Terminou, neste Domingo, 19 de Setembro, a viagem apostólica do Papa Bento XVI ao Reino Unido. Depois do primeiro dia passado na Escócia e dos dois em Londres, o Papa rumou a Birmingham, onde presidiu à Missa da beatificação do cardeal britânico John Henry Newman, uma das maiores figuras eclesiais no século XIX, que o Papa quis apresentar como modelo de pensador e líder espiritual quando a Igreja Católica atravessa momento tão delicado. Perante mais de 50 mil pessoas, na homilia da Missa, Bento XVI sublinhou o profundo sentido, na vida dos cristãos, do domingo, “o dia do Senhor, o dia em que o Senhor Jesus ressuscitou dos mortos”. O Papa evocou, também, uma celebração especial que tem lugar neste dia na nação britânica: a comemoração dos 70 anos da “Batalha da Inglaterra”. Disse o Papa:“Para mim, que vivi e sofri ao longo dos tenebrosos dias do regime nazista na Alemanha é profundamente comovente encontrar-me aqui convosco, nesta ocasião, e recordar tantos dos vossos concidadãos que sacrificaram a sua própria vida, resistindo corajosamente às forças daquela ideologia maligna (…) Setenta anos depois, recordamos com vergonha e com horror a tremenda quantidade de morte e destruição que a guerra traz consigo ao deflagrar… Renovamos o nosso propósito de agir a favor da paz e da reconciliação, em qualquer lugar onde surgir a ameaça de conflitos”.
Referindo-se à figura de John Henry Newman, agora proclamado Bem-aventurado, Bento XVI convidou a prestar glória e louvor a Deus pelas virtudes heróicas deste santo homem inglês. “ Numa Inglaterra com grande tradição de santos mártires é justo e conveniente reconhecer hoje a santidade de um confessor, um filho desta nação, que, embora não tenha sido chamado a derramar o próprio sangue pelo Senhor, lhe prestou contudo um eloquente testemunho ao longo de uma vida dedicada ao ministério sacerdotal, especialmente na pregação, no ensino e nos escritos”.
Referindo-se à liturgia deste Domingo, o Papa afirmou: “O Evangelho de hoje diz-nos que ninguém pode ser servo de dois patrões e o ensinamento do Beato John Henry sobre a oração explica que o cristão é colocado de maneira definitiva ao serviço do único verdadeiro Mestre, o único que tem direito à nossa dedicação incondicionada. Newman ajuda-nos a compreender o que isto significa na nossa vida quotidiana: diz-nos que o nosso divino Mestre atribuiu a cada um de nós uma tarefa específica, um serviço bem definido, confiado unicamente a cada indivíduo (…) O serviço específico a que foi chamado o Beato John Henry Newman comportou a aplicação da sua subtil inteligência e da sua prolífica pena a muitos dos mais urgentes problemas do dia (…) As suas intuições sobre fé e razão, sobre o espaço vital da religião revelada na sociedade civilizada, e sobre a necessidade de abordar a educação de um modo amplamente fundamentado e com um largo horizonte, não foram apenas de profunda importância para a Inglaterra victoriana, mas continuam ainda hoje a inspirar e iluminar muitos em todo o mundo (…) Firmemente contrário a uma visão redutiva ou utilitarista da educação, Newman propunha um ambiente educativo conjugando formação intelectual, disciplina moral e empenho religioso. Nesse sentido, ele desejava leigos crentes e esclarecidos, para formar as novas gerações. Como ele próprio escreveu no seu famoso apelo para um laicado inteligente e bem instruído: ‘Quero um laicado não arrogante, não precipitado nos discursos, não polémico, mas homens que conheçam a sua religião, que nela penetrem, que saibam bem onde se elevam, que saibam em que é que crêem ou não crêem, que conheçam suficientemente o próprio credo ao ponto de poderem dar contas dele, que conheçam bem a história ao ponto de a defenderem’. Hoje, no momento em que o autor destas palavras é elevado à honra dos altares, rezo para que, mediante a sua intercessão e o seu exemplo, todos os que estão empenhados na tarefa do ensino e da catequese se inspirem, com todo o seu esforço, nesta sua visão, tal como se apresenta claramente diante de nós”. ( cf. Rádio Vaticano )
PALAVRA COM SENTIDO
PALAVRA COM SENTIDO
“… O Senhor esteve a meu lado e deu-me força…” (cf. II Timóteo 4, 17)
A segunda leitura da Liturgia do dia apresenta-nos a exortação de São Paulo a Timóteo, seu colaborador e filho dileto, na qual reconsidera a própria existência de apóstolo totalmente consagrado à missão (cf. 2 Tm 4, 6-8.16-18). Vendo já próximo o fim do seu caminho terreno, descreve-o com referência a três estações: o presente, o passado, o futuro.
O presente, interpreta-o com a metáfora do sacrifício: «a hora já chegou de eu ser sacrificado» (v. 6). No respeitante ao passado, Paulo indica a sua vida passada com as imagens do «bom combate» e da «corrida» de um homem que foi coerente com os próprios compromissos e responsabilidades (cf. v. 7); por conseguinte, para o futuro confia no reconhecimento por parte de Deus, que é «juiz justo» (v. 8). Mas a missão de Paulo só resultou eficaz, justa e fiel graças à proximidade e à força do Senhor, que fez dele um anunciador do Evangelho a todos os povos. Eis a sua expressão: «Mas o Senhor assistiu-me e fortaleceu-me, para que, por mim, fosse cumprida a pregação e todos os gentios a ouvissem» (v. 17).
Nesta narração autobiográfica de São Paulo reflecte-se a Igreja (…) Em Paulo, a comunidade cristã encontra o seu modelo, na convicção de que é a presença do Senhor que torna eficaz o trabalho apostólico e a obra de evangelização. A experiência do Apóstolo dos gentios recorda-nos que nos devemos comprometer nas actividades pastorais e missionárias, por um lado, como se o resultado dependesse dos nossos esforços, com o espírito de sacrifício do atleta que não pára, nem sequer diante das derrotas; mas por outro lado, sabendo que o verdadeiro sucesso da nossa missão é dom da Graça: é o Espírito Santo que torna eficaz a missão da Igreja no mundo.
Hoje, é tempo de missão e de coragem! Coragem para reforçar os passos vacilantes; de retomar o gosto de se consumir pelo Evangelho; de readquirir confiança na força que a missão tem em si. É tempo de coragem, mesmo se ter coragem não significa ter garantia de um sucesso. É-nos pedida a coragem para lutar, não necessariamente para vencer; para anunciar, não necessariamente para converter. É-nos pedida a coragem de sermos alternativos no mundo, sem contudo jamais sermos polémicos ou agressivos. É-nos pedida a coragem de nos abrirmos a todos, sem nunca diminuir o absoluto e a unicidade de Cristo, único salvador de todos. É-nos pedida a coragem para resistir à incredulidade, sem nos tornarmos arrogantes. É-nos pedida também a coragem do publicano do Evangelho de hoje, que, com humildade, nem sequer ousava erguer os olhos ao céu, mas batia a mão no peito dizendo: «Ó Deus, tem piedade de mim, que sou pecador». Hoje é tempo de coragem! Hoje é necessária coragem!
A Virgem Maria, modelo da Igreja «em saída» e dócil ao Espírito Santo, nos ajude a sermos todos, em virtude do nosso Baptismo, discípulos missionários para levar a mensagem da salvação à inteira família humana. (cf. Papa Francisco, na Oração do Angelus, Praça de São Pedro, Roma, Domingo, 23 de Outubro de 2016)
