Casa-Mãe da Congregação. As comunidades das ‘Irmãs da Divina Vontade’ multiplicaram-se e a congregação está, agora, espalhada pela Europa, América e África. O caminho de santidade que Caetana percorreu é, pela sua essencialidade, um itinerário que pode ser proposto a todos os cristãos: fazer, em tudo e sempre, o que agrada ao Senhor; confiar-se a Ele, com confiança ilimitada, para transformar o mal em bem, no caminho de Jesus. Em 1934, o Papa Pio XI reconheceu a Congregação de direito pontifício, com o nome de “Irmãs da Divina Vontade”. A Madre Caetana foi beatificada, no dia 04 de Novembro de 2001, pelo Papa João Paulo II. Na sua homilia, o Papa disse: “…A beata Caetana Sterni, tendo compreendido que a vontade de Deus é sempre o amor, dedicou-se com incansável caridade aos excluídos e aos que sofrem. Tratou sempre estes seus irmãos com a doçura e o amor de quem, nos pobres, serve o próprio Senhor. Exortava as suas Filhas espirituais a seguir o mesmo ideal - as Irmãs da Vontade Divina - convidando-as, como escrevia nas Regras, "a estarem dispostas e a sentirem alegria por viverem privações, canseiras e qualquer sacrifício para benefício do próximo necessitado em tudo o que o Senhor pudesse querer delas". O testemunho de caridade evangélica, oferecido pela Beata Sterni, convida cada crente a procurar a vontade de Deus, no abandono confiante a Ele e no generoso serviço aos irmãos…”A sua memória litúrgica é celebrada no dia 26 de Novembro. |